DOMINGO

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                       "mordidinhas"

Sobre uma lua cheia bem dourada, com um céu negro de poucas nuvens como plano de fundo. Um mar calmo de ondas baixas, mas, barulhentas ao quebrar na praia. Dois jovens caminham juntos. Um deles de mais idade, aparentemente uns 18 anos, de corpo alto, cabelos negros nem tão curtos e nem tão cumpridos, pele clara e olhos escuros. O outro, um rapaz, de pouca estatura e volumoso, talvez uns 15 anos. Rosto com sardas, cabelos ruivos e uns olhos castanhos claros bem fininhos, porém suas grossas lentes davam a sensação de olhos enormes e medonhos.

— Aonde vamos? - perguntou o rapaz menor, mas não obteve resposta... - cara, você é estranho, não disse uma só palavra desde... Desde o momento em que acordei. Nem seu nome me disse, fica por aí olhando em todos os cantos, como se estivesse procurando alguém. Quem você procura, sua mãe, pai ou irmão? Eu não me lembro de ver muitos adultos, até porque estávamos indo... Bom, não importa muito, né, não chegamos onde deveríamos estar. Talvez esteja procurando... a namorada. Não é mesmo?

— É melhor você se afastar moleque! - respondeu em tom de arrogância sem olhar para o menino
— Uau, olha só quem decidiu falar agora. - o rapaz falou acelerando os passos, passando o outro e parando em sua frente. Estendeu a mão e se apresentou. - Eu me chamo Davi - disse, e com a outra mão arrumou os óculos. Fez tudo isso na intenção de construir de alguma forma um laço com o esquisitão.
Davi é um daqueles jovens nerds com um comportamento diferente do padrão nerd. Normalmente os nerds evitam falar ou fazer contato com outras pessoas que não são de sua bolha, mas o Davi fazia questão em falar com todo mundo, sem exceção. Chegava a ser inconveniente e irritante. Devido a essa atitude peculiar para quem ele é, fez com que nem os nerds gostassem dele, ele não tem amigos, literalmente. Mas nunca desiste de fazer um.
O rapaz continuou andando, passou por Davi ignorando o cumprimentar e a apresentação que ele havia feito. Em seguida parou e sem se virar perguntou se Davi gostaria de ajudá-lo

"Oras, que sujeito mais estranho viu, eu hein!" pensou Davi

— Com o quê? - perguntou, recolhendo o braço erguido em vão.
— Preciso que me ajude a achar alguém.
— E como ela é?
— Como assim ela? Eu não disse que era uma mulher
— hum... Então, como ele é? Perguntou Davi.
— Não é ninguém em específico, pode ser qualquer um, que seja mais velho que você.
— Tudo bem, eu te ajudo. Mas por que alguém mais velho do que eu?- Davi aceitou porque tinha medo de afastar ainda mais o esquisito. Davi fazia de tudo para ter amigos, já passou por situações inimagináveis para ter um colega. Aquele típico jovem carente que aceita tudo para não perder alguém. Alguém que nunca teve...
— Assim que se fala moleque. Mas chega de perguntas!
— Vamos nos separar em algum momento para encontrar as pessoas?

O esquisito, olhou o menino por um instante enquanto pensava

— Você não sabe o que significa não fazer perguntas?! Nãoo, não vamos nos separar por enquanto. Você fica comigo até que mais pessoas apareçam.

Davi ficou tão contente de não ser descartado com facilidade como sempre acontecerá que, de certa forma, o esquisitão passou a ser alguém admirável para ele, apesar de suas grosserias.
Os dois caminharam juntos por uns longos minutos. Davi se manteve calado por um bom tempo, o que surpreendeu bastante o esquisitão, porem, felicidade dura pouco, Davi volta a tagarela
— Sabe, estava aqui pensando - E por que não continua só pensando?
— Não consigo, nunca consegui, já tentei diversas vezes fazer isso para não incomodar os meus amigos... - Disse isso com a voz tão emotiva que o outro rapaz por um instante acreditou que ele estava chorando, mas para sua felicidade, era só tristeza. Sentindo que o clima estava melancólico, o esquisito abre uma chance de conversa para que talvez o clima melhore
— Então, o que você estava pensando?
— Ah sim. Estava pensando, e se apenas nós dois estivermos nessa ilha? Isso não seria nada bom, ficar no meio de uma ilha, que fica em lugar algum, com um cara, e o pior um cara esquisito igual você que nem ao menos me disse seu nome. Olha, eu não sou supersticioso nem nada, mas que azar o meu em.
O esquisito ficou incrédulo com as palavras do Davi "Que moleque mais abusado, como eu quero socar ele" imaginou
- Eu me chamo Dallas. Azar tem eu de estar nesse lugar, acho que taquei pedra na cruz...
- Você acha que aqui tem animas grandes, tipo... Predadores?
- Acho! - com rispidez
- No máximo deve ter animais pequenos aqui, essa ilha não me parece tão grande. - falou para si mesmo Davi.

