Capítulo Único

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Me espreguicei na cama e estiquei os braços até o outro lado apenas para descobrir que estava sozinha em meio aos lençóis, só então abrindo os olhos e sentindo-os lacrimejar por causa da luz que entrava através das finas cortinas. Deixei o olhar percorrer lentamente o quarto do meu namorado, decorado apenas com o necessário, prateleiras de madeira clara repletas de troféus e capacetes e alguns quadros com imagens de ídolos e equipes de fórmula 1, mas que conseguia passar com exatidão a essência de Charles. Era como se eu pudesse sentir a presença dele ali comigo. Suspirei, sentindo o pouco do cheiro dele que restara em seu travesseiro.

Senti o corpo começar a despertar ao ser atingida pelo aroma delicioso de café, que Charles nem tomava, mas fazia questão de deixar sempre pronto para mim, que era viciada. Decidi levantar, percebendo a brisa morna que entrava pela janela que cobria quase uma parede inteira do quarto, mas que ainda me fez procurar pela camisa preta de Charles para jogar sobre os ombros. Apesar de já estarmos juntos há alguns meses e de eu saber que estávamos sozinhos, isso ainda não era suficiente para que eu saísse pelo apartamento só de calcinha. Enquanto caminhava descalça pelo corredor dos quartos, terminando de fechar os botões da camisa, escutei uma melodia suave vinda de um dos cômodos mais à frente: o piano. Sorri comigo mesma e, passando rapidamente pela cozinha apenas para encher uma xícara grande de café, me dirigi até a porta da sala de estar, onde ficava o belíssimo piano de cauda branco.

Não entrei no cômodo, observando de longe em silêncio enquanto Charles tocava impecavelmente uma melodia que eu não conhecia, mas que achava linda. Talvez eu fosse um tanto quanto imparcial, afinal qualquer conjunto de notas que ele tocasse soaria perfeito para mim. A sala era intensamente iluminada graças a uma parede inteira de vidro que ficava bem atrás do piano, com duas portas que se abriam para um amplo terraço que tinha uma vista incrível da cidade, se estendendo até a marina. A luz dourada do sol de verão formava uma espécie de aura cintilante ao redor de Charles e do piano, tornando aquela visão angelical e misteriosa ao mesmo tempo.

Charles grunhiu ao errar uma nota, me fazendo abafar uma risada, e alongou o pescoço e as mãos antes de começar a música novamente. Apesar do pequeno erro, ele tocava com uma postura serena e graciosa, os músculos dos ombros visivelmente relaxados, bem diferente da atitude intensa e sempre alerta que ele apresentava durante as corridas. Essa era uma das nuances de Charles que eu mais gostava: a delicadeza com que seus dedos passeavam pelas teclas do piano, em contraponto com a rigidez necessária para o esporte que ele tinha como profissão. Suspirei, um pouco mais alto do que eu pretendia, chamando a atenção de Charles e fazendo-o virar para trás, me flagrando encostada no batente da porta.

Amore! – ele exclamou, abrindo um sorriso tímido para mim. – Eu não sabia que você estava aí.

– Eu sei que você não gosta de plateia – falei, dando alguns passos para dentro da sala e me aproximando de onde ele estava. – Mas eu não pude resistir. Você sabe que eu adoro te ver tocar.

Charles deu uma risadinha fraca e baixou os olhos, suas bochechas ficando levemente coradas. Parei junto a ele e, passando os dedos pelos seus cabelos, me abaixei apenas o suficiente para tomar seus lábios macios com os meus, sentindo os braços dele enlaçarem a minha cintura. Quando endireitei o tronco, Charles encostou o rosto na minha barriga e me encarou com seus olhos verdes, não deixando que eu me afastasse dele.

– Eu posso tocar um pouco mais se você quiser – ele murmurou, acariciando as minhas costas.

– Sim, por favor – respondi animada.

Fiz menção de me distanciar para lhe dar espaço, mas Charles me puxou pela cintura para que eu me acomodasse no seu colo, com muito cuidado para não derrubar o café que ainda tinha na minha xícara, me fazendo dar risada. Passei a mão livre pelos seus ombros e encostei a testa em sua têmpora, dando um beijo na sua bochecha macia e inspirando fundo o cheiro natural que emanava dele, uma mistura do aroma cítrico do seu shampoo com algo a mais que eu não sabia explicar, mas que só ele tinha. Charles sorriu, fazendo aparecer suas covinhas, e começou a tocar, com um braço atrás de mim e o outro na frente, me mantendo segura entre os dois. Eu sentia seu peito subir e descer num ritmo tranquilo enquanto observava os movimentos dos seus dedos ao longo das teclas, criando uma melodia doce que parecia acariciar os meus ouvidos. O som do piano somado ao conforto dos braços de Charles ao meu redor, com a blusa de moletom macia que ele vestia, quase conseguia me colocar para dormir novamente. Mas bastava que seus olhos verdes encontrassem os meus para eu voltasse a me sentir completamente desperta.

Permanecemos exatamente daquele jeito por vários minutos, mas eu poderia ficar ali para sempre. Charles fazia pausas entre uma música e outra para roçar o nariz no meu pescoço, me fazendo cócegas, para logo em seguida me provocar arrepios ao beijar minha clavícula, meu maxilar e minha boca. E então voltava a tocar, concentrado, enchendo o meu peito com uma paz que nunca antes eu havia sentido. Charles Leclerc era o único capaz de provocar tantas reações diferentes no meu corpo em um espaço de tempo tão curto, e eu estava viciada em sentir cada uma delas.

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𝑝𝑖𝑎𝑛𝑜 || ᴄʜᴀʀʟᴇs ʟᴇᴄʟᴇʀᴄOnde histórias criam vida. Descubra agora