- Ah... Oi, Alice... Já deve ta sabendo do que aconteceu, né? - Ele falou olhando pra mim, logo em seguida abaixou de novo a cabeça.
- J. o que está fazendo aqui? - Perguntei atordoada. Cadê o Roger? E a loirinha de mexas rosas e aquele outro de cabelo estranho?
- Não sei... Não sei de ninguém... Não sei de mais nada...
- O que aconteceu pra que vocês acabassem com uma banda tão maneira como a Cover's Night? Vocês juntos arrasavam! - Sentei numa cadeira na frente dele.
- Pois é... Mas nossas vidas tomaram rumos diferentes agora. Não há mais nada que a gente possa fazer, Alice. Nossa banda estava cercada de enganações... Até mesmo eu enganei o Roger... A única pessoa que eu podia contar na vida era ele e agora ele está super mal por minha causa.
- Mas, J. se você teve que esconder algo dele deve ter tido um bom motivo pra isso, certo? Não é tão sério assim, vocês voltarão. - Disse para animá-lo. - Aliás, vocês dois são melhores amigos!
- É muito mais do que isso, Alice. - Ele se ajeitou na cadeira olhando pra mim.
- O Roger e eu... Nós somos irmãos.
(Visão de Deize)
-Aí, galera. Aquele cara que a Alice ta conversando na outra mesa, não é o baterista de ontem a noite da Cover's Night? - Cochichei.
- É sim! Ai que demais! - A Hana se empougou. - Não sabia que eles eram tão íntimos.
- Hmmm... - Olhei bastante pro garoto. - Vendo ele mais de perto... Até que ele é mais bonito do que eu pensava.
- Credo, Deize! - Kim, que até então não havia falado uma palavra até o momento, exclamou horrorizada e Hana começou a rir.
- Ah, qual é, meninas. Ele tem estilo. - Voltei a observá-lo na outra mesa.
(Visão de Alice)
-Como é que é? Você e o Roger são irmãos... De verdade, sangue e tudo?
- Sim. Nós dois somos de uma cidade bem pequena, assim como essa.
- E como a banda Cover's Night surgiu? - perguntei.
- O Roger e eu não tivemos uma vida fácil, Alice. Desde crianças nós ajudávamos na loja de instrumentos da família. Nosso pai sempre dedicava seu tempo a concertar guitarras, violões e tudo mais. Até nos ensinou a tocar algumas coisas e nos apresentava a todo tipo de música. Ele recebia bem, só que com o dinheiro que recebia, gastava tudo nos bares e chegava em casa muito bêbado, batendo na nossa mãe e também na gente.
Ele fez uma pausa e tomou um gole do refrigerante.
- Minha mãe sempre ficava calada, porque para ela, dizer alguma coisa seria uma "ofensa" contra nosso pai que sempre fazia tudo pra sustentar a gente. Devido ao tratamento abusivo, minha mãe era proibida até mesmo de trabalhar. Já na escola, éramos cercados de idiotas valentões que sempre pegavam o Roger, que era o mais novo, só para verem eu ir salvá-lo. Era meio que uma novela pro pessoal da turma. Só que com capítulos repetidos.
Suspirou.
- Meu irmão sempre levando surra esperando que eu aparecesse. Passamos anos vivendo assim, quando um dia chegamos em casa e vimos nossa mãe chorando. Ela nos disse que nosso pai tinha bebido outra vez e que tentou matá-la, foi quando ela se defendeu e quebrou uma garrafa de cerveja com toda força na nuca dele. Ele acabou morrendo. Ela enfim conseguiu ligar pra polícia, e com a notícia, a cidade inteira ficou contra nossa mãe, porque não acreditavam no ser violento que nosso pai era, já que pros demais ele era muito simpático, até mesmo pro pessoal do bar. "O pai perfeito". Só que mais tarde os policiais encontraram marcas de espancamento por todo seu corpo e também sinais de esganadura, foi então que depois de alguns dias a liberaram.
- Jesus! - Parecia que o mundo inteiro estava desabando em mim.
- Roger ficou irado com tudo aquilo. Ainda mais porque, mesmo depois da liberação da nossa mãe, muita gente que se diziam "amigas" do nosso pai, a julgavam. Nessa época ele tinha 10 anos e eu 13. Ele prometeu pra nossa mãe e a si mesmo que a tiraria daquele inferno de lugar. Mas ela dizia que ele era criança e que ainda não entendia nada. Foi então que uma certa noite ele acordou, pegou todo dinheiro que eu tinha na carteira e fugiu de casa. Na manhã seguinte, ficamos aterrorizados procurando o moleque. Nossa mãe pediu que eu fosse atrás dele, que ela ficaria bem sozinha. Ela disse que se Roger e eu estivessemos sempre juntos, ela ficaria feliz... Alice, não tente entender...
- Eu entendo, J. - Fui sincera. - Acredite em mim.
- No final, acabei encontrando o Roger e voltamos pra casa juntos. Foi então que decidimos usar do nosso gosto pra música, nosso talento pra alguns instrumentos, pra conseguir alguma grana. Começamos a ensaiar numa garagem velha de casa. Treinávamos todo dia. Nossa mãe aos poucos foi voltando a trabalhar e a dar os primeiros passos pra retomar sua independência. Nesse meio tempo também acolhemos a Melissa. O sonho do Roger e o meu, passou a ser dar uma vida melhor e tranquila pra nossa mãe, cantando e tocando.
Depois de todas aquelas revelações, J. me disse que precisava fazer algo em outro lugar, então me despedi dele, da galera da lanchonete e fui pra casa super envergonhada. Como eu (1) poderia ter duvidado do que o Roger havia me explicado? (2) Não havia nada de suspeito com ele afinal. (3) Nunca mais o veria de novo.
Definitivamente.
(Visão de Roger)
Eu estava na cama do hotel, na mesma cidade em que fizemos o show. Minha cabeça quase a ponto de explodir, o coração apertado por ter desfeito algo que custaria o meu sonho e também do meu irmão, mas mesmo com isso tudo acontecendo, eu ainda me sentia leve pela decisão que havia tomado. O problema seria o que eu faria agora. Como ficaria a Cover's Night agora? Será que um dia encontraria a Alice de novo? Mãe...
Na minha mente só conseguia pensar na letra de música do "The Kira Justice", "Aeris". Me perguntava se a Alice gostaria de ouvir essa também...
Então comecei a cantar baixinho.
(Visão de Alice)
Cheguei em casa mais arrasada do que nunca, indo direto para o quarto, deitar na cama. A Princess veio logo pro meu lado. Parecia estar com saudades.
Por algum motivo não conseguia parar de pensar na música "Aeris" do "The Kira Justice", que foi inspirada num jogo chamado "Final Fantasy VII". Meu coração doia tanto... Como eu queria ver o Roger de novo e dizer tudo o que eu sentia...
Foi então que, como uma forma de falar com ele à distância, comecei a cantar baixinho.
◇
.
.
.
.
.
.
◇Música completa. Créditos a "The Kira Justice"
VOCÊ ESTÁ LENDO
Alice - Um história com a Cover's Night
Storie d'amore[PAUSADA || ] Meu nome é Alice, tenho 17 anos. Sou uma garota cheia de sonhos, embora não consiga expressá-los com tanta facilidade quanto gostaria, já que tenho uma personalidade um tanto introspectiva. Não tenho muitos amigos, e desde a partida do...