A Casa Sombria

"The Shadow House"

Por Gabriel Rodrigues

A Casa Sombria, uma das várias lendas urbanas contadas em Gallifrey para assustar crianças, um local desconhecido até mesmo ao Alto Conselho dos Senhores do Tempo. Um local que, segundo as lendas, abriga Senhores dos Tempos que sofreram erros durante o processo de regeneração. Os mais antigos dizem ser uma lenda real, mas ninguém nunca a viu. Senhores do Tempo que regeneraram sem cabeça, sem os corações, sem cérebro, e há quem diga que houve um caso de um Senhor do Tempo regenerar em um corpo meio Dalek. Mas tudo não passa de lendas, certo? Não, errado. Esta Casa é real, tão real como qualquer outra, criada pelo próprio Rassilon, escondida nas profundezas da cidade de Arcadia, em um universo de bolso trancado pela Grande Chave de Rassilon. Um lugar de atmosfera pesada, povoado com aberrações. É isso o que as lendas dizem sobre este lugar. Lendas sempre surgem de algum acontecimento verídico, e aqui não foi diferente.

Mas, que indelicado da minha parte, nem me apresentei. Perdoe-me. Bom, meu nome é... hum.... É, não me lembro. Não sei quem sou, qual meu nome, e por que estou aqui te contando este relato pessoal. Eu não me lembro de nada. Não me lembro de ter tido uma infância. Na verdade, não me lembro de quase nada do meu passado. Tudo é muito sombrio, enevoado, esquecido. Quando fui encontrado em Gallifrey, no deserto, pela Guarda da Chancelaria, meu bio-dado constatou ser de outro Senhor do Tempo conhecido no planeta. Fui imediatamente submetido a diversos exames físicos e mentais, até confirmarem que meu bio-dado é o mesmo de um Senhor do Tempo renegado conhecido como Doutor. Nunca havia ouvido falar dele até esse momento. Fui levado até o Alto Conselho, e quando o Lorde Presidente Rassilon entrou na sala e me fitou com seus olhos penetrantes, virou-se para o Chanceler ao seu lado e sussurrou:

"Para a Casa Sombria"

Não sabia o que era, mas senti minha espinha gelar e meus corações desacelerarem. Utilizando sua manopla de Validium, o metal vivo, fui imediatamente teletransportado para uma casa escura, horripilante, com vários andares e móveis sujos, velhos e surrados pelo tempo. Os moradores pareciam seres tirados dos pesadelos de crianças. O primeiro que encontrei não tinha cabeça, mas que estranhamente continuava vivo. A maioria das pessoas, acho que posso dizer assim, eram deformadas, faltavam órgãos, pedaços de membros, alguns não tinham boca ou olhos. Foi a sensação mais horripilante que senti na vida.

Quando estava prestes a surtar, encontrei um homem sentado em frente a grande lareira da sala comum da casa velha, suja e com cheiro de mofo e poeira. Ele, aparentemente, parecia não ter deformidades. Parei ao seu lado e perguntei seu nome.

"Eu não tenho um nome, nunca tive. Mas pode me chamar de Dois".

"Por quê Dois?" perguntei. Que tipo de nome era esse? E foi então que ouvi sua voz mudar, ficar mais grave e ecoante.

"Por quê estou em minha segunda encarnação. Por que mais seria?". E então sua voz voltou ao normal, mais aguda e sibilante. "Novatos!"

"Onde estou? Que lugar é esse? Quem são esses seres?"

"Calma lá cara, eu sou um só. Uma pergunta de cada vez" e então sua voz volta a ficar grave e ecoante "Na verdade você é dois." e ele cai na risada maléfica, numa mistura de vozes graves e agudas, uma risada que ecoou pela sala. Saí correndo de lá.

Continuei perambulando pela casa, dando de cara com diversos seres de aparência desfigurada. Eu juro para você que vi um Dalek com pernas e braços iguais aos meus. Sei o que é um Dalek pois já vi um morto nos desertos de Gallifrey. Ao chegar na cozinha, encontro uma senhora baixinha, de cabelos brancos enrolados e macios. Ela vestia um dos roupões vermelhos habituais dos Senhores do Tempo. Eles existem aos montes na Capital. Ela estava preparando a refeição do dia, pelo que pude presumir. Me aproximei e ela disse, sem nem se virar para mim: