Evangeline entra na cozinha como um turbilhão. Tinha manchas de tinta dos cabelos e por todo o rosto e o avental. Os cabelos encaracolados, sempre selvagens, estavam especialmente mais bagunçados que o normal, resultado das longas horas que passou incessantemente em frente à tela de pintura.
Esperava encontrar apenas sua mãe, como de costume, e os dois criados preparando o almoço, mas assim que passa pela porta é surpreendida pela presença de um rapaz muito alto, elegantemente vestido de fraque. Ele reage com um leve riso, divertindo-se com a cena, após perceber que, ao deparar-se com ele, as bochechas dela ficaram vermelhas.
Sua mãe, por sua vez, não estava vestindo-se da mesma maneira de sempre. Tinha os cabelos presos, e usava um vestido formal.
— Evangeline! — a mãe exclama, ao vê-la, com visível constrangimento — eu não te avisei que hoje receberíamos o pretendente da sua irmã para o almoço?
Ela solta uma risada nervosa ao fim da frase, tentando disfarçar o seu desgosto.
― Eu acabei esquecendo.
Evangeline suspira, passando os dedos por seu cabelo, tentando tirar as manchas. O rapaz, claramente escondia um riso, e estava se divertindo com a situação, o que ela não gostou.
― Pois então vá arrumar-se logo, já estamos nos preparando para almoçar. ― a mãe diz, levando-a pelo ombro.
― Permita-me apresentar?
O rapaz se pronuncia, antes de deixarem a cozinha. A mãe recua, o rosto queima de constrangimento. O seu plano de tirá-la da visão dele o mais rápido que podia, não funcionou.
― Claro. ― ela responde, numa risada nervosa.
Ele ergue a mão para Evangeline. Nesse momento ela percebe mais detidamente seus traços. Os olhos azuis e cabelos escuros ondulados, muito cheios. Sua postura é polida, e o corpo esguio e mais alto que ela, tinha a mão por trás das costas, e sua coluna ereta.
― Edmund Boyce. ― ele diz.
― Evangeline Bordeaux.
Ambos curvam-se, numa reverência. Ela percebe desde logo, que ele fingia ser cortês, mas na verdade só estava tentando prolongar o constrangimento que ela estava sentindo, Evangeline percebe e lança um sutil olhar desafiador para ele.
― Eu sempre digo que garotas não deviam andar com cabelos tão selvagens, mas ela nunca me ouve.
A mãe se explica, rindo nervosamente. Evangeline revira os olhos, entediada.
― Devia ouvir sua mãe, senhorita. ― ele concorda, mas no seu olhar estava clara a intenção de provocá-la ― moças devem ter cabelos bem mais asseados.
Evangeline enrijece o rosto, com profunda desaprovação. Ele gosta disso.
― Ah, vamos Evangeline, vamos logo.
A mãe apressa-se, levando-a pelo corredor.
Elas seguem atravessando a passagem, da sala para o corredor que levava aos quartos, pisoteando o chão de madeira, levemente rangendo. Por todo o caminho Evangeline ouve algo como um disparar de resmungos vindos da mãe, que ela já estava acostumada a ignorar.
― ...Agora entre aí e saia como uma princesa!
Ela exige, fecha a porta do quarto com Evangeline dentro, que bafora com tédio e segue para começar seus preparos. Como estava atrasada, não daria tempo de pedir a um dos criados para esquentar a água e teria que tomar banho frio. Durante todo o processo, ela consegue ouvir murmúrios através das paredes, vindos da sala de jantar, onde já estavam reunidos para o almoço.
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A Irmã da Noiva
RomanceEvangeline nunca entendeu como sua irmã mais velha, Polly, poderia se sentir, não só tranquila, como animada, para se tornar noiva de um rapaz que nem conhecia. Criada à sombra da irmã, que era bela e tinha todas as qualidades de uma perfeita esposa...