02.

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O som do relógio ecoa por toda sala em silêncio, enquanto a professora explica sobre alguma coisa que envolve matéria e suas propriedades. A partir do "Bom dia!", eu não acompanhei mais nada do que ela disse.

Apoio minha cabeça nos ombros de Simon, enquanto ele desenha calmamente algo indecifrável numa folha de caderno, mas já é possível ver que vai ser um desenho bonito por conta dos traços bem feitos. Ele sempre gostou muito de desenhar e também sempre soube desenhar muito bem.

— Simon? — O chamo, fazendo ele resmungar alguma coisa. — O que você vai fazer amanhã?

— O que tem amanhã? — Ele pergunta sem prestar atenção.

— Seu aniversário?

— Meu aniversário? — Ele finalmente para de desenhar e olha pra mim. — Ah, meu aniversário...

É, humanamente possível, alguém esquecer o próprio aniversário?

— Não irei fazer nada. Você sabe, não gosto de aniversários. — Ele continua. — E eu também nem me lembrava que amanhã já era dia 10 de outubro.

— E você vai fazer o que? — Pergunto novamente, o provocando.

Ele respira fundo, segura meu rosto com as duas mãos e aproxima seu rosto do meu, deixando nossas bocas com milímetros de distância.

— N-a-d-a. — Ele sussura pausadamente. Meu corpo fica tenso enquanto eu tento focar em seus olhos ao invés de sua boca extremamente próxima da minha, me fazendo perder totalmente o pouco de sanidade mental que ainda me resta.

Me afasto dele, segurando a risada e levo minha atenção a professora escrevendo no quadro, afim de aliviar um pouco meu constrangimento. Escuto Simon dando uma risada baixa e no mesmo instante, ele já está de volta no seu desenho.

Me levanto e caminho em direção a professora pra pedir para ir ao banheiro. Ela deixa.

Na real, eu nunca vou ao banheiro realmente ou beber água. Simplesmente vou andar pela escola. É muito divertido.

Caminho calmante pelo corredor longo, completamente vazio e por incrível que seja, também bastante silencioso.

Observo os armários que são decorados de acordo com o seu gosto. Cada um decora do jeito que quer e do jeito que gosta. Alguns pintados, outros sem nada, outros com palavras e símbolos, outros com vários desenhos aleatórios.

Um deles, é o que mais se destaca, é o da Rachel Bittencourt. Foi uma estudante que infelizmente, se suicidou no final do ano passado. Ela era bastante conhecida na escola, amiga de todo mundo mas passava por muitos problemas em casa e além de tudo, sofria de depressão.

No dia da sua morte, ela veio pra escola. E foi como qualquer outro dia. Brincou com todo mundo, se divertiu, dançou porque ela amava e fazia parte da monitoria de dança. Talvez fosse aquela sua despedida e ninguém percebeu.

A escola ficou de luto por três dias. Hoje o armário dela, que era decorado com várias rosas, é aberto com várias cartas e mensagens, com fotos e objetos delas. É uma espécie de memorial.

Dou um pequeno sorriso ao passar perto do seu armário e do cheiro agradável que tem ali por conta das flores que sempre estão sendo repostas e sigo meu caminho pelo corredor silencioso.

(...)

Ele se concentra na caneta azul em suas mãos, sem dar muito ideia pro que eu falo. Parece disperso e em outro planeta. Não que isso seja novidade, é normal dele, mas hoje ele parece estar não só em outro planeta, mas em outra galáxia.

Simon está sentado na poltrona preta, perto da porta. Todo o seu quarto é preto e branco. As paredes são pretas, o teto branco, a cama preta, o guarda roupa branco. Sem contar, o cheiro forte do seu perfume que fica espalhado por todo o quarto que constantemente ataca minha rinite alérgica mas não deixa de ter um cheiro muito bom.

— O que você tem?

— O que? — Ele me olha.

— O que você tem?

— Nada!? — Ele afirma em um tom de pergunta.

— Tem certeza?

Um pequeno biquinho de incerteza se forma em seus lábios e ele dá de ombro, jogando a caneta pro lado e se levantando da poltrona. Ele caminha até a cama e se joga do meu lado.

— Acho que é sono.

— Sinon, você acabou de acordar.

— E o que quê tem? — Ele dá uma risada. — Vamos dormir. — Ele abraça minha cintura, fechando os olhos.

Me deito ao seu lado, deixando sua cabeça apoiada em meu peito enquanto acaricio seus cabelos rosas e lisos, calmante. Eu sei que ele não está nos seus melhores dias, ele não precisa falar. Conheço Simon há anos e ele nunca soube disfarçar muito bem.

Não posso ficar pedindo incansavelmente pra ele me contar o que está acontecendo. Acho que não é isso que ele precisa. Precisa de colo, de um abraço, do silêncio e, se ele quiser, conversar.

— Eu te amo. — Ele diz, quase em sussuro.

— Eu também te amo.

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⏰ Última atualização: Oct 09, 2023 ⏰

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