Parte 4

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No domingo eu passei o dia todo sozinha, aproveitei para terminar o trabalho e enviei para o Bruno que deu alguns retoques, iríamos entregar nessa semana ainda.
Mas mesmo com meu todo ocupado pelo trabalho, quando foi anoitecendo eu fiquei sem nada para fazer e meu maldito celular na mão.

O beijo do Bruno me fