história

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FLORESTA PARA AS ÁRVORES
A batalha caiu sobre eles como se fosse um banquete. Vidas deliciosas — tantas a acabar e tantas a se caçar! O Lobo avançou pela neve enquanto a Ovelha dançava graciosamente de gume de espada a ponta de lança; a carnificina sangrenta incapaz de manchar sua pelagem pálida.

"Há coragem e dor aqui, Lobo. Muitos, agradecidos, encontrarão seu fim." Ela empunhou o arco e disparou um arco de rápida finalidade.

O último suspiro de um soldado veio junto de um inacabado consentimento, ao mesmo tempo em que seu escudo cedeu à força de um pesado machado. Presa em seu coração jazia uma única flecha branca, faiscando com brilho etéreo.

"A coragem me é um tédio," reclamou o grande lobo preto enquanto acompanhava pela neve. "Tenho fome e vontade de caçar."

"Paciência," ela murmurou em sua orelha pendente. Assim que suas palavras lhe saíram, os ombros do Lobo se tensionaram e seu corpo passou a esgueirar pelo chão.

"Sinto cheiro de medo," ele disse, tremendo de empolgação.

Ao longo do enlameado campo nevado, um escudeiro — deveras jovem para a guerra, mas, mesmo assim, com espada em mãos — viu que os Kindred haviam marcado todos no vale.

"Eu quero a carne macia. Ela nos vê, Ovelha?"

"Sim, mas precisa escolher. Alimente o Lobo ou aceite meu abraço."

A batalha convergiu seu tilintar de aço em direção ao escudeiro. Ele agora fitava a maré turva de bravura e desespero que dele surgia. Essa seria sua última alvorada. Naquele momento, o garoto tomou sua decisão. Ele não aceitaria seu destino. Até o último suspiro, ele fugiria.

O Lobo disparou pelo ar e brincou com a neve como se fosse um filhote.

"Sim, caro Lobo." A voz da Ovelha ecoava como um barbante de sinos perolados. "Inicie sua caçada."

Com isso, o Lobo ricocheteou pelo campo atrás do jovem; seu uivo trovejando pelo vale. Seu corpo sombreado varria sobre os restos dos cadáveres recentes e suas inúteis armas despedaçadas.

O escudeiro se virou e correu para a mata até que troncos grossos e pretos passassem por ele como um borrão. Ele persistiu; o ar gelado cortava seus pulmões. Seu olhar buscou mais uma vez pelo seu caçador, mas nada pode ver além das árvores e a escuridão que traziam. As sombras se fecharam sobre ele, fazendo-o perceber que não havia escapatória. Aquilo era a sombra do Lobo, e estava em todo lugar ao mesmo tempo. A perseguição chegou ao fim. O Lobo enterrou seus dentes afiados na garganta do escudeiro, arrancando fitilhos vibrantes de vida.

O Lobo refestelou-se no grito do garoto e no som de seus ossos esmagados. A Ovelha, que o acompanhava, riu com a cena. Ele virou-se e perguntou a ela, em algo que mais parecia um grunhido do que voz, "Isso é música, Ovelha?"

"Para você, é." Ela respondeu.

"De novo..." O Lobo lambeu a última gota da vida do jovem presa em seus dentes caninos. "Quero caçar de novo, Ovelhinha."

"Sempre haverá mais," ela sussurrou. “Até o dia em que houver somente um de nós."

"E então, você vai fugir de mim?"

A Ovelha voltou-se para a batalha. "Eu nunca fugiria de você, caro Lobo."

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