Prólogo

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Laura narrando:

Dor, era tudo o que sentia naquele momento, uma intensa e terrível dor ! Era como se meu peito estivesse pegando fogo, minhas pernas eu nem sei se ainda estavam lá, minha cabeça girava e eu sentia o sangue subindo por minha garganta, me fazendo tossir secamente para que eu colocasse ele para fora.

Como isso aconteceu ?

Ian, aonde está Ian ? Será que ele... Não, ele estava aqui a um minuto, ele não pode ter sido arremessado para fora enquanto o carro capotava. Tento gritar seu nome mais nenhum som saia da minha boca, somente pequenos gemidos de dor, nada mais.

Deus, por que isso aconteceu ?

E então um alívio invade meu peito quando vejo meu marido deitando no chão, do lado de fora do carro, ficando ao meu lado pegando em minha mão que estava livre e lhe dando um beijo desesperado. Estava de ponta cabeça, nosso carro havia derrapado na estrada e capotado várias e várias vezes, foi impossível de contar.

— Laura, vai ficar tudo bem ouviu ? — Disse Ian chorando, enquanto dava outro beijo em minha mão — A ajuda está vindo, aguente firme.

— Ian... Eu não con-consigo respirar direito - Falo com algumas lágrimas caindo, misturadas com o sangue que parecia sair da minha cabeça e com o meu peito cada vez mais ardente e pesado — Como ?

— Eu também não faço ideia de como isso aconteceu meu amor, deve ter sido o freio...

— Ian, eu sinto muito - Falo sussurrando, em meio a dor e desespero, eu só queria que aquilo parasse - Eu acho que... Não vou conseguir aguentar.

— Não diga isso ouviu ?! Você vai ficar bem, nós vamos ficar bem ! - Disse aflito, como ver ele daquele jeito acabava comigo.

Mais era a verdade, não podia ser médica mais sabia que minha situação era de mal a pior. Já não sentia minhas pernas, sentia o sangue escorrendo do topo da minha cabeça até o chão e meu peito ardendo como um fogo infernal, só dificultando minha respiração.

Eu não queria isso, mas meu fim estava chegando.

Pensei em meus filhos, quem cuidaria dos meus meninos agora ? Crystal, como ela vai lidar com a adolescência sem a mãe dela ? Como Samuel vai ficar sem mim ? Como os dois vão ficar ? Deus, eu não queria deixá-los.

— Ian... Eu te amo - Digo com dificuldade, ouvindo o amor da minha vida soluçar sem parar.

— Não diga nada, economize suas forças - Disse ele passando levemente seu dedo indicador em meus lábios, como se aquilo fosse me calar.

— Muito obrigada pela a vida maravilhosa que você me deu, pela a família extraordinária que criamos e principalmente, por ter me amado profundamente durante todos esses anos - Digo chorando, pegando com força sua mão.

— Você me fez o homem mais feliz desse mundo Laura - Disse Ian sorrindo em meio às lágrimas.

— Obrigada por não ter desistido de mim depois de tantos nãos que eu te dei quando nos conhecemos - Digo sorrindo fraco - Se tivesse como voltar no tempo, eu teria feito tudo igual, totalmente igual.

— Não fale assim, você não está se despedindo de mim ouviu ? - Perguntou aflito.

Eu queria tanto atender esse pedido, mas eu estava me sentindo tão cansada, isso estava me cansando, eu só queria... Dormir.

Ian solta minha mão e tenta desprender meu cinto, enquanto ele tentava eu fui soltando gemidos de dor, como se meu corpo pedisse para que ele não me tirasse dali. Queria sair de dentro daquele carro, se fosse para morrer, queria morrer nos braços dele, sentindo seu calor.

Ele puxa a fivela do cinto fortemente, arrebentando, ele me puxa cuidadosamente para fora do carro e então começo a sentir a dor ficando cada vez mais forte, como se me partisse ao meio. Ian encosta suas costas no carro e me ajeita em seu colo, me segurando com os braços para que minha cabeça ficasse encostada em seu peito.

Ian abaixa um pouco sua cabeça para encostar na minha, me trazendo uma imensa sensação de conforto.

Ouço seu coração batendo levemente em seu peito, não conseguia ver a imensidão de seus ferimentos mais sabia que ele estava em uma condição um pouco melhor que a minha.

— Ian...

— Shii ! - Disse baixo, me dando um beijo na cabeça - Descansa meu amor, está tudo bem, eu estou com você.

— Promete que... Vai cuidar das crianças - Peço, começando a sentir meus olhos pesando.

— Eu... Eu prometo meu amor, nós vamos ficar bem - Disse com a voz embargada, tossindo secamente em seguida. 

E então começo a sentir meus olhos ficando cada vez mais pesados, sentindo a dor sumindo aos poucos e minha respiração ficando cada vez mais devagar, sentindo a dormência atingindo todo meu corpo e os batimentos do meu coração ficando cada vez mais lentos.

— Você vai ser sempre o grande amor da minha vida Laura - Falou Ian aflito, beijando o topo da minha cabeça e deixando sua lateral do rosto encostada ali.

Aquilo foi a última coisa que ouvi.

Então me entreguei totalmente a morte, senti meus olhos se fechando aos poucos e a vida saindo de dentro de mim, ouvi pequenas sirenes ao fundo mas me concentrei somente nos batimentos do coração de Ian, era aquilo que me trazia conforto agora.

E foi ali, nos braços do meu grande amor, que minha história nesse mundo teve um ponto final. Não senti medo e nem desespero, tudo que senti foi uma imensa paz se apossando de mim, como se minha jornada tivesse sido cumprida.

Mesmo com esse fim, não teria mudado nada da minha história com Ian porque, apesar de tudo, minha vida foi ótima. 

Interligados  (1° Livro - Amores Intensos)Onde histórias criam vida. Descubra agora