Prólogo

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1943

Ele sorriu para mim, como quem sorri após dizer "Nos vemos daqui a pouco, meu amor", antes de sair para o trabalho ou para buscar pão na padaria. Eu nunca me esqueci daquele sorriso.

Me afundei em seu peito, naquela malha áspera dos casacos baratos dos partisans que cheirava a óleo de baleia e poeira. Ele me abraçou com força. Suas mãos grandes, quando não estavam segurando uma Ruby Pistol ou um rifle Meunier, me abraçavam com toda força que tinha. Eu sentia os dedos dele me pressionando, querendo entrar na minha pele a todo custo como se a força que brotasse deles fossem capazes de me proteger de um bombardeio.

Antes de fechar os olhos, encarei a braçadeira da bandeira com as cores que não eram do meu país, mas eram da luta pelo nosso direito de existir, pelo direito de resistir: vermelho, pela fraternidade, azul, pela igualdade e branco pela liberdade.

Antes de morrer, eu sabia que estava do lado certo da história.

— Eu te amo. Je t'aime.— Ele me falou, em inglês e francês, nossas duas línguas. Eu poderia ouvir aquele homem em todos os idiomas, sua voz foi feita para conversar todas as línguas e falar todas as palavras já criadas.

Eu respondi, mas o barulho do estouro do nosso túnel encobriu minha voz. Tijolos se desprenderam da parede e bateram contra nós, o teto rompeu e encheu o túnel da luz do dia.

De todos os ferimentos que tive nesse dia, o que mais me doeu foi não saber se ele me ouviu.

De todos os ferimentos que tive nesse dia, o que mais me doeu foi não saber se ele me ouviu

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