03. Veneno e Antidoto

139 13 11
                                    

Depois que voltamos para sala não vi Jules  nos corredores, só no refeitório mesmo. Lexi está mais desligada depois de comer, o que já me acostumei faz tempo. Adoro quando ela está menos agitada, sempre achei que ela tivesse algum transtorno, talvez hiperatividade.

A aula de matemática é tranquila e Lexi consegue até entender a matéria bem, eu também. Somos horríveis em exatas (matemática ainda nos saímos bem), não é coincidência que participamos de aulas avançadas apenas em matérias de humanas (e linguagens). E são nessas aulas avançadas que meu problema está, Jules Vaughn.

Jules é uma das garotas mais bonitas, não só do colégio, em geral mesmo. Não sei nem porque ainda sonho em beijar ela. Há quase dois anos quando consegui a bolsa parcial nesse colégio tenho essa vontade de beijá-la. A boca dela parecem tão macios, ela tem aquele rosto bonito que eu gostaria de tocar enquanto a beijasse. Os olhos azuis, as sobrancelhas grossas e bem feitas que adoraria olhar mais de perto antes que a beijasse... 

- Rue! - Lexi me dá um tapa no braço. - Temos aula de biologia agora, hoje é sobre as cobras e serp... 

- Répteis! - acabo corrigindo Lexi enquanto juntava o material para seguir para a próxima aula. 

- Saúde! - Lexi brinca, mas ela é tão lenta às vezes que a subestimo e acabo pensando que ela acha mesmo que espirrei.

- A aula é sobre répteis. - corrigo minha amiga. 

Boa parte dos alunos já estavam fora dos seus lugares para ir para a próxima aula, então me apresso para fazer o mesmo. 

- Eu sei, duh! 

_________________________

A aula sobre répteis acaba virando uma aula sobre animais peçonhentos, venenos e remédios. A professora de Biologia é a melhor dessa escola e ninguém pode negar isso e nem o quanto ela ama explicar e estender suas aulas. 

- Já sei como superar meu problema! - Lexi dá um salto da cadeira, ela sempre fica com sono ao ver as pessoas falando muito e nossa professora é a rainha da explicação. 

- Que problema? - Lexi pergunta, nem parece que já falei desse maldito problema várias vezes, mas a garota também não é adivinha. 

- Jules Vaughn. - falo o óbvio. 

- Aaah! E como? 

- Quando somos envenenados temos que usar o antídoto e esse antídoto é feito de veneno, então eu... 

- Vai tomar veneno? - por que sou amiga dessa lerda mesmo? Ah é, Lexi é minha única amiga. 

- Não, Lexi! Ficou louca? - acabo rindo, senão perco a paciência rápido com ela. - Vou beijar Jules para conseguir esquecê-la, o lance do veneno e antídoto que falei agora. 

- Aaaaaa... 

- Não entendeu? - ajeito meu óculos no rosto tentando observar minha amiga caso ela tente mentir que entendeu. 

- Não! 

- Lexi! - suspiro para explicar mais uma vez. - Jules é o veneno e o beijo dela é o antídoto que vai me fazer desencantar dessa queda que tenho por ela. 

- E como vai fazer isso, doida? - Lexi está com aquele olhar que diz que estou sonhando muito alto, o pior que nem errada de olhar assim ela está. 

- Vou na festa da empresa dos pais dela, é um baile de máscaras, lembra? 

- Vou perguntar de novo: como? 

Penso antes de responder, não tinha pensado nessa parte do plano até aquele instante. Uma luz irradia da minha cabeça, não literalmente porque não sou uma animação, e consigo achar a solução. 

- Cassie me deve uns favores. 

- Não gosto disso. - Lexime olha preocupada. - Você tem que parar de assistir aos filmes da Disney! Está se achando a própria... Como é o nome daquela princesa? 

- Bela? 

- Não? 

- Tiana? 

- Por acaso você quer beijar a Jules ou um sapo? 

- Então a Branca de Neve? 

- Não, Rue! 

- Aquela lá... 

- Qual? - quase grito com ela, ficando irritada, por ela não dizer logo o nome da tal princesa. 

- A dos ratos, carroça de abóbora... - Lexi parece ter um bloqueio para pensar. 

- CINDERELA! 

- Essa! - sorriu aliviada. - Ufa! Achei que fosse falar o nome da Moana agora e te daria um soco porque eu não lembrava o nome dessa princesa aí. 

- É carruagem e não carroça! 

- Ah, tanto faz! - sou obrigada a rir, depois disso eu volto a prestar atenção na aula de Biologia. - Bippity-boppity-boo... Cinderela! 

Lexi solta do nada e me assusta, em sua mão uma caneta que finge ser uma varinha mágica. Acho que o cérebro dela é seletivo quanto a hora de funcionar de forma correta, mas isso só faz dela a pessoa mais engraçada e maluca que conheço, eu amo minha melhor amiga da forma doida que é. 

- Que isso? 

- Sou sua fada madrinha. - responde sorridente, apenas de não estar certa sobre meu plano, Lexi já comprou minha ideia e vai me ajudar nessa loucura. 

__________________________

Na hora do refeitório encontro Kat e procuro saber mais do baile de máscaras da empresa dos pais de Cassie. Minha ex, Billie, me procura e vamos conversando corredor a fora. 

- Está afim de matar aula comigo, Rue? - Billie quase me prensa contra os armários e entendo claramente o que ela quer. 

Antes toparia matar aula com ela, apesar de namorar durante 12 dias nós passamos meses juntas. O namoro terminou rápido porque Billie foi morar com o pai devido suas rebeldias e está de volta. 

Não resisto em tocar o cabelo ondulado dela, está mais escuro que antes, num tom de castanho claro. 

- Desculpa, mas... 

Jules Vaughn está passando e observo ela olhando rapidamente para a bunda de Billie. Poderia olhar para minha, mas tudo bem, minha ex é bonita mesmo. 

Jules sorri discretamente na minha direção e levo um susto quando Billie beija quase a minha boca. 

- Você está em outra. - Billie comenta perto da minha orelha. - Melhor, você ainda está na mesma... Boa sorte, Rue. 

Sei que ela está olhando para Jules e sinto vergonha afinal estou na mesma há quase dois anos.

(Des)encanto. - Cinderela Moderna Onde histórias criam vida. Descubra agora