Estou na minha cama com a cara enterrada no travesseiro, já está tarde, eu devia ir dormir, mas não consigo parar de pensar em Rennan.
Pode parecer clichê, mas seu rosto não sei da minha mente, talvez pelo fato dele estar destinado a mim, e eu a ele. Me sinto intrigado e levemente decepcionado; só queria que minha alma gêmea fosse alguém legal, alguém gentil. E ele parece ser o oposto disso. Porra universo!
Meu celular vibra em meio aos lençóis, demoro a acha-lo pela bagunça que minha cama estava, o desbloqueio e era uma mensagem de Ian, perguntando se pode me ligar, com várias figurinhas tristes. Semicerro os olhos e respondo um "Tá". Não demora nem 5 segundos e ele me liga.
- Butijão, preciso de ajuda. - ele nem me cumprimenta e já vai falando. - É sobre a Breanna.
- Quando é que você não precisa de mim?- provoco, e ele responde um "vai se fuder baitola" muito carinhoso. - Tô brincando. Mas ajuda em quê?
Ele fica em silêncio por alguns segundos.
- Nem eu sei. Acho que só queria me aproximar dela... A gente só trocou umas dez palavras desde o início das aulas.
- E você acha que eu sou o quê? Jabiroca? Como supostamente eu poderia te ajudar?
- Você é amigo da Ayumi - Ele diz como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. - Ela é a melhor amiga dela. Você poderia, sei lá, conseguir o número dela para mim.
- Ian, seu gay. - Me sento na cama - Não seria estranho se você chamasse ele do nada? Ela ia pensar que você é doido, ou stalker.
Ian suspira do outro lado da linha.
- Não sei. O amor é tão complicado...
"Eu que o diga."
- Eu sei, mas a gente vai dar um jeito. - Digo sorrindo.
Ian gosta dessa garota desde o primeiro ano, foi praticamente amor a primeira vista. Breanna realmente tem um jeito cativante, ela é um poço de alegria contagiante, e é talentosa em tudo o que faz, além de ser muito bonita. Não culpo Ian por ser tão apaixonado.
Acontece que, apesar de toda essa pose de durão, Ian perde a postura de "bandido" perto de Breanna. Resumidamente, ele se torna uma pessoa totalmente diferente: tímido, desconcertado e nunca sabe o que dizer.
Não sei dizer se os dois estão interligados pelo fio pois nunca me preocupei em checar. Prefiro não interferir nos relacionamentos dos outros. Se for pra acontecer, vai acontecer, independente da minha ajuda. então não vejo necessidade de me envolver, muito menos de saber.
E, por falar em fios...
- Ian, você sabe sobre Rennan Takahashi? - pergunto.
- O que todo mundo sabe: ele é rico, e baixinho - Ele dá uma risada e eu faço careta. - Mas por quê a pergunta?
- Ele vai me ajudar em física. Just que pediu.
- Olha só, se deu bem, baitola! - sua voz está empolgada, mas sei que ele só está zombando da minha cara. - Aposto que ele está odiando desperdiçar o precioso tempo dele.
- Pior que realmente parece estar. Pensei que ele fosse, sei lá, me chutar mais cedo quando fui falar com ele. - Esfreguei o rosto com as mãos. - Que caralho...
- Não deve ser difícil chutar as partes baixas, com o tamanho dele - ele diz pensativo. - Se bem que qualquer um pode te chutar, do seu tamanho de poste...
Paro um minuto para processar o que eu ouvi.
- Você sabe que é maior que eu, não sabe? Diz que sabe.
- Ah, vai se fuder.
Estou prestes a xinga-lo de alguma coisa quando me lembro de algo.
- Você sabe se ele namora? Digo, o Rennan.
- A única pessoa que eu vejo ele conversando é Babalu. Se ele estiver namorando alguém, tenho quase certeza que é com ela. - Ele diz pensativo. - Mas esse seu interesse repentino tá muito estranho. Cuidado para não se apaixonar, viu?
Fico com vergonha, o que acho estranho, já que não tenho motivos para isso. Quer dizer, tenho. Já que o que está em jogo é minha alma gêmea. Mas eu não gosto dele... ainda. Será que algum dia ainda vou gostar dele? Eu não consigo imaginar nós dois se apaixonado, nem em um relacionamento.
- Nunca vou me apaixonar por ele. - Digo para Ian, mas no fundo sei que é mentira. E isso é assustador.
- Como você pode ter certeza disso? Ele pode ser sua alma gêmea. - Ele diz num tom malicioso. - Falando nisso, você ainda tem essa habilidade de, sei lá, ver fiozinhos?
Ian é uma das pouquíssimas pessoas que sabem a respeito disso. Eu contei para ele ano passado; no começo ele não acreditou, claro, só zombou da minha cara como sempre. Mas depois se convenceu. Na verdade, as vezes desconfio que até hoje ele finge que acredita só para não me deixar mal. Até por que eu me recusei a dizer com quem ele estava ligado - nunca me interessei -
- Sim, Gay, ainda vejo fiozinhos.
Prefiro não dizer a ele que descobri quem é minha alma gêmea e que ele está totalmente certo ao dizer que é Rennan Takahashi. Se ele souber, vai encher o saco e querer juntar nós dois. Prefiro que as coisas fluam normalmente, se possível.
- Ainda tô chateado que você não quer me contar quem é essa pessoa.
- Nem sei quem é- suspiro - e prefiro não saber.
Ele me xinga e ficamos em silêncio.
- Ian - o chamo após alguns segundos. - Ele me passou o número dele.
- E você mandou algo?
- Eu... esqueci. - minto. A verdade é que eu fiquei a tarde toda enrolando para não mandar mensagem, e no fim acabei não mandando nada. A ideia me assusta. Tudo tem sido assustador desde manhã.
- Ah, então manda agora, ou sei lá, amanhã.
Checo as horas em meu celular. Faltam poucos minutos para a meia noite, é meio improvável que Rennan esteja acordado, mas decido mandar mesmo assim. Desligo na cara de Ian e procuro pelo nome dele na minha agenda de contatos. Assim que acho, fico encarando a tela do celular, com o chat aberto.
"É só uma mensagem, Butijão, chega de drama."
Começo a digitar, mas apago em seguida. Faço isso várias vezes, até que desisto e vou direto ao ponto.
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Leio e Releio várias vezes mesmo depois de mandar. Será que está muito seco? Não, está bom assim. Melhor mandar um figurinha para não ficar tão sério... Não, acho melhor não...
Maldita indecisão.
Num impulso, mando uma figurinha de pombo mandado um passinho no skate. Depois que envio, me acho um idiota, mas já foi. Espero uns cinco minutos, e ele não visualiza. Provavelmente está dormindo. Bloqueio o celular e coloco na mesinha ao lado da minha cama.
