"Nem sempre o amor da sua vida,
é o amor para sua vida."Mais um dia. Ou o certo seria menos um dia? Não importa. O que importa é eu estar quase morrendo de tanto correr pra entrar no horário certo da aula.
— Não fecha ainda. — Grito para uma das tias do portão, que ao me avistar, cruza os braços.
— Isso são horas, Kira Oliver?
— Não, mas rolou um imprevisto e eu me atrasei um pouquinho.
Na verdade, me atrasei uma hora. Mas em minha defesa, foi por conta do horário que fui dormir ontem a noite porque maratonei os filmes de Harry Potter. Qual é!? Era domingo, não tinha o que fazer. Quem nunca fez isso que atire a primeira pedra.
Dou um beijo rápido em suas bochechas e entro pelo enorme portão, caminhando devagar pela grama verde sintética até a escadaria que leva para dentro da escola. Aparentemente, minha pressa foi embora depois de lembrar que as primeiras aulas são de matemática.
Estudar gramática? Okay. Estudar quem colonizou a Europa? Okay. Estudar o uso dos porquês? Okay. Estudar regra de três? Não está okay.
Caminho em passos mais devagar e curtos pelo corredor vazio, apenas com eco dos alunos gritando de dentro das salas. Eu ainda defendo minha tese que os alunos vão colocar fogo nessa escola um dia.
— "Fiquei sabendo que vai se mudar daqui
Pra bem longe de mim
E eu nem sei como reagir..." — Cantarolo a música que toca em meus fones, enquanto pego meu material no armário.Sempre fui uma boa apreciadora de música. Porque ao mesmo tempo que escuto Lana Del Rey, posso também está escutando Chitãozinho e Xororó. E isso é saber apreciar música.
Bato a porta com um pouco de força, e me viro dando de cara com a diretora parada como uma estátua atrás de mim, fazendo eu recuar um pouco pra trás por conta do susto. Eu hein!
— Posso saber o que a senhorita está fazendo fora do horário de aula?
— Cheguei atrasada. — Forço um sorriso a olhando de cima a baixo discretamente, ou pelo menos tentando ser discreta. Blusa xadrez e saia de bolinha. Por que choras, esquadrão da moda?
— Todo dia?
— Tive que acompanhar meu pai no médico.
E eu nem tenho pai.
— Pra sala. Agora.
Faço um pequeno biquinho, desviando dela e continuo minha caminhada até chegar na porta da minha sala. Dou duas batidinhas até escutar um "Entre". E como de costume, tenho aquela agradável atenção de todos olhando pra mim. Me sinto famosa.
Me sento em uma cadeira ao lado de Simon, jogando minha mochila no chão e botando meus livros em cima da mesa branca e grande. Estalo meus dedos e levo meu olhar pra Pâmela. Ótima pessoa e ótima professora. Mas misericórdia! Eu não entendo sequer uma palavra do que ela fala.
— Simon. — Cutuco ele, fazendo seu olhar sair do celular lentamente e repousar em mim. — Vai tomar no cu.
Ele me lança um olhar de tédio e joga uma bolinha de papel em mim. Óbvio que se eu chegasse pra qualquer pessoa falando isso mereceria, no mínimo, uma porrada. Mas é Simon, não é qualquer pessoa. Somos melhores amigos desde os 4 anos.
Um fator importante: Comecei a gostar dele quando tínhamos por volta de nove anos e embora eu não entendesse muito bem aquele sentimento, eu entendia perfeitamente que eu não deveria estar sentindo aquilo por ele. Então me fiz de maluca e pelo que percebi, me faço de maluca até hoje em relação a esse sentimento.
Conforme fomos pegando idade, era mais difícil de lidar com esses sentimentos. E até hoje é, mas não é nada impossível. Eu gosto dele mas amo sua amizade e prefiro preservar isso ao me declarar e correr o risco de perder a sua amizade. E além de tudo, nunca nem cheguei perto de conseguir falar sobre isso com ele.
(...)
— Segunda-feira, exatamente às 20h:45min, eu descobri que é impossível engolir e respirar ao mesmo tempo. — Simon diz olhando de forma confusa pro seu celular.
— Beleza, mas desde quando você tem essa tatuagem de urso no pescoço? — Pergunto encostada no meu armário vermelho, olhando curiosa pra tatuagem que eu nunca percebi antes.
— Desde ontem a noite. — Ele dá uma risada, conectando o celular no carregador. — Eu estava com Miguel, bebendo. E aí, ele perguntou se eu queria fazer uma tatuagem. E ele fez.
— Miguel é tatuador?
— Boa pergunta.
Dou uma risada, me aproximando dele que está sentado na minha cama, analisando mais de perto a tatuagem. Eu sabia desde que vi ele hoje de manhã que tinha algo de diferente. Como não percebi que era um urso no seu pescoço?
— Eu achei muito bonita. Aleatória, mas bonita.
— Mesmo? Aisha me xingou de todas as formas possíveis, dizendo que ficou horrorosa e que não gostou.
Meus olhos reviram, automaticamente, ao escutar "Aisha". É a namorada dele. E não é nem porque sou apaixonada por Simon, mas essa garota é uma chata. Nada está bom, sempre está criticando e colocando Simon pra baixo.
Por ele ter depressão o que, definitivamente, ele não precisa é de mais gente o colocando pra baixo. Eu nunca apoiei e até hoje eu não entendo o porquê ele ainda está com ela.
Chata, metida, egocêntrica, insuportável e ninguém tira da minha cabeça que o nome dela parece um espirro.
— Manda ela ir pra casa do...
— Não não, Kira. — Ele balança a cabeça negativamente. — Cadê os bons modos?
— Ah. — Dou uma risada. — Você sabe onde eles estão.
Ele dá uma risada baixa, se deitando e me puxando pra deitar no seu peito. Ficamos olhando pro teto em silêncio. Meu teto é preto com algumas estrelas que brilham no escuro. Adoramos ficar olhando pra ele em silêncio. É um dos nossos hobbies. E um dos nossos gostos em comum, é o amor pela noite.
Eu, na maioria do tempo, me sinto bastante culpada pelo o que sinto por ele. É como se eu tivesse malícia no meu próprio melhor amigo. Mas não é isso. Não exatamente.
Eu não sou amiga dele esperando que a gente vá se apaixonar, casar e ter 3 filhos e um cachorro. Isso é uma consequência dessa minha paixão platônica por ele. Eu sou amiga dele porque ele me entende, como ninguém entende. Nós dois temos uma conexão que não se pode explicar e eu valorizo nossa amizade mais que qualquer coisa porque é uma muito difícil de ter isso com alguém. Seja da forma que for.
Eu não me imagino namorando com ele, apesar de obviamente querer. E não consigo me imaginar sem essa amizade de forma alguma.
E por mim, está tudo bem sofrer um pouquinho. Um dia, com toda certeza do mundo, irei superar.
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Simon
Teen FictionCapa feita pela: @ammynesia ESSE LIVRO APRESENTARÁ GATILHOS!⚠️ Quando você está apaixonado por alguém, fica bem na cara. O sorriso bobo, a sensação gostosa de ter aquela pessoa perto, o toque, o beijo, borboletas no estômago... E foi assim que Kira...