Epílogo

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Rowan estava deitado nas margens da floresta, observando as nuvens passearem calmamente pela vila. Estava usando roupas leves e sua pele finalmente estava limpa.

Dois dias se passaram desde que ele voltara para casa e entregara as folhas para Flitzen.

Fora por pouco, ele dissera, mas você realmente salvou a vida dele.

Nós salvamos, replicou Rowan. Jamais teria conseguido sem ela.

A morte de Zariah fora recebida pelo pai de uma forma pior do que Rowan imaginara, e, apesar de estar curado, sem qualquer vestígio da doença, Richard simplesmente não queria sair da cama. Rowan ouvia o pai chorando a noite por muito tempo, mesmo quando as próprias lágrimas já haviam se esgotado.

A saúde psicológica do pai começara a preocupar Rowan quando viu que ele não estava fazendo qualquer esforço para voltar às suas atividades. Ele temia que o pai voltasse a ficar doente.

Ainda tinham uma folha, mas Rowan sabia que nem mesmo a árvore da vida podia curar a tristeza avassaladora que tomava conta do mais velho.

Ele conseguira uma licença para mais uma semana longe do exército e pretendia passa-la cuidando do pai.

Por isso, se levantou e caminhou de volta para casa.

Flitzen havia ido embora na noite anterior, mas os sinais de que o médico ainda voltaria eram evidentes: panelas, roupas e utensílios haviam sido deixados para trás porque haviam muitos itens que Flitzen não iria conseguir carregar em apenas uma viagem.

Rowan subiu as escadas e foi até o quarto do pai, mas o encontrou vazio.

Ele deve estar nos fundos de novo... concluiu Rowan com um suspiro, já dando meia volta.

Dito e feito: assim que contornou a casa, viu a silhueta ruiva do pai, a cabeça abaixada, encarando a pequena lápide que eles construíram em homenagem a Zariah ao lado do da mãe.

Suas mãos estavam na frente do corpo e Richard apenas lançou um breve olhar ao filho quando ele parou ao seu lado.

Por um longo momento, os dois encararam as lápides. O ambiente estava pesado e o tempo, frio. O vento penetrava gelado entre as vestes de Rowan, o que o fez tremer.

Mas Richard poderia estar nu que sequer sentiria o frio.

— Desculpe por não estar sendo presente agora, Rowan — murmurou Richard depois de algum tempo. — Eu sei que você... vocês fizeram tudo isso por mim e eu deveria parecer mais grato, mas...

Rowan não deixou que terminasse. Ele passou um braço ao redor do ombro do pai e o abraçou de lado.

Richard começou a tremer com o gesto e não conseguiu segurar as lágrimas. Como que permitira que os filhos fossem em uma viagem tão arriscada? Ele ganhara mais alguns anos de vida, mas a qual preço?

Suas pernas fraquejaram e ele se ajoelhou em cima da lápide de Zariah, implorando por perdão.

Rowan apenas continuou a encarar a lápide e, pela primeira vez, não derramou nenhuma lágrima.

Sabia que o pai devia se sentir ainda mais culpado do que ele e, se Rowan não assumisse o controle, os dois adoeceriam.

Precisava cuidar dele, pois sabia que seria isso que Zariah iria pedir.

Não sabia de onde iria tirar forças. Ele lutava para ficar de pé como se seu corpo pesasse oitocentos quilos, mas tentaria.

Por eles. Por ela.

Pelo pai.

Afinal, pensou Rowan, fechando os olhos para visualizar a irmã mais uma vez, o que seria o luto se não um amor que perdura?

FIM

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