Era uma da manhã quando, William parou em uma pousada. Uma casinha no meio de um deserto nada acolhedor. Os próximos 50 quilômetros seriam de ciclovias e escuridão, onde os únicos indicadores de onde ir seriam os sinalizadores amarelo fosforescente pintados no chão.
A fachada na frente do estabelecimento, o indicador de que o local seria uma pousada, continha os dizeres "HOTEL & RESTAURANTE" escritos com tinta branca descascando, sobre um grande retângulo de madeira.
Ao adentrar o estabelecimento, deixando para trás uma porta de vidro riscada, o rapaz se viu em uma aconchegante casa de interior, feita de madeira polida. Caminhando pelo átrio, William observou uma figura sentada sobre uma poltrona de couro marrom. Uma senhora, que parecia estar o encarando, — quando se virou percebeu que o alvo era na verdade um quadro na parede. Uma pintura realista, na qual uma mulher era devorada por um verme de oito olhos. O que chamava a atenção era que o verme continha uma mandíbula circular, que seguindo a lógica da representação, comeria o rosto da jovem deixando-a desfigurada. A senhora ali presente, não moveu um músculo sequer, como se a presença de William não fosse perceptível.
Na recepção, tocou o sino encima do balcão, na esperança de alguém lúcido aparecer. Enquanto esperava, observou a estante de livros, que ficava na parede esquerda, perto da porta que provavelmente levava ao banheiro, ou algum subsolo onde ele seria morto. Acima da prateleira de livros de Terror, havia uma espingarda pendurada. O modelo, William não fazia ideia, nunca usou qualquer tipo de arma de fogo em sua curta vida.
Cansado de aguardar por respostas, voltou-se a senhora novamente:
— Olá! Eu queria alugar um... — Fraquejou a fala quando esta, olhou no fundo de seus olhos, ou sua alma.
Tateando por apoio, William quase caiu, se segurou na janela e decido caminhou rapidamente até a porta riscada. Antes que pudesse de fato chegar até a porta de vidro, um senhor adentrou por ela, carregando pedaços de madeira. Quando viu William, se assustou e deixou toda a lenha se espatifar pelo chão.***
— Gostaria de um café? — Perguntou o senhor, passando para a parte de trás do balcão.
William fez que não.
— Certo, então um bolinho? Não está com fome?
— Obrigado, mas eu só quero alugar um quarto no momento. Mas talvez de manhã eu aceite! — Respondeu William da forma mais educada que conseguiu.
— Certo, me siga que eu vou te mostrar o seu quarto. — Disse o senhor, saindo de trás do balcão e seguindo por um arco que levava até um corredor escuro.
No final do longo caminho que ligava os quartos, jazia uma janela que enquadrava lindamente a Lua, a única fonte de luz dessa parte da casa. Após destrancar um dos quartos do lado esquerdo, mais especificamente o terceiro quarto da ala esquerda, e de deixar todos os pertences de William lá dentro, o senhor disse:
— Tudo pronto, só tenho um adendo, o banheiro está interditado, então caso precise recorrer a ele no meio da noite, tem que ir ao banheiro externo.
William concordou e se despediu do senhor, adentrando o quarto e fechando a porta.***
O cômodo era compacto, a cama ao lado esquerdo, uma prateleira ao direito. A eletricidade que antes abrangia toda a construção, nesta parte não funcionava.
Vasculhando por algo que o ajudasse a enxergar, Wiliam, procurou por entre os únicos móveis do quarto. Passando rapidamente a mão por cima da prateleira, achou um pequeno esqueiro em formato retangular. Suas cores azuladas davam um teor exótico ao objeto, que por sua vez penou a ascender.
Pondo a chama em sua frente, William, caminhou até a cama. Agora deitado sobre lençóis aconchegantes, adormeceu. Ou era isto que pensava.
Um barulho ou uma sensação tomou conta de sua mente. Olhou para o lado, no canto inferior direito do quarto, e notou uma pequena portinhola. Observando-a mais de perto, concluiu que esta fora feita às pressas e sem qualquer equipamento. Puxando para frente o pedaço de reboco, e adentrando pelo caminho liberado, William, chegou no que ele identificou como o quarto ao lado.
Passando as chamas do esqueiro sobre a negritude do cômodo, notou algo que em primeiro momento parecia ser uma caveira. Com um suspiro de alívio, pegou o objeto:
"Made in USA" dizia a etiqueta colada atrás do produto. William pôs a cabeça do esqueleto novamente ao chão, e voltou a analisar o quarto. Este tinha alguns móveis a mais que o cômodo ao lado. Colocando a chama por cima de um pequeno compartimento quadrangular, William observou o que deduziu ser um pequeno botão. Apertando, a pequena caixa de ferro se abriu, liberando uma chave enferrujada. Girando a chave na porta do quarto, esta que antes trancada, liberou um caminho diferente do corredor ao qual passara para chegar ao seu quarto, que em sua concepção ficava ao lado deste.
Seguindo por entre o negrume, usando como única fonte de luz, o pequeno esqueiro, William, chegou em uma escada de madeira escura.
No segundo andar, o local tomou uma forma mais rústica, com pisos de madeira vermelha. Rumando até a única fonte de luz externa, chegou em um quarto exótico e aconchegante. Agora com pisos de madeira clara e paredes de reboco branco amarelado. Guardou o esqueiro no bolso da calça, e seguiu a diante explorando o local.
Em uma poltrona na canto da sala, a mesma senhora olhava, paralisada, para o canto da parede. Distanciou-se dela e foi até uma prateleira. Correndo, acertou a cabeça da velha com um porta retrato de vidro, em seguida socou seu rosto sangrento até se tornar maleável.***
William sentou-se na cadeira ao lado e observou, a velha desfigurada não se moveu em nenhum momento. Enquanto repensava no que fez, um objeto caiu ao lado da poltrona. Uma caveira, a caveira da velha desfigurada, que agora jazia somente com a carne de seu rosto no corpo. Assustado mas ao mesmo tempo curioso, William pegou a caveira, e virou seu rosto pra ele. "Made in USA" dizia sua etiqueta. Perplexo jogou-a no chão novamente e saiu engatinhando para longe, a caveira gargalhava alto e todo negrume da casa saia dela.***
No quarto,
andando de um lado para o outro, pensando e repensando tudo que lhe ocorreu durante a passagem ao lado irracional da mente. Talvez estivesse louco. Uma ala inteiramente nova, com segundo andar não fazia sentido, pois mesmo que ele não tivesse dado devida atenção para aquela parte, um segundo piso seria incabível desde sua concepção. Observando a caveira pega no quarto ao lado, e analisando o "Made in U.S.A" chegou a uma conclusão que nem ele próprio esperava: Unidade Santa Arkthernica.
Era um chute nada maravilhoso, mas talvez assertivo, claro, seguindo a lógica de acontecimentos, este por sua vez não seria o ocorrido mais absurdo a se tornar verídico. Mas caso se provasse uma verdade absoluta, ele teria que fugir o mais rápido dali. Pois ninguém gostaria de ser servido na janta de uma seita.***
Após arrumar de forma desajeitada suas roupas dentro da mala novamente, William destrancou a porta do quarto e andou sorrateiramente, passando pelo corredor e pelo arco, chegando ao átrio. A velha continuava sentada na poltrona de couro marrom, como se nada tivesse ocorrido.
A porta estava trancada. Agora, buscando por algo na casa que lhe permitisse quebrar o vidro, William deu de cara com o senhor que lhe hospedou. Com sua face sombria e maléfica pôs a se movimentar em direção ao rapaz.
Correndo, William pulou na estante de livros, e começou a escala-lá buscando pela espingarda. Quando seus dedos entrelaçaram a arma, o velho derrubou a estante, fazendo-o cair e ficar preso da cintura para abaixo. Apresou-se para engatilhar a arma, na torcida de que estivesse carregada. Sem nenhum conhecimento, puxou uma alavanca e o atiro saiu, o senhor foi acertado no ombro mas continuou a se aproximar. Arrancou a arma de suas mãos e lentamente o puxou em direção a porta do banheiro interditado. Cansado e dolorido o rapaz mal conseguia se mover, caiu escada abaixo gritando de dor. O velho encarando-o do lado de fora, fechou a porta com um leve sorriso colado no rosto.***
Colocando a chama do esqueiro em sua frente, William, se viu em uma extensa caverna. Subiu até a porta novamente e tentou abri-la, claro, sem sucesso.
Caminhou sobre a escuridão que permeava o local, até chegar em um arco feito de pedra roxa, marcado por inúmeras letras e símbolos, U.S.A.
Um dos símbolos era familiar, algum tipo de verme de boca estufada.
Um barulho vindo do outro canto da caverna assustou William, mas o efeito surpresa desta vez não funcionou, pois ele bem sabia do que se tratava o barulho. Um grunhido surgiu mais perto de sua atual localização. Preparado para se esquivar, o rapaz tentava deduzir de onde a criatura víria.
De sua frente surge, andando em duas patas, um ser monstruoso, vindo diretamente do espaço. Um verme de dois metros de altura. Sua boca, um quadrado de lado, com dentes em volta de um círculo de carne, as gengivas. Sua pele asquerosa, de cor esverdeada com camadas de amarelo fosforescente. Algo impossível de se descrever dada a tamanha magnitude de sua existência, uma mistura de cores imperceptíveis a olho humano, um cheiro indescritivelmente terrível, juntamente de uma forma abstrata. Antes que pudesse agarra-lo, William, pulou e caiu de queixo no chão. Se virou rapidamente e pôs a chama acima de si. O verme recuou.
Agora em pé novamente, com o esqueiro como escudo, pegou uma pedra grande no chão, e subiu cautelosamente escada acima.***
No átrio, quebrou o vidro da porta, andou até seu carro, procurou pela chave e não encontrou. O local estava vazio, nem a velha que antes repousava sobre a poltrona, estava lá. Quando voltou com a chave e seus pertences, viu ao fundo o banheiro externo, com luzes saindo dos vãos da porta. Abriu-a e desceu pela escada de quartzo até uma ampla sala iluminada. Uma mesa grande jazia sobre o meio desta, e um grupo de encapuzados terminava os preparativos para o jantar.
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A Pousada - Conto De Terror
HorreurEra uma da manhã quando, William parou em uma pousada. Uma casinha no meio de um deserto nada acolhedor.