Capítulo 1

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— Ei! Me espera! — a voz de Zariah soava entrecortada pela respiração ofegante.

Rowan se virou brevemente na direção da irmã, mas não parou de correr enquanto disse:

— A ideia desse jogo é justamente não te esperar. Se não sabe brincar, volte pra casa.

Ao seu lado, Michail riu.

— Corre, Zariah — incentivou. — Ou você vai ter que ser a mulher do padre!

A garota arquejou de raiva e forçou suas pernas ainda mais. Ela odiava pega-pega porque nunca conseguia correr mais do que seu irmão. Às vezes ela conseguia pegar Michail, o filho do rico comerciante que morava na casa ao lado da deles, mas ela tinha motivos para crer que ele diminuía a velocidade de propósito, o que a frustrava ainda mais, pois significava que ele a via como alguém incapaz de o alcançar por mérito próprio.

E Zariah, sendo uma Everblane, repudiava ser vista como fraca mais do que qualquer coisa.

A vila rapidamente ficava para trás conforme as três crianças corriam sem uma direção certa. Quer dizer, pelo menos era assim que parecia. Porém os garotos, destemidos de uma forma imprudente, estavam indo na direção da floresta, pois sabiam que Zariah tinha medo dela.

Quando finalmente subiram o morro e se embrenharam nas árvores, os garotos riram ainda mais, apesar das respirações ofegantes, porque Zariah havia parado de correr atrás deles.

— Papai falou que aqui é perigoso — gritou ela na direção dos dois. — Vamos brincar em outro lugar.

— Mas é justamente por ser proibido que é legal — argumentou Rowan, e Michail assentiu, um pouco mais lentamente do que o planejado. — Ou você está com medo? — provocou ele. — Se você disser que está, poderá escolher pra onde a gente vai.

Zariah engoliu em seco. Suas mãos tremiam e seu coração batia tão rápido quanto as asas de um beija-flor, mas ela jamais iria admitir isso.

— N-não — disse, rezando para que a distância entre eles tivesse abafado a relutância de sua voz.

— Tem certeza? — indagou o irmão, uma sobrancelha arqueada. — Você pode escolher o lugar e a pessoa que vai ser o pega.

Ela olhou brevemente em volta. As árvores estavam juntas demais. O único motivo pela qual ela conseguia enxergar alguns metros à frente, era porque o sol estava no meio do céu e, portanto, seus raios conseguiam penetrar em alguns pontos.

— Eu não estou com medo — disse, cerrando os punhos.

— Então prove — gritou Rowan de volta. — Podemos parar o jogo se você conseguir chegar até nós sem dar pra trás.

Zariah bufou. Sabia que, agora, era questão de honra. Ela forçou suas pernas a irem pra frente e a se desviarem das raízes altas e escuras.

Os meninos não estavam tão longe, mas para Zariah parecia que eles estavam a quilômetros de distância.

Ela notou que a cada três passos à frente, Rowan e Michail davam um pra trás.

Idiotas, pensou ela quando tropeçou em uma raiz e quase caiu de cara no chão cheio de folhas úmidas. Isso não é justo.

Quando, enfim, alcançou os dois, não havia mais sinal da entrada da floresta.

— Viu? — provocou Rowan com um sorriso. — Não foi tão difícil assim.

— Podemos voltar agora? — indagou Zariah.

— Acho que deveríamos explorar já que estamos aqui...

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