II

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Tive uma crise, e o pior é que isso parecia real.

A dor intensa na perna direita e no braço direito que circulavam pelo meu corpo inteiro parecia realmente estar ali e conforme uma conversa sobre o que havia acontecido com os garotos do quarto, eu estava cada vez mais convencido de que tinha ido parar em outro lugar.

Eu não estava mais em casa.

Essa não era a minha vida de verdade.

Isso tudo não passava de um sonho. Um sonho muito real.

— E então o Gaara agarrou você com o jutsu de areia. Pra falar a verdade, isso aconteceu um pouco antes de eu lutar com ele, eu disse que sabia como ele se sentia. Nós dois somos Jinchuurikis e isso com certeza nunca foi fácil para ele — o loiro suspirou, mordendo uma maçã — maior rolo. Mas no final deu tudo certo e acho que agora o Gaara deve estar seguindo um novo caminho.

— É. O único problema é que antes disso ele te deixou nesse estado, e você acabou de se recuperar de uma cirurgia com quarenta e três porcento de chances de dar errado, e agora você está aqui porque graças à hokage, deu certo. — Shikamaru completou, e quanto mais eles falavam, mais confuso eu ficava.

Eu já sabia de poucas coisas sobre onde eu estava: Gaara era meu rival em uma das maiores, se não a maior luta que eu tinha enfrentado na vida e eu vivia em um mundo ninja em que sou um usuário de taijutsu, e faço parte do pequeno grupo de pessoas que são incapazes de utilizar ninjutsu ou genjustu.

Basicamente, eu tinha voltado a ter 17 anos e fiquei preso em um mundo onde o meu namorado me odeia.

Péssimo.

Agora falando sério — me apoiei para me sentar sobre o colchão — eu juro pra vocês que não faço ideia do que vocês estão falando. Olha, meu nome é Rock Lee, tenho 22 anos, namoro com o Gaara e moramos juntos à dois anos. Nós temos uma casa que na verdade foi um apartamento que comprei com o dinheiro do trabalho. Você, Shikamaru, trabalha junto comigo e, Naruto, nós nos conhecemos desde criança porque sua mãe era melhor amiga da minha. — levei a mão à testa sentindo mais uma pontada de dor — Vocês precisam acreditar em mim. Não sei como vim parar aqui e pior ainda, eu não faço ideia de como voltar pra casa.

Os dois se entreolharam, confusos. Já era a segunda vez que eu tentava me explicar e entender toda a situação porque na primeira, eles riram como se eu tivesse contando a piada mais engraçada do universo, dessa vez, eles pareceram finalmente entender.

Se isso fosse mesmo um sonho, de qualquer forma, eu precisava acordar.

— Se você realmente está falando a verdade, como isso pode ser possível? — Naruto perguntou.

Shikamaru pensou por algum instante enquanto a tensão tomou conta do quarto.

Depois de tudo o que vi e ouvi, nada mais me surpreenderia.

— Eu não sei. Talvez um genjustu? Ou alguém te trouxe aqui por algum motivo, mas fica difícil saber qual.

Suspirei.

— Por favor, preciso que vocês me levem até o Gaara. Talvez ele lembre de mim e possa saber como voltar, não sei... Talvez nesse mundo ele também me ame... — falei, me vendo ficar sem opções.

— Gaara chega em Konoha em cinco dias. Ele e os irmãos virão prestar apoio aos ninjas que perdemos e destroços que sobraram do ataque do Orochimaru, e talvez... ajudar o Sasuke a voltar pra casa. — o loiro abaixou o rosto, olhando para seus dedos machucados.

Em meu universo, Sasuke era nosso colega de sala na faculdade, ele e Naruto namoravam naquela época e viviam terminando por motivos irrelevantes e sempre acabavam voltando. Aparentemente, o que quer que tenha acontecido com Sasuke nesse mundo, abalava Naruto de alguma forma.

Será que era assim que o amor funcionava? Ele seria tão forte ao ponto de fazer o outro sentir, mesmo que em outra alma, em outro lugar, em outro mundo... Mesmo não sendo o mesmo tipo de amor?

— Não querendo cortar as suas asas, Lee, mas se o Gaara for o mesmo daqui, você vai ter problemas.

— Pro...blemas? Que tipo de problema? — arqueei uma de minhas sobrancelhas, pensando que do jeito que estava, não poderia ficar pior.

Os dois tentaram me explicar da forma mais clara possível.

Antes de me encontrar com Gaara, eu precisava ter em mente que talvez ele poderia não ser o meu, e isso doía muito.

Conforme os dias foram passando, eu aprendia coisas sobre esse mundo que jamais existiram no meu. Aqui os mitos eram verdades, e eu permanecia assustado com o rumo que isso poderia tomar.

Todos os dias eu acordava com a esperança de ter voltado para casa, de ter voltado para o meu amor, e meu coração se despedaçava cada vez mais ao ver que a realidade não era essa. No fim, eu sempre voltava para aquele quarto de hospital, andando com ajuda de muletas.

Quando tive alta foi ainda mais difícil. Descobri que morava sozinho em um pequeno apartamento no meio de Konoha. Até as pessoas ao meu redor estavam notando uma certa mudança de personalidade. E como eu poderia ser o mesmo sem ele?

Como eu poderia ser o mesmo sabendo que em outro mundo, Gaara não me amava como disse que me amaria?

Algumas vezes eu queria chorar por estar quase me convencendo de que não era apenas um sonho, e que não tinha jeito de voltar. Estava aceitando que viveria dia após dia, como se estivesse esperando um milagre.

E se antes eu não fazia ideia de como seria o mundo sem que nosso amor existisse, agora eu sabia que ele era um lugar horrível. Cruel. E mesmo assim, eu não poderia desistir tão fácil.

Não tinha escolha, eu precisava tentar.

Mais tarde naquela manhã, Sakura Haruno veio à mando de Tsunade pedindo para que eu comparecesse em sua sala. Era o dia em que Gaara chegaria em Konoha, e temia por encontrá-lo lá.

Se ele não lembrasse de mim, o que eu faria?

A cada passo que eu dava sentia estar cada vez mais perto. Dei um bom dia arrastado para a moça que carregava uns papéis, saindo da sala da Hokage às pressas e quando ela se afastou, parei diante da porta.

Fiquei parado, com medo.

Era a minha última esperança, a minha última chance desses últimos cinco dias infernais que eu vivi.

Coloquei os dedos sobre a porta e a empurrei devagar.

Sem ao menos vê-lo, eu sentia que ele estava ali. Pisquei profundamente, voltei para o meu corpo.

Levantei o rosto e quase não tive coragem de enfrentar o que estava em minha frente.

Era ele.

Era o meu amor.

Exatamente do jeito que estava quando nos conhecemos 4 anos atrás. O cabelo vermelho bagunçado de forma leve, os olhos verdes que dependendo da estação, variavam para azul, e ele sorria o mesmo sorriso doce — o sorriso que logo se desmanchou ao me ver, trocando o semblante alegre por outro cabisbaixo.

Nossos olhos se encontraram e senti meu coração palpitar, quase morrendo.

Eu nunca tinha ficado longe de Gaara tanto tempo assim desde que começamos a namorar.

Será que ele sabia? Será que ele...

— Gaara... — falei, e saiu como um sussurro.

Ele deu dois passos à frente, em minha direção ainda sem tirar os olhos de mim, ignorando o que estava acontecendo em nosso cenário. A pele branca quase pálida, a tatuagem vermelha na testa, o Kanji de Amor, exatamente igual ao que decidiu tatuar em seu aniversário de dezoito.

— Rock Lee... — senti o ruivo olhar de baixo para cima, como se não acreditasse no que estava vendo. Como se eu fosse um fantasma.

Eu queria abraçá-lo, queria beijá-lo... Mas minha vontade naquele momento não importava. Deixei o nervosismo por um segundo e dei outro passo à frente, na esperança de que tudo mudasse a partir de agora.

— Gaara, você... lembra de mim?

ANOTHER LIFE • Gaara + LeeOnde histórias criam vida. Descubra agora