DOZE

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  ◇◇  ◇◇  ◇◇ Rafael ◇◇  ◇◇  ◇◇

— Lily, se acalma. Se continuar assim você vai abrir um buraco no chão — digo vendo ela andar de um lado para o outro pelo seu quarto.

— Eu preciso achar aquelas folhas. Preciso — ela entra no closet e escuto o som das coisas sendo jogadas no chão.

— Por que precisa dessas folhas e de que folhas você está falando? — pergunto.

Escuto ela bufar lá dentro.

— São os rascunhos do meu primeiro livro. Eu escrevi ele quando tinha dezoito anos. Preciso achá-lo.

— Por que?

— Porque eu vou rele-lo e depois decidir quais cenas eu vou colocar no livro que estou prestes a escrever.

— E por que você não reescreve o primeiro livro ao invés de o reler inteiro e depois escrever outro?

— Porque eu já imaginei tudo em uma nova história. Não quero reescrever um livro, eu quero alguns capítulos dele, trechos específicos. Não vou salvar mais nada do que isso. Tem informações nele que eu preciso, assim que eu pegá-las, eu me livro daquela história.

— Tudo bem, então — desisto de tentar entender.

— Achei! — escuto seu grito feliz.

Ela sai do closet e segue diretamente para a sua escrivaninha e se senta na cadeira.

— Eu posso ler esse livro aí? — aponto para as centenas de folhas na sua mão.

— Não, não pode.

— Por que?

— Porque não.

— Isso não é resposta.

— Sério? Então por quê eu acabei de te responder com ela?

— Tudo bem. Você está brava. Não toco mais no assunto — ergo as mãos mesmo sabendo que ela não vai ver.

Escuto seu suspiro e logo ela se vira para mim.

— Desculpe, não queria ser grossa. É só que. . . Eu escrevi isso quando tinha acabado de chegar na América. Nessa família. Eu não estava bem. Então, antes que eu acabasse explodindo, eu transformei meus pensamentos em prosa. São parágrafos sombrios e pesados demais. Não quero que ninguém veja aquilo.

— Não vai ser demais para você? Talvez reviver aqueles pensamentos não te faça bem — digo esperando para que ela diga que não vai ler.

— Tudo bem. Eu consigo. São os meus pensamentos. Eu sei o que vou encontrar lá. Além disso, eu sinto que preciso fazer isso.

— Não precisa fazer nada que te faça sentir mal.

Mesmo sabendo que ela está bem e recuperada, eu ainda me preocupo com a sua saúde. Não quero que ela passe por emoções tão fortes e quem tem o risco de fazê-la se sentir mal novamente. Não em relação ao câncer – mesmo que isso também me preocupe – mas em relação à sua saúde mental.

Lily sorri e vem até mim. Toco sua cintura a trazendo para meu colo. Ela acaricia suavemente meu rosto.

— Não se preocupe. Eu sei o que estou fazendo. Ninguém melhor do que eu para ler meus pensamentos — ela brinca.

— Está bem. Mas, se você voltar a pensar alguma daquelas coisas nem que seja por um segundo, me avise. Não vai passar por nada sozinha — ordendo seriamente.

Lily assente e me beija. Suas mãos sobem para os meus cabelos e eu desço as minhas para a sua bunda a apertando levemente. Sua língua invade a minha boca e brinca comigo, mas eu logo tomo as rédeas e a beijo mais forte. Esse beijo testa o nosso autocontrole.

A Garota da Fita Vermelha Onde histórias criam vida. Descubra agora