A espera

Deus é bom o tempo todo

"Deus é bom o tempo todo. O tempo todo Deus é bom."

Continuação...

A cena era completamente devastadora. O quarto pouco iluminado, bem pequeno a única coisa que dava para ver era uma porta ao lado direito de uma pequena janela que havia. Pequena demais, Kaisse vasculhava sua memória em busca de tentar encontrar aonde havia visto uma janela assim antes. No meio do quarto havia uma cama de solteiro e um senhor  desacordado  sobre ela. Senhora F cuidava dos ferimentos do homem que Kaisse só pode ver melhor quando se aproximou dele. Sentiu seu espírito sair do corpo assim que viu tal visão. Se apoiou em Akiko tentando disfarçar o quão aquilo havia mexido com si.

- Isso está muito feio...- sussurou Senhora F.

- Deveríamos ligar para um médico.- foi a primeira coisa que Kaisse disse desde que havia entrado naquele quarto.

Akiko exprimiu uma careta chegando perto do senhor. Se abaixou ficando na altura daquela cama, mergulhando um pano branco na bacia de água no chão e pressionando sobre a barriga do velho homem.

- Temos que limpar isso...- alertou senhora F.

- A bala ainda não foi retirada.- avisou Akiko.

- Então vamos retirar.- suspirou senhora F.

Kaisse, que observava tudo arregalou os olhos surpresa com o que senhora F disse.
Ela no entanto lançou um olhar indecifrável para a menina.

- Kaisse, Akiko  terão que segurá-lo.- avisou.

- Mas está dormindo... - disse Kaisse espantada com tudo aquilo- Espera.- caiu em si- Vamos ter que retirar a bala? Nós?

- Irá acordar com a dor.- sussurou Akiko- Por favor, coloque isso na boca dele.- entregou um pano branco pra Kaisse  ignorando a sua pergunta.

A menina recebeu o pano hesitante e com cuidado se aproximou do senhor pondo um pouco sem jeito o pano na boca do homem.
Senhora F que já estava perto do velho senhor estava prestes a limpar o ferimento quando lançou um olhar devastado pela tristeza para as jovens.

- Estão prontas?- perguntou senhora F.

- Não acham que seriam melhor chamar um médico?- insistiu novamente.

- Vá por mim, será melhor se fizermos isso, e não um médico.-  concluiu Akiko.

- Mas...

- Kaisse, por favor.- implorou senhora F interrompendo a menina.

Akiko segurou o braço do senhor enquanto Kaisse fazia o mesmo, desistindo da possibilidade de chamar alguém mais experiente. Segurou o outro braço com cuidado para não machucar o homem mais do que já estava machucado.

- Com força, Kaisse.- advertiu Akiko.

Kaisse relutava contra si, não entendia tudo aquilo e a insistência de ambas em tratar dos próprios ferimentos do homem, sendo que um médico seria mais eficaz nessa tarefa. Ela não era médica, mas já  havia visto muito sangue em sua vida. Ajudava Amélie a cuidar das crianças feridas que chegavam  no orfanato. O que estava acontecendo com ela naquele momentos era algo  desconhecido. Apertou o braço do senhor fechando os olhos com força, sentia a dor no olhar de Akiko brotar dentro de si.
A senhora F começou a limpar os ferimento retirando alguns estilhaços de vidro, foi o bastante para fazer o homem acordar gemendo de uma maneira completamente descontrolada, e se remexendo na cama. As duas jovens não eram tão fortes assim então várias vezes sentiram o homem mesmo que sendo de maneira não intencional, lhe machucarem. Akiko sentia-se de uma maneira que não conseguia explicar, não queria ver aquela cena se repetindo novamente... A dor veio com um soco em seu estômago e inevitávelmente começou e a chorar desesperada, o carinho que sentia pelo senhor era tão grande que não aguentava vê-lo sofrer, logo ele que fazia de tudo para cuidar da menina.
Kaisse sentia como se tudo o que Akiko estivesse  sentindo, brotasse  dentro de si. Ficou sufocada com todo aquilo, queria poder ser forte o suficiente mas não conseguia.
O homem foi desistindo de lutar quando a dor o venceu e desmaiou novamente. Por fim, senhora F retirava os últimos estilhaços de vidros do ferimento com uma dor no coração.
Kassandra abriu os olhos vendo a bala ensaguentada numa bandeja de vidro.