CAPÍTULO 3 - Alicia

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Sim, aquela não havia sido a primeira vez que eu tinha transado com o Jamie, caso você esteja se perguntando isso.

E não me chame de vadia, upor que isto é algo que eu não sou. Só por que eu transo quando tenho vontade, não quer dizer que "puta" seja oúnico adjetivo que possa me definir. Acho engraçado como as pessoas simplesmente julgam as outras por aquilo que estas um dia fizeram de pior. Nem de pior: do que a sociedade julga pior! Por exemplo: se eu ler muitos livros, dificilmente alguém iráme parabenizar pelo tal feito. Não seria reconhecida como uma pessoa que gosta de histórias, de me aventurar pelas páginas de um romance, ou até mesmo como uma garota que apenas gosta de sonhar. Não.

Mas se eu transo quando me der vontade, as pessoas não perdem a chance de me chamarem de puta. Puta, vadia, prostituta, xota de aluguel, cachorra sem vergonha, entre tantos outros apelidos e insultos. Eu havia os escutado inúmeras vezes, geralmente no colégio, quase sempre pelas costas. E me importava com esses apelidos. Me importava e ainda me importo, pois não admito o ridículo pensamento de que uma pessoa não possa simplesmente transar quando tem vontade. (Repensando a frase: eu não admito o ridículo pensamento de que uma garota não possa transar quando tem vontade, sem acabar sendo julgada por aqueles adjetivos que eu já disse).

A primeira vez que perdi a minha virgindade foi durante uma festa de aniversário da Caroline, a chefe das líderes de torcida do meu colégio. Na época, eu havia em torno dos catorze anos e era apenas uma adolescente normal, que ouvia as amigas contarem, eufóricas, como era a sensação de transar pela primeira vez. Eu também era uma integrante das líderes de torcida da minha escola, o que significava de certo modo que eu era um tanto popular. Andava com o "topo da pirâmide" do colégio, sentava sempre na mesma mesa no refeitório (composta cem por cento de atletas e líderes de torcida) e participava das mesmas conversas idiotas e sem fundamento - além de rir de coisas que quase sempre não eram divertidas ou engraçadas.

Tudo começou numa sexta-feira, quando eu, Caroline e o resto das líderes estávamos ensaiando uma coreografia em frente ao campo de futebol do colégio, enquanto os jogadores treinavam para o jogo do dia seguinte. O dia estava mais quente e úmido do que o normal e por conta disto, encerramos o nosso treinamento mais cedo.

Todas nós estávamos muito cansadas, então decidimos sentar um círculo no gramado para iniciarmos uma coisa que chamávamos de Hora da Fofoca. A Hora da Fofoca era, bem... uma hora da fofoca. Porém, com um pequeno diferencial: quem apenas participava eram as líderes de torcidas e todas as Horas da Fofoca geralmente aconteciam após o nosso treinamento. A pessoa que tivesse algo de intrigante e interessante para contar, batia duas palmas e a Caroline dizia "Que a fofoca esteja sempre ao seu favor" (uma frase inspirada de outra do livro Jogos Vorazes), dando assim a permissão da pessoa contar para o grupo. Outra regra da Hora da Fofoca era que a fofoca não podia ser sobre ninguém do grupo (mas era claro que isto acontecia clandestinamente, na ausência da garota da qual a fofoca era destinada).

Hoje me dói saber que eu participava desta coisa ridículamente detestável.

Então, eu e as meninas nos sentamos sob o gramado verde e bem aparado para iniciarmos mais outra sessão de vocês-sabem-o-que. Eu, como sempre, não estava escutando uma palavra do que elas diziam: minha atenção se voltava para o campo, onde Jamie e o resto do time de futebol realizam mais um treino puxado. Observei todos os jogadores: a forma como eles corriam, as coisas que gritavam um para os outros ("PELO OUTRO LADO, SEU IDIOTA! PELO OUTRO LADO!") e a forma como simplesmente se comportavam. Só voltei minha atenção quando escutei uma das meninas chamando pelo meu nome.

- Ah, o que? - perguntei, confusa.

- Você não escutou o que acabei de falar sobre a mãe da Keke. - afirmou Lopez, meio chateada.

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