A gota que faltava nesse oceano de loucura

14 3 11
                                    

No dia seguinte acordei às 6hs. Por quê raios as provas de recuperação tinham que ocorrer tão cedo! Só um milagre pra me ajudar, porque tinha estudado quase nada. Minha cabeça não parava de latejar. Levantei da cama e fui me arrastando para o banheiro. Tomei um banho, escovei os dentes, penteei o cabelo de qualquer jeito e me vesti. Minha vó ainda não tinha acordado, mas a Princess já estava toda animadinha no meu pé, me seguindo pra onde fosse. Tentei comer alguma coisa e arrumei tudo de que eu precisava dentro de uma bolsinha, peguei a chave de casa, me despedi da Princess e saí.

Eu pegava o ônibus numa parada próximo à minha casa. Ele chegava às 7hs e o tempo de percurso era de 1h até o minha escola. O que era um saco. Só o que me distraia durante a viagem eram boas músicas que eu colocava nos fones de ouvidos.

Subi no coletivo, e logo coloquei várias músicas para escutar enquanto via o mundo passar lá fora. Ainda bem que hoje seria somente prova, e poucas pessoas da escola estariam lá, porque eu não aguentaria ficar mais tempo naquele lugar com o meu humor "tão bom".

Chegando lá, a maioria da galera já havia chegado, uns estavam conversando, rindo, e alguns estavam dando aquela última estudada antes das provas. Fui seguindo pra minha sala, o terceiro ano (a) que ficava no segundo andar. Quando subia as escadas, senti uma mão segurar o meu ombro e me virei.

- Oi, Alice. - Leo me comprimentou com um sorriso.

Leo era um garoto magro de 18 anos, com cabelos loiros e lisos bagunçados na testa, usava óculos e era muito simpático. Ele era o que se poderia dizer pelos outros: O Nerd da turma. Ele conseguia ser bom em todas as matérias, exceto por Matemática. Nessa ele era um zero à esquerda... Assim como eu. Mas ninguém ligava pra isso e só o chamavam de nerdão. Sem contar que ele era uma das poucas pessoas que falavam comigo pra valer.

- Oi, Leo. - Falei. - Deixa eu adivinhar. Matemática.

- Pois é. - Ele deu uma risada. - Não nascemos um para um outro.

- Estamos nessa juntos outra vez. - Levantei a mão fazendo um sinal de "V".

- Como foi o seu Natal?

- Foi legal... E o seu? - Falei continuando a subir a escada.

- Ah, sabe como é. Natal. Com a família, blá, blá, blá.

Eu olhei pra ele e nós dois rimos. A gente quase sempre ria de bobagens. Acho que isso era o que eu mais gostava na amizade com ele.

- Eu não te vi no festival. - Disse. - Onde você tava? A Deize falou que todo mundo da turma tinha marcado presença.

- Então, eu decidi não ir. Não tenho saco pra multidões, você sabe.

- Sim. Te entendo. - Enfim chegamos na classe. - Eu nem sei porque eu fui, na real. Talvez estava com esperança de alguma coisa legal acontecer.

- E aconteceu? - Ele perguntou.

- Sim. - Respondi sorrindo.

A professora já estava distribuindo as provas, eu me sentei no canto da classe como de costume e Leo sentou ao meu lado. Como de costume.

- Boa prova para todo mundo. - A professora falou sentando numa cadeira e fazendo anotações no computador a sua frente.

Minhas provas eram de Matemática, Física e Química. Definitivamente eu não era de exatas! Teria que me concentrar bastante se quisse algum resultado, a sorte é que eu ainda conseguia me lembrar de algumas equações. Só que no meio daquilo tudo, eu não parava de pensar no Roger e no J., em como eles estariam. Será que já se acertaram? Demorei mais de 2 horas pra fazer as prova. Quando terminei, quase todos haviam saído da classe. Desci as escadas e quando cheguei no térreo, encontrei a Deize sentada, conversando com o Leo.

- Alice! - Deize falou quando me viu. - O que aconteceu? Por que demorou?

- Foi tão difícil assim? - O Leo perguntou preocupado.

- Também, mas é que acordei com um pouco de dor de cabeça, só isso.

- Tava contando pro Leo que vi ontem, num canal de fofocas paparazzis fotografando o vocalista da banda Cover's Night numa sacada do hotel JHF ontem!

JHF? Eu conhecia aquele hotel, era lá onde os raros artistas que vinham fazer shows aqui na cidade se hospedavam. Mas por que ele decidiu ficar num lugar tão óbvio? Roger... No que está pensando?

- Não sabia que você gostava da Cover's Night. - Falei pro Len.

- Eu não sou um fã. Você sabe que a Deize gosta de falar pelos cotovelos - Ele respondeu sorrindo.

- Ei! - Deize deu um impurrãozinho nele de leve, sorrindo.

- Então, quer dizer que o Roger ainda está na cidade? - Perguntei.

- Está! - Deize falou animada. - Não é demais? Só queria saber onde estão o restante dos integrantes.

- Não tem nada de demais nisso... - Comentei triste.

- Como assim, Alice?... - Leo ficou confuso.

- É Alice. Como assim?

- Não foi nada. Eu apenas... Tenho que ir.

Deixei os dois e fui andando até a saída quando:

- Alice! - Leo veio correndo na minha direção.

- O que foi, Leo...?

- É que... Hoje vai ser o último dia do ano que vamos nos ver... e... Eu queria dizer que vou sentir sua falta...

- Perai... Como é que é? - Perguntei confusa.

- Você foi uma das poucas pessoas aqui da escola que gostou de ficar perto de mim esse tempo todo pelo que eu sou. A maioria do pessoal daqui quer distância de mim. Me chamam de idiota por gostar de estudar tanto... Eles só me querem por perto quando precisam de cola pra alguma matéria. Mas você Alice, sempre esteve perto de mim sendo sincera... e...

- Onde você quer chegar, Leo?

- Eu só queria dizer que... Eu gosto de você, Alice...

- Eu também gosto muito de você, Leo. Vo-

- Eu gosto de verdade! - Ele pulou em mim me abraçando. - Eu... Estou apaixonado por você Alice. - Falou isso no meu ouvido.

- ...

- ...

- Leo... Assim tão de repente? - Fiquei toda vermelha sentindo ele me abraçar forte em meio às pessoas. Aquela tinha sido a segunda vez que eu havia ficado envergonhada perto de um garoto. Aquele abraço era tão quente e carinhoso.

- Me desculpa, Alice... - Ele me apertava cada vez mais. - Eu não aguentava mais guardar isso. - Ele me encarou fixamente nos olhos.

- Leo... Eu não sei o que dizer...

- Não precisa dizer nada. - Ele sorriu pra mim me soltando do abraço. - Só me promete que ainda vai me deixar ficar perto de você.

- Eu preciso ir pra casa. - Disse com a cabeça baixa pra esconder meu rosto super envergonhado.

- Tudo bem... - Ele respondeu também com a cabeça baixa.

- Então... Feliz Ano Novo. - Disse.

- Feliz Ano Novo, Alice.

Foi então que comecei a caminhar rapidamente pra saída.

Alice - Um história com a Cover's NightOnde histórias criam vida. Descubra agora