Capítulo I

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Evangeline entra na cozinha como um turbilhão. Tinha manchas de tinta dos cabelos e por todo o rosto e o avental. Os cabelos encaracolados, sempre selvagens, estavam especialmente mais bagunçados que o normal, resultado das longas horas que passou incessantemente em frente à tela de pintura.

Esperava encontrar apenas sua mãe, como de costume, e os dois criados preparando o almoço, mas assim que passa pela porta é surpreendida pela presença de um rapaz muito alto, elegantemente vestido de fraque. Ele reage com um leve riso, divertindo-se com a cena, após perceber que, ao deparar-se com ele, as bochechas dela ficaram vermelhas.

Sua mãe, por sua vez, não estava vestindo-se da mesma maneira de sempre. Tinha os cabelos presos, e usava um vestido formal.

— Evangeline! — a mãe exclama, ao vê-la, com visível constrangimento — eu não te avisei que hoje receberíamos o pretendente da sua irmã para o almoço?

Ela solta uma risada nervosa ao fim da frase, tentando disfarçar o seu desgosto.

― Eu acabei esquecendo.

Evangeline suspira, passando os dedos por seu cabelo, tentando tirar as manchas. O rapaz, claramente escondia um riso, e estava se divertindo com a situação, o que ela não gostou.

― Pois então vá arrumar-se logo, já estamos nos preparando para almoçar. ― a mãe diz, levando-a pelo ombro.

― Permita-me apresentar?

O rapaz se pronuncia, antes de deixarem a cozinha. A mãe recua, o rosto queima de constrangimento. O seu plano de tirá-la da visão dele o mais rápido que podia, não funcionou.

― Claro. ― ela responde, numa risada nervosa.

Ele ergue a mão para Evangeline. Nesse momento ela percebe mais detidamente seus traços. Os olhos azuis e cabelos escuros ondulados, muito cheios. Sua postura é polida, e o corpo esguio e mais alto que ela, tinha a mão por trás das costas, e sua coluna ereta.

― Edmund Boyce. ― ele diz.

― Evangeline Bordeaux.

Ambos curvam-se, numa reverência. Ela percebe desde logo, que ele fingia ser cortês, mas na verdade só estava tentando prolongar o constrangimento que ela estava sentindo, Evangeline percebe e lança um sutil olhar desafiador para ele.

― Eu sempre digo que garotas não deviam andar com cabelos tão selvagens, mas ela nunca me ouve.

A mãe se explica, rindo nervosamente. Evangeline revira os olhos, entediada.

― Devia ouvir sua mãe, senhorita. ― ele concorda, mas no seu olhar estava clara a intenção de provocá-la ― moças devem ter cabelos bem mais asseados.

Evangeline enrijece o rosto, com profunda desaprovação. Ele gosta disso.

― Ah, vamos Evangeline, vamos logo.

A mãe apressa-se, levando-a pelo corredor.

Elas seguem atravessando a passagem, da sala para o corredor que levava aos quartos, pisoteando o chão de madeira, levemente rangendo. Por todo o caminho Evangeline ouve algo como um disparar de resmungos vindos da mãe, que ela já estava acostumada a ignorar.

― ...Agora entre aí e saia como uma princesa!

Ela exige, fecha a porta do quarto com Evangeline dentro, que bafora com tédio e segue para começar seus preparos. Como estava atrasada, não daria tempo de pedir a um dos criados para esquentar a água e teria que tomar banho frio. Durante todo o processo, ela consegue ouvir murmúrios através das paredes, vindos da sala de jantar, onde já estavam reunidos para o almoço.

A Irmã da NoivaOnde histórias criam vida. Descubra agora