Capítulo 2

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3 de Setembro de 1939

Meus dedos passavam pelo chiffon do vestido bordado que àquela altura eu achava ridículo, como toda manifestação de fortuna ou bem estar. A cada segundo de espera, mais eu alargava os buracos do bordado, tensa.

As vozes do corredor, das pessoas sentadas ao meu lado e em frente a mim, eram femininas, infantis, masculinas, apressadas e todas falavam apenas de um assunto. O mesmo assunto que me levou até ali.

— Por favor, Lady Delaney.

Eu não respondi, mas encarei o homenzinho que me chamava.

— Lady Isabel Delaney? — Ele me encarou — Se puder entrar.

Me levantei.

— Perdão, Lady Delaney é minha mãe, não tenho o título.

Me ergui e vi que as vozes pararam. Todos os olhos do corredor estavam em mim.

— Certamente. — O homem fechou a porta quando entrei.

Seu escritório minúsculo mal cabiam dois arquivos e sua mesa. A janela estava pintada de preto por fora e com um saco de areia apoiando o vidro, uma defesa comum para aqueles tempos.

— Bom, Lady Delaney, você sabe que o que está fazendo não é certo.

— Sim. — Sentei na cadeira que me apontou — Mas poucas pessoas corretas vem te procurar, não é doutor Kavinsky?

Ele me encarou sobre os óculos redondos e suspirou olhando de volta os documentos.

— São tempos muito escuros que se aproximam de nós, senhorita. Os alemães estão poderosos. Acredito que, de todos os documentos que falsifico aqui no meu escritório, este é o mais certo de todos, é um dos únicos que não é de fuga.

— Você parece ser um dos únicos que acredita no rumor da guerra.

O homem, que passeava os olhos pelo documento, parou e fixou em um ponto único no papel.

— Eu vim para esta terra fugindo de uma ameaça há muitos anos. Infelizmente, eu sei diferenciar o que é um rumor e o que é um fato. Estamos em guerra e nunca esteve tão claro quem é o inimigo.

— Foi assim em 18? Na Grande Guerra?

O homenzinho não moveu os olhos.

— Vem sendo assim desde sempre. O único problema é que demoramos para aceitar quem é o verdadeiro inimigo e quem é o amigo. Nos perdemos nas narrativas, nas propagandas, na ficção.

— E você, doutor, de que lado está? Espero que do lado inglês.

— Estou do lado de onde durmo. Se é aqui, na Gordon Street, então estou do lado de Chamberlain.

Assenti em silêncio. Me agradei com aquele diálogo, afinal não era sempre em que eu poderia ser tão incisiva em um assunto.

Ele me entregou um envelope e eu o abri. Lá dentro tinha minha foto, com a braçadeira da cruz vermelha e o descritivo como "Isabel Delaney, enfermeira assistente, 21 anos".

— Você vai enfrentar um campo de batalha, senhorita. — Dr Kavinsky continuou. — Homens pela metade, máscaras de gás, pragas para todo lado. Tem certeza que é isso que espera?

— Eu quero poder ajudar quem precisa, Dr. Kavinsky. Meus pais lutam sem parar desde a Guerra do Rife. Não posso ficar aqui parada enquanto o mundo toma decisões.

— Quantos anos faltavam ainda para você completar os estudos? Ou a maioridade?

— Isso é realmente relevante?

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⏰ Última atualização: Dec 28, 2020 ⏰

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