A Carta

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— Jimin, hora de acordar! — Namjoon disse, após empurrar a porta do quarto do filho com delicadeza, para não assustá-lo em seu sono que tem sido tão leve.

Encostou a porta e ouviu o resmungo baixo do garoto de cabelos negros.

— Papai...! — chamou-o o garoto, mas não queria sua presença novamente, só estava tentando convencê-lo de não levá-lo à escola.

Jimin tem sido assim há algum tempo, preguiçoso em relação a escolas, fazendo de tudo para fugir das aulas, arranjando desculpas para não ver os colegas, mas é claro que Namjoon ainda não tinha percebido aquele padrão, afinal o garoto já é muito esperto para sua idade e sabe disfarçar bastante bem.

Namjoon foi para a cozinha, enrolado em seu roupão prateado, com o pijama de mangas e calças compridas do Ryan — mesmo que esse não parecesse o melhor uniforme para um homem maduro, com um filho e que trabalhava em um consultório —, puxou a frigideira de dentro do armário e a caixa de leite da geladeira, para deixá-lo descongelando quando Jimin saísse do quarto, o que deveria ser a qualquer momento. Afinal, apesar de preguiçoso, o garoto sempre foi muito obediente a seu pai, não fazia com que o mais velho tivesse de chamá-lo mais de uma vez.

Apesar da crença que se tinha de que homens não eram bons na cozinha ou até mesmo que eles não aprendiam porque as mulheres eram as que deviam fazer, o Kim se virava muito bem, conseguia fazer Bulgogi, ovos — coisa que Jimin adorava — e algumas receitas francesas, que eram as suas favoritas, desejava aprender Kimchi no entanto, mas era sempre como se a preparação em sua totalidade lhe escapasse os detalhes, mas sabia que conseguiria de qualquer forma em algum momento.

— Bom dia, pai. — Jimin falou ao entrar na cozinha, arrastando as pantufas, com as mangas do pijama cobrindo suas mãos.

— Precisamos costurar as mangas do seu pijama. — Namjoon comentou, quebrando dois ovos na frigideira, fazendo Jimin salivar ao ouvir o som do contato entre os ovos e a manteiga quente.

— Você já disse isso pelo menos cinco vezes, só essa semana. — respondeu o garoto, sentando-se na cadeira e debruçando-se na mesa.

— Você parece cansado.

Namjoon sempre permitia que seu filho falasse quando lhe fosse confortável, tentando não pressioná-lo a isso, por isso, expunha o problema aos poucos, pelo menos os seus pontos de vista sobre uma dada situação que pensasse ser problemática, e esperava que Jimin chegasse sozinho a uma conclusão e dissesse ao pai o que ele queria ouvir. Que nesse caso era só o motivo de ele parecer tão cansado.

— O quê?! Ah, isso! É impressão sua! — Ajeitou sua postura rapidamente e o rosto tornou-se impassível, parecia querer esconder a todo custo esse ponto o qual seu pai queria tão insistentemente focar.

Namjoon mexeu nos ovos mas sem destroçá-los, colocando-os no prato e indo até a panela elétrica de arroz, para pôr no potinho um monte razoável, com alguns vegetais e peixe, todos para a boa alimentação de seu filho, uma vez que o café da manhã é a refeição mais importante do dia.

Jogou os cabelos arroxeados, quase cor de uva, para trás, pegando os potes e pratos para levá-los até a mesa.

— Seu rosto parece cansado, filho. — Tentou novamente com sua abordagem tranquila. — Parece incomodado com algo e não se dá conta.

Jimin levantou o olhar das mãos que brincavam com os dedos e fitou os intensos olhos castanhos de Joon, enquanto o homem colocava os utensílios em cima da mesa. O Kim mais novo estava sempre com a mesma expressão lívida quando seu pai fazia "aquela coisa", não tinha uma palavra definida para o mecanismo que seu pai usava, mas, mais freqüentemente ele dizia "Aquela coisa de me observar aqui dentro", dando duas batidas na cabeça com o nó dos dedos, como se o pai pudesse ler sua mente, o que ele queria dizer era acerca das análises que Namjoon fazia com ele, afinal, inconscientemente Jimin pensava que era difícil ter um psicólogo analítico como pai.

Segundo Freud [knj + ksj]Onde histórias criam vida. Descubra agora