Prólogo -meu primeiro assassinato/pacto

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Lembro-me de ter por volta dos oitos anos quando aprendi que se não tiver coragem o suficiente para matar, acaba morto. Também foi a primeira vez que vi alguém morrer, foi ali que entendi que era aquilo ou ser preso por algum girondino, o que talvez fosse um destino ainda pior.

Mas a primeira vez que matei efetivamente alguém foi aos dez anos.

Também foi quando fiz o meu primeiro pacto.

                         
                                   ♠︎

Lembro-me de escutar histórias de minha avó, sobre em quem confiar e sobre os monstros na floresta, e achava que eram apenas histórias como qualquer criança, até começar a vê-los. E como qualquer criança, com um pouco de curiosidade ingênua, quis falar com eles. Eu sempre os via, mas nunca era vista de volta. E de uma maneira que não sabia controlar queria matar a curiosidade de saber por que somente eu os via, e por que eles não me viam ou respondiam. Então tomei a decisão mais burra de toda a minha vida. Procurei sobre como invocar um deles nos livros antigos de minha avó. Fui até a caverna mais próxima de minha casa, e tirei da bolsa todas as coisas que consegui roubar para o ritual, posicionei todas as velas e os copos de prata e ouro nos lugares e então comecei a invocar, tive que recomeçar várias e várias vezes pois eram as palavras em línguas estranhas que só havia aprendido um pouco escutando as orações de minha avó. Quando estava quase no final do rito, peguei a espada mais bonita e valiosa que já havia conseguido roubar. Era de uma material muito reflexivo, com um rubi no cabo. Enquanto cortava o interior da mão até encher todos os cálices e pingar o resto de sangue que escorria pelo braço na fogueira tentava usar as poucas forças que tinha para segurar as lágrimas de dor. ouvi um pequeno farfalhar de brasas atrás de mim, e eu o vi, um menino que parecia ter a minha idade, muito bem vestido com cabelos levemente ondulados mas tão pretos e compridos que quase lhe cobriam os olhos, olhos cor de rubis, me lembravam o brilho do rubi da espada que havia usado.

- Por que me chamou? de uma forma esquisita ele parecia tão confuso e curioso quanto eu ali.

- eu já vi você na frente do castelo na cidade, lembra de mim, você me viu também?- ele apenas acenou com a cabeça. - e por que nunca respondeu de volta?

- eu não podia, nenhum de nós tinha autorização pra te responder de volta.

- seus sapatos são esquisitos. falei enquanto reparava nos sapatos que eram, ao contrário de sua roupa toda preta, de um tom azulado com bicos compridos que davam uma volta quase completa em elas mesmas formando um círculo na ponta. ele também achou graça.
E com o passar do tempo o invocava cada vez mais, no geral apenas brincávamos dentro da caverna. Ao ponto que nos tornamos familiar um para o outro. Mas de uma forma que sabia que não poderia contar para minha nona. 

                                 ♠︎

Em uma dessas brincadeiras tivemos a ideia de firmar o pacto, assim estaríamos ligados para sempre. almas conectados por forças maiores. na hora, pareceu uma boa ideia. Ele estaria ali comigo o tempo todo, brincariamos juntos e poderíamos ser melhores amigos. E assim fizemos. quando derramei a gota de sangue no fogo um rubi apareceu encravado na palma da minha mão direita de uma maneira que parecia ser parte de mim cravado na carne e um símbolo em minhas nuca, na hora não consegui saber qual era seu formato mas o sentia ali, pulsando como um seguindo coração. e o mesmo aconteceu com ele. então ele simplesmente sumiu.
depois de um tempo esperando sua volta na caverna decidi ir pra casa, estava triste pois havia perdido o único amigo que já havia tido. Quando um homem corpulento aparece no meio da trilha, com certeza era alguém que trabalhava para um girondino, reconheceria aqueles tipos de roupas. Eram roupas caras, porém velhas e gastas que os girondinos davam aos trabalhadores mais fiéis. E então eu corri, corri até sentir o ar faltar nos pulmões e perceber que provavelmente acabaria sendo pega e virando escrava ou coisa pior.
quando Zayn apareceu, todo machucado e sujo de sangue e me deu a espada de rubi que costumava deixar escondida na caverna.

- Não vai conseguir correr dele, espera aqui e o acerte o mais forte que puder. E só pare quando tiver certeza que ele não puder ir atrás de você

E assim como surgiu, ele desapareceu, mal tive tempo de pensar quando a sombra do homem me cobriu por completo, então apenas fiz, tive que colocar toda a força que tinha pra sentir a lâmina furar a carne, e então de novo e de novo. Só parando quando ele parou de me puxar pelo braço e caiu de vez no chão, parei para respirar de verdade, e novamente, corri até chegar em casa. E contar tudo a nona.

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