Anos após derrotar o Pai e salvar Amestris, Edward Elric julgava remota a possibilidade de sofrer uma nova tragédia, quando vê-se diante de um trauma já conhecido, porém muito mais intenso.
O que será dele ao enfrentar, mais uma vez, a crueldade do...
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As unhas pintadas em tom de azul um pouco mais claro que o das orbes escondidas atrás das pálpebras. Atentava-se a aquele mínimo detalhe enquanto acariciava a mão levemente pálida. Os cabelos estavam soltos, ainda na mesma posição que ele havia colocado quando ela chegou no quarto.
Estava mais tranquilo ao vê-la dormir serenamente, mesmo que aquele local fosse o último lugar onde gostaria de estar. Olhando-a dessa forma, quase conseguia esquecer de tudo que acontecera.
Quase.
Até a tormenta de duas noites atrás inundar seu coração, trazendo novamente as lágrimas mais desesperadas que alguém poderia chorar. Estas que, lutou a madrugada inteira para que não caíssem mais. Mas era impossível, a dor excruciante no seu peito era tanta que não conseguia fazer nada além de chorar em silêncio, engolindo os soluços, pois não queria acordá-la para aquele pesadelo. Pelo menos ela deveria ser poupada por mais um tempo, depois de todo o trauma que sofreu.
Edward só queria estar tão adormecido quanto Winry, em um sono profundo, com os céus pintados pela escuridão de um sonho triste. Seria muito mais fácil se pudesse simplesmente acordar assustado e receber o acalento das mãos outrora quentes que segurava até dormir. No entanto, tinha plena consciência de que aquela era a realidade, por mais cruel que fosse, quase como uma brincadeira de mal gosto do destino que ele protelou em aceitar. A sua ficha não tinha caído até o momento em que a levaram para o centro cirúrgico, mesmo que tivesse se preparado — ou pelo menos tentado — psicologicamente para essa possibilidade, mesmo que tivesse visto todo aquele sangue no banheiro quando ela o chamou em prantos.
Era difícil, torturante aceitar que teria de passar por aquela dor de novo.
Secou rapidamente as lágrimas na manga da camisa assim que ouviu uma batida leve na porta. Ao se virar, viu pelo vidro quadrado a silhueta do homem que esperava há horas a fio. Levantou da cadeira, olhando mais uma vez para a mulher adormecida no leito, antes de dirigir-se à saída do quarto, fechando o portal atrás de si com cautela.
— Bom dia, Senhor Elric — disse, antes mesmo que Edward pudesse fazer alguma das milhões de indagações que rondavam sua mente.
— Bom dia — respondeu, apenas por educação, visto que estava passando por um dos piores dias da sua vida, senão o pior.
— Apesar de já terem trazido a paciente para o quarto particular, venho informar oficialmente que o procedimento foi bem sucedido — O pesar era nítido no olhar do médico, compadecido em relação ao ocorrido com o jovem casal. — A sua esposa ficará bem. Inclusive — continuou — , aconselho que passem mais alguns dias na Cidade do Leste antes de voltarem para casa. Vocês moram em Resembool, correto?
Edward apenas assentiu com a cabeça, cansado, o coração partido em mil pedacinhos. Mesmo assim, ainda juntou forças para perguntar a informação da qual tinha medo. Medo não, pânico. Seu corpo estremecia internamente só de pensar em proferir tal questionamento, porém, era necessário. Precisava saber, não só por ele, mas por Winry também, que com certeza perguntaria se estivesse acordada.
