O céu estava azul. Azul tempestuoso, cinza. Cinza como os meus olhos. Encarei o meu reflexo na porta espelhada. Meus cabelos negros e pele alva davam-me um ar quase aristocrático. Sempre achei que a beleza ajudava na minha máscara social, e com vinte e três anos estava em meu auge. Inteligente, bonito e rico. O que mais poderia desejar?
— Você ouviu, Cristian? — A voz de Henrique me trouxe de volta à realidade. Voltei o olhar indagador a ele. — Gisele foi para um intercâmbio em Paris, você não vai sentir saudades?
— Gisele já não me interessa mais. — Fui sincero, dando de ombros em seguida. Esqueci por um momento que Gisele era prima dele, por sorte, o negro de olhos escuros e boa aparência não pareceu se importar, rindo alto quase que imediatamente.
— Você é imune a relacionamentos. — Ele comentou divertido, como se fosse uma grande piada. Idiota.
Henrique Pelegrini era meu amigo, ou algo assim. Mas, muitas vezes, eu só queria que ele calasse a boca. Além disso, Gisele era bonita, mas fiquei com ela somente algumas vezes, nada importante. Eu nem ao menos gostava dela, a garota era irritante, ainda mais que o primo.
— Vou fazer uma festa na sexta. — Arthur sentenciou enquanto sentava-se ao nosso lado.
Henrique ficou animado com a perspectiva de outra das grandes festas do amigo de cabelos loiros e olhos verdes. Arthur era conhecido pelo seu dinheiro em abundância e festas marcantes.
Eu os conhecia desde criança, Henrique e Arthur sempre me foram próximos. Não era por coincidência que estudávamos na mesma Universidade, éramos do mesmo ciclo social, e a Universidade Ruschel apresentava os melhores e mais caros cursos do país.
Henrique voltou a falar, gabando-se das suas conquistas na última festa de Arthur. Pouco me importava. Henrique falava demais, enquanto Arthur falava de menos. De todos os meus amigos, este último era o menos inconveniente.
Enquanto eles falavam, meus olhos voltaram-se para aquela que se tornaria a minha obsessão. A mulher caminhava em passos apressados, por pouco não esbarrou nas pessoas.
Por que a pressa, garotinha?
Apesar dela não estar mais no meu campo de visão, permiti que meus pensamentos a perseguissem. Eu precisava conhecê-la melhor.
◆◆◆
Passei os últimos dias observando-a, sempre distante, vez ou outra ela percebia, mas logo desviava o olhar, visivelmente incomodada. Confesso que era divertido vê-la desconcertada.
As aulas tinham iniciado há uma semana, e todos os dias, desde então, ela passou a maior parte do seu tempo na biblioteca ou em laboratórios de informática. Por favor, Alice precisava descobrir o que era diversão, talvez eu pudesse ajudá-la com isso... antes de me deleitar com o seu sangue e roubar sua alma.
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Psicose [Degustação]
Mystery / ThrillerEntenda-me. Não é algo que escolhi, é algo que necessito. Eu preciso sentir a vida esvair de minhas mãos, do modo sujo, do sangue quente, do olhar de medo. Preciso caçar. Mas quem seria a presa? Foi quando a vi. (...) Uma onda de excitação percorre...