Não muito distante, Júlia desperta, escutando algo sonoramente diferente, mas parecia um dialeto. Confusa, ela tenta se reposicionar na árvore, e gritar - Saaam - Ou melhor dizendo, tenta gritar por que quando tentava seu corpo respondia com forte dor no abdômen. Sua voz começou alta e foi abaixando gradativamente - Filho, eu estou aqui... - disse ela baixinho, perdendo as forças e quando sentiu que iria apagar de novo, teve uma ideia. Já que não poderia gritar, decidiu bater palmas. Então se ouve as forte colisões de suas mãos uma com a outra, com toda a sua força, e fez isso o máximo que pode até que toda a sua dor a venceu novamente e ela desmaia, mais uma vez. Porém, antes de apagar, quando seus olhos iam se fechando, ela viu pessoas, ou eram crianças, ela não saberia dizer. Acontece que essa gente não estava na embarcação. Provavelmente, foi só mais uma alucinação.

Próximos dali, Davi e Dallas ouviram uns estalos, quase inaudíveis. Pararam e se concentraram no som, estavam tentando localizar de que lado vinha, e deduziram que vinha do sudeste da ilha. Chegaram em um ponto que tinha muita relva, e abriram caminho com os pés, ao chegarem do outro lado se depararam com uma mulher dormindo aparentemente encostada em uma árvore. Davi se aproximou lentamente, e com delicadeza, tocou o braço dela. - moça, acorde. - ela abriu lentamente os olhos e disse:
- você não é meu filho...
- Filho? Socooorro... Fujaa! - tentou gritar, agitada e perturbada, agarrando o pequeno Davi.
Davi, não fez muito caso disso e se virou para Dallas
- Oque fazemos agora? Ela está muito abalada!
Dallas estava com uma áurea que preocupava bastante o pequeno Davi. Alguma coisa estava errada, os dois notaram isso. Mas Dallas parecia ter sofrido mais com isso.
— Ei Dallas!! - Gritou
O rapaz parece ter voltado do seu pesadelo
— Davi, vamos sair daqui, vamos levar ela para praia agora!
Julia já estava apagada de novo
— Moça, consegue me ouvir? Acorde.- sacudiu o rosto de Julia com delicadeza e essa despertou
— Consegue se mover?
- Eu, acho que não... - Dessa vez ela estava calma, serena. Outra pessoa.
Dallas então, decide acelerar as coisas sem muita balela, o que será que o incomoda tanto?

Davi se assustou com aquilo. Porém, nada disse, só ajudou. Acontece que os dois conseguiram tirar a mulher daquele lugar, com dificuldades, mas conseguiram. Repousaram em um arco de pedras que havia ali na praia, contudo, para a felicidade dos dois rapazes, aquele lugar já era habitado. Uma linda garota estava ali, repousada no arco, com um ar de medo, ela sorriu amigavelmente para eles...

— Eu me chamo Anastácia. Que bom que não estou sozinha nesse lugar horrível
— Eu sou Davi, esse aqui é o Dallas, meu amigo - disse o Davi se aproximando e forçando um abraço que Anastácia, por sua vez, cedeu.
— E ela, quem é?
— Bom, não sabemos. Só mais uma sobrevivente. Ela está ferida, mas Dallas e eu iremos dar conta. Não é amigo?
Dallas estava examinando o corpo da Julia com bastante preocupação e em seguida disse:
— Não faça promessas, Davi. Não somos heróis.
Anastácia, achou o rapaz um tanto quanto bem rude! Mas não disse nada.
— Davi, o que você reparou quando encontramos ela?
— Como assim?
— Não notou nada de estranho no lugar onde ela estava?
— Bom, eu acho que não, desculpas. Eu fiquei muito preocupado com ela para ser honesto. Tinha algo para se preocupar além dela? - Disse o Davi circulando com o dedo em volta da orelha, olhando para Anastácia, como quem quisesse insinuar que o companheiro está lelé da cuca. Anastácia sorrir. Dallas não virá isso, pois estava de costas para os dois, agachado e analisando a Julia.
- o lugar estava todo remexido, parece que tiveram uma luta ali. Uma não, diversas.
- Não reparei. Foi isso que te preocupou?
- Não apenas isso, olhe - apontou os lugares onde tinha feridas abertas, que, por sinal, recentes. Havia, também, pequenas mordidas.
Os dois jovens se aproximam com muita curiosidade e preocupação e veem tudo aquilo que o Dallas mostrará
- As mordidinhas, eu não entendi, só uma criança de uns 4 anos teria uma boca assim - Disse Anastácia confusa
- Não faz sentido... - Disse Davi perplexo e incrédulo com o que via
- O pior de tudo sabe o que é?
- o quê?
- Não foram crianças de 4 anos... - Respondeu Dallas.
Reinou um silêncio banhado de medo.
Anastácia então sugere que poderiam ter sido macacos, pequenos. Dallas diz que isso foi a primeira coisa que se passou na cabeça dele, porém macacos são tão barulhentos e curiosos... Realmente o rapaz está certo, o que será que aconteceu, quem é ou quem são os autores dessas mordidas?

— Vocês devem descansar, já é hora de criança está dormindo - Disse Dallas tentando quebrar o gelo
- Eu estou realmente cansado- disse Davi coçando o braço gordo.
- Eu também, mas como vai ser isso? Digo, vamos nos reserva, para que todos descansem?- Perguntou Anastásia olhando fixamente para o Dallas.
— Exatamente. Mas a menor suspeita eu vou acordar vocês, e vocês também faram o mesmo nas suas respectivas vezes. Combinado?
— Certo
— Certo.
— Durmam ao lado dela, mantenham o calor humano.

Os dois iam se ajeitando para dormir até que alguém se aproxima deles. É uma garota.

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