doom patrol

四

    Abriram a porta, Claire usou sua chave para isso, adentraram na sala com um sorriso de uma orelha a outra, tinham tanto a contar sobre aquele dia que não aguentavam mais nem um segundo de boca fechada. Passaram a manhã inteira separados e nem puderam falar muito no ônibus já que K-Harlot reapareceu, dessa vez para questionar ao motorista onde estava sua amiga de cabelos cor-de-rosa e também para dar em cima dele, afinal ela não perdia uma oportunidade. Já era de tarde por volta das 3:00, o trabalho deles começava as 6:00, então até lá tinham tempo suficiente para fofocar sobre tudo o que rolou naquele dia
    — Acho que esse foi o melhor dia que eu já passei em uma escola na minha vida, melhor que o Halloween de 2019! - Kayo jogava sua mochila no chão e se sentava no sofá
    — De longe, meu amigo, de longe! - Claire fazia o mesmo seguida por Louise, os três sentaram no sofá e ficaram ali conversando
    — Eu tava tão assustada antes, mas porra, que dia ein - Louise lembrava do seu mini surto antes do sinal soar para o primeiro horário
    — Eu conheci um garoto - Kayo não se aguentou, embora acreditasse fielmente na maldição das garotas (já que sempre que contava para ela sobre alguém que gostava, alguma merda enorme acontecia, exemplo: Andrew Thompson, aliás, nem falamos sobre ele ainda né?)
    Andrew Thompson foi o aluno novo quando eram freshmans (9º ano), ele havia vindo de uma cidade do sul da Virginia, e era tão, tão lindo que não demorou nem uma semana para toda a escola rastejar aos seus pés. Kayo não se abalou quando o viu pela primeira vez, o problema começou mesmo quando Andrew lhe pediu uma caneta emprestada, Kayo ficou surpreso, Claire e Louise ficaram surpresas, a sala inteirar praticamente ficou de boca aberta, “ele tá pedindo uma caneta emprestada pro esquisito?” todos os olhares falavam isso, por algum motivo desde esse dia Kayo se sentiu profundamente atraído por Andrew, já que de todos os garotos da escola ele fora o único que dirigiu a palavra para ele sem lhe insultar ou falar “já fez suas macumbas hoje?”. O tempo passou e Kayo foi alimentando aquele sentimento, estava tão cego que nem percebeu que Andrew mal olhara na sua cara depois daquele dia, com certeza haviam falado para ele sobre os esquisitos, e Claire e Louise sentiram isso, mas Kayo não
    Um belo dia, perto do baile de primavera, Kayo estava totalmente disposto a convidá-lo para ser seu par, então no recreio decidiu ir lá, mesmo com as amigas dizendo que aquilo não seria uma má ideia, seria uma péssima ideia, mas ele foi
    Andrew estava sentado em uma das mesas do refeitório cercados pelas líderes de torcida que mexiam no cabelo loiro falso e praticamente deixavam a bunda exposta de tanto que levantavam a saia, Kayo chegou com um “oi”, e logo todos os olhares da mesa se voltaram para ele, o julgando totalmente, Andrew ao menos foi educado ao responder, o que deixou Kayo ainda mais apaixonado e não hesitou mais nem um estante para falar, “é que...eu queria saber se você não quer ir no baile comigo?”, ele foi bem direto, da mesa se ouviu alguns risos abafados, talvez estivessem rindo com pena, Claire e Louise viam tudo de uma parede ali próxima, Andrew abriu um sorriso, era simplesmente lindo, aquilo fez as pernas de Kayo tremerem, as líderes de torcida deram espaço e o garoto de levantou indo na direção de K, “eu não saio com aberrações do seu tipo nem se me pagassem” e riu jogando seu milk-shake de chocolate no cabelo de Kayo, que abriu a boca ao sentir o líquido gelado escorrendo pela sua cara, ao mesmo tempo que tinha seu coração sendo triturado em pedacinhos
    Claire foi correndo avançar em Andrew, nem mesmo Louise conseguiu a segurar, ela foi rápida e assim que chegou perto do galã da escola lhe deu um soco tão forte que o fez cair no chão, o refeitório que ria alto da cena com Kayo se calou, mas não demorou muito para que vibrassem, desejando uma briga, Andrew se levantou ainda grogue, tentou retribuir o soco de Claire, mas recebeu mais um que o fez desmaiar, “BASTA!”, a voz da diretora ecoou de forma assustadora pelo salão, Claire sabia que estava fodida, por mais que estivesse defendendo o amigo, a diretora a odiava, e sempre passaria a mão na cabeça do riquinho metido e totalmente influenciável Thompson, era óbvio que só havia feito aquilo com Kayo pela fama, e pelo visto havia funcionado.
    — O nome dele é Bernardo - Kayo continuou falando, seus olhos brilhavam, talvez por causa do garoto, mas com certeza o motivo era mais voltado a escola em geral - Um fofo, me ajudou quando viu que eu estava prestes a desmaiar por não estar encontrando uma cadeira e passou o recreio inteiro comigo, até me convidou pra sair qualquer dia desses acreditam? - Ele falava como se aquilo fosse surpreendente, e era, pelo menos para eles que só tiveram desgosto em Occoquan
    — Sério? - Claire falava animada - Eu também, quer dizer, tinha essa garota do meu lado e tal, aí ela disse que gente podia dar uma volta na cidade, sabe? Pra conhecer - Kayo aumentava o sorriso indicando que achou aquilo super legal, os dois voltaram seu olhar para Louise esperando mais uma nova amizade
    — Eu fiz amizade com uma fraternidade - “que?” os dois responderam ao mesmo tempo - Mas tipo eu não vou me mudar, é só amizade mesmo, a gente conversou e provavelmente essa semana eu vá tomar sorvete com elas - Agora sim eles sorriram, e não pararam de sorrir
    — Ainda não tô acreditando que a gente conseguiu, e você nem surtou - Claire falou para Kayo
    — Por pouco... - Ela e Louise riram do amigo, estavam felizes, muito felizes, haviam passado pelo primeiro dia de aula intactos, e até conseguiram fazer amigos
    — Mas olha - Louise começou - Embora eu talvez vá andar com outras pessoas, quero que saibam que eu nunca vou abandonar vocês sério, vocês são minha prioridade suprema - Os dois concordaram como se quisessem falar a mesma coisa
    — Acho que nós já passamos da fase amigo - Claire fala   
    — É, agora somos mais irmãos - Kayo fala, aquilo fez os três rirem
    — Ai mano, falar essa palavra nesse contexto é tão heterotop - Louise ria
    — É muito é cringe, isso sim - Claire comenta Louise fez um movimento com as mãos como se falasse “também!” mas não conseguia parar de rir para falar
    Depois das risadas, continuaram falando sobre seu dia, sobre Bernardo, sobre Otávia, sobre Sabrina e cia, sobre Megan, sobre seus colegas de sala, sobre quão grande e pequeno ao mesmo tempo o refeitório era, sobre o pátio, sobre aquele prédio enorme que nenhum deles sabia o que era e sobre tantas outras coisas, falaram tanto que nem viram a hora passar, já faltava menos de uma hora para eles irem trabalhar, então correram para ir se arrumar