TRÊS

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◇◇  ◇◇  ◇◇  Rafael  ◇◇  ◇◇  ◇◇

Levo a Lily até a parte de trás da casa, onde tem uma quadra de basquete.

— É claro que você tem uma quadra particular.

— É claro que eu tenho uma quadra particular.

Vou até o canto da parede e pego uma das bolas no suporte. Começo a quicar a bola no chão, me aproximando aos poucos da quadra. Lily me encara com um sorriso desafiador. Nós começamos a jogar e eu vejo que ela é boa. Deve ter passado anos jogando com seus irmãos. Ela me bloqueia e consegue roubar a bola, começando a driblar até a outra extremidade da quadra. Ela faz um cesta de três pontos perfeita e me olha vitoriosa.

— Você é boa — admito.

Ela me dá um sorriso e parece ofegante. Percebo quando engole e seco e olha ao redor. Franzo a testa.

— Vamos entrar. Tenho um delicioso suco de laranja nos esperando — provoco.

Arranco um sorriso dela. Então nós dois entramos e vamos até a cozinha. Lily logo se senta nas banquetas e eu pego a jarra de suco e um copo.

— Imagino que você não tenha suco de morango.

— Claro que não. Eu tenho bom gosto.

— Pode me dá uma água?

Lhe entrego a garrafinha de água mineral e ela bebe em goles pequenos e sedentos. Ela parece realmente cansada.

— Você está bem?

— Sim. Fazia um tempinho que eu não jogava. Acho que perdi a prática — mentira. De novo. Mas decido não questionar.

Um celular começa a tocar e ela resmunga ao ver a tela do seu aparelho.

— Oi, mãe. Sim, estou bem. Eu. . . Joguei com o Rafael — ela fica em silêncio por um tempo, apenas escutando. — Eu sei. Desculpe, não vai mais acontecer. Eu esqueci.

Observo a sua expressão mudar conforme a conversa vai desenrolando. Primeiro, ela parece ficar preocupada, depois seu rosto se contorce em culpa e depois ela parece triste. Quando desliga o telefone, a garota respira fundo e bebe um longo gole de água. Ela não me olha.

— Estou em apuros por ter te sequestrado? — tento quebrar o clima.

— Não — ela me dá um sorriso pequeno. — Mas eu estou em apuros por me deixar ser sequestrada. Preciso ir.

— Ah. Nós podemos nos ver amanhã?

— Não. Eu já tenho um compromisso. Mas podemos nos ver depois de amanhã, se você quiser.

— Por mim já está marcado.

Nós dois saímos da casa e eu volto a dirigir até a sua. Lily se despede com um sorriso gentil e eu retribuo o gesto sem muito esforço. Essa cena — eu no carro em frente à sua casa e ela ao meu lado — me faz voltar a noite a passada. Para o momento do beijo, e eu preciso lutar contra todos os meus instintos para não repetir a cena.

Lily e eu, mesmo sem nos ver, conversamos durante horas por mensagens. Sempre que ela ficava um tempo sem responder, eu sabia que estava rindo do outro lado da tela. Eu digitava coisa idiotas para fazê-la ri e ela retribuia ficando em silêncio por um tempo, até que sua crise de riso passasse e ela voltasse a digitar. Até que em algum momento, depois de horas de conversa, ela acaba me enviando um áudio. Ela enviou sem querer. Seu dedo pressionou o botão de gravar áudios e enviou alguns segundos da sua risada. Uma risada gostosa e sincera. Contagiante. Como um idiota, eu ri sozinho junto com o áudio. Ri ainda mais pelas mensagens seguintes da Lily pedindo desculpas e dizendo que foi por acidente.

A Garota da Fita Vermelha Onde histórias criam vida. Descubra agora