O dia que você me fez sangrar

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Caio, já tinha saído á horas, e nada de me dar notícias, ele disse que ia sair pra beber com os amigos, mas não falou que ia demorar tanto. A comida que eu fiz pra ele já esfriou, essa não é a primeira vez que ele demora de chegar em casa. Eu não pensei que ia ser assim quando aceitei vir morar com ele.

Eu escuto o carro dele entrar na garagem, quando olho pela janela e o vejo, percebo que ele está claramente bêbado. Quando ele entra pela porta, e vê que eu não estou nada feliz com o horário em que ele chegou, já abre aquele sorriso sínico e faz uma cara de deboche.

-É o que?, Tá achando que eu tenho medo de cara feia?

-Ta me achando com cara de palhaço, Caio?, Chega 1:30 da manhã em casa e ainda debocha da minha cara, eu mereço mesmo.

-Esquenta minha comida e para de reclamar vai.

-Não vou esquentar porra nenhuma, esquente você!

-Eu vou tomar um banho, e quando eu sair quero meu preto feito, em cima da mesa, e faz sem falar muito por que hoje eu tô sem paciência, para não ouvir reclamar.

Ele vai para o banheiro, e eu vou esquentar a maldita comida dele, palhaço, deve estar achando que sou empregado dele. Quando ele sair desse banheiro, ele vai ouvir e não vai ser pouco.

-Já tá mais calmo?- Caio pergunta com deboche quando chega na cozinha.

-Calmo o caralho, amanhã é sábado mas eu ainda trabalho. Não posso ficar acordado até esse horário esperando você chegar, fico preocupado de ter acontecido alguma coisa já que você nem se incomoda de dar notícias.

-Não sou criança, não tenho que te dar satisfação de onde estou, e que hora vou chegar.- quando ele fala isso eu vejo uma marca roxa no pescoço dele, parecia um chupão.

-Que chupão é esse Caio?- digo já puxando a camisa dele para ver melhor, com muito ódio. Não é a primeira vez que eu vejo ele marcado.

-Que chupão? Tá maluco? Me solta.- ele diz já me empurrando, eu recuo com um pouco de medo, pois já conheço a natureza agressiva dele. Mas não posso viver assim, com medo de apanhar do meu próprio namorado.

-Esse aqui no seu pescoço, com quem você tava? Você tá me traindo, Caio?- falo já gritando, e ele levanta bravo.

-Para de maluquice, me deixa em paz caralho, já falei que não tava com ninguém.- ele joga o prato no chão, e sai em direção ao quarto.

-Você não vai virar as costas pra mim e sair assim não, você só sai quando me disser com quem você tava.- quando eu pego no braço dele para parar ele. Ele vira já com a mão fechada e me dá um soco. Eu caio no chão com as mãos em cima do vidro quebrado, do prato que ele jogou no chão.

-Já falei pra me soltar caralho! Não tenho que te dar satisfação, não sou criança.- ele fala isso e vai em direção ao quarto, me deixando no chão, com o nariz quebrado e a mão cortada.

Quando eu percebo meu sangramento, levanto, pego meu celular que está na sala, tento desbloquear com a digital, mas não funciona por causa do dedo cortado, tento digitar a senha mas estou tremendo muito, e não consigo, eu começo a chorar, e tento de novo desbloquear com a senha, quando eu consigo, ligo direto para Bianca.

-Vitor, oque foi? Já são quase duas horas da manhã, aconteceu alguma coisa?- Bianca me diz, Com voz de sono.

-Amiga, só vem me buscar, por favor, e me leva pra um hospital, vem rápido e não pergunta muita coisa, por favor.- digo já em desespero, chorando mais do que antes.

Pego meu celular, meus documentos e a chave de casa. Vou para o portão esperar, Bianca, chegar. Ainda bem que ela ganhou um carro do pai dela, como presente de aniversário. Se não teria que esperar um Uber.

Bianca, não demora a chegar, eu entro no carro, ainda chorando um pouco. Ela não me faz uma única pergunta, até porque eu nem saberia como responder. Nós chegamos na upa do bairro, o que não demorou muito.

-Vem amigo.- diz Bianca abrindo a porta do carro e me ajudando a descer. Ela caminha abraçada comigo, até que chegamos na recepção e como eu estava sangrando, a moça me colocou como prioridade.

Em 5 minutos eu fui atendido, por uma enfermeira, ele começou desinfetando a área e tirando os cacos de vidro da minha mão.

-Bianca, pega água pra mim por favor?.

-Claro, já volto.

Quando a enfermeira viu que estávamos sozinhos, ela começou a fazer perguntas.

-Você vai me dizer oque aconteceu? Você foi assaltado? Quem fez isso com você?.- eu entrei em Pânico, não queria que ela soubesse quem fez isso, não quero que ela chame a polícia, isso só ia deixar ele com mais raiva, e ele ia descontar tudo em mim depois.

-Eu caí. Derrubei um prato, escorreguei, bati o nariz e cai com as mãos em cima do vidro quebrado.

-Garoto, essa não é a primeira vez que eu atendo um caso de "queda" aqui, eu sei que alguém fez isso com você, mas eu só posso te ajudar se você me contar oque realmente aconteceu.

-Não aconteceu nada, eu juro. Eu caí.- eu já tinha parado de chorar, para disfarçar meu desespero e evitar perguntas. A enfermeira não acreditou em mim, mas como eu não contei a verdade, ela parou de perguntar.

-Aqui a água.- ela me entrega o copo plástico e senta em uma cadeira do meu lado.

-Os curativos nas mãos já estão feitos, agora é o esperar o médico chamar, pra fazer o raioX do nariz, e ver se tem alguma coisa quebrada ou se só saiu do lugar.

-Tá certo, obrigada moça.- Bianca fala por mim.

A noite foi longa, depois que tirei o raioX ainda esperei bastante até o médico me chamar.

-Vitor, o nariz não quebrou, só saiu do lugar mesmo.- depois de dar uma olhada rápida no raioX, ele diz e vem na minha direção.

-O que o senhor vai fazer?- Eu pergunto quando ele coloca a mão no meu nariz.

-Vou colocar no lugar, fica parado que vai ser rápido.- Quando ele fala isso eu fico com medo, e pego na mão de Bianca.

Ele fez força, e depois do estalo, e uma dor forte, ele colocou um Band-aid no lugar que estava cortado.

-Pronto Vitor, como foi só uma queda, você tá liberado.

Eu e Bianca, vamos em direção a saída, e aquela enfermeira me para.

-Ultima chance garoto, oque realmente aconteceu?.

-Já disse, eu caí.

Ela balança a cabeça em negação, e volta ao trabalho. Quando entramos no carro eu percebo que já está quase amanhecendo.

-Vai querer ir lá pra casa? Ou quer que eu te leve de volta?.

Como eu não queria dar suspeita de que estava com medo de voltar pra casa, recusei o convite, e ela me levou pra casa.

Antes de descer do carro eu peguei na mão dela, olhei em seus olhos e agradeci por tudo que ela fez por mim hoje. Ainda olhando em seus olhos eu me despedi, mas no fundo queria ter pedido Socorro.

Quando entro em casa, ela está silenciosa, resolvo limpar a bagunça que ficou na cozinha, depois de terminar percebo que já amanheceu, tomo um banho, visto minha roupa de ir ao trabalho, e saio mesmo faltando duas horas para que o escritório abrisse. Eu só não queria estar em casa quando ele acordasse.

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⏰ Última atualização: Jan 03, 2021 ⏰

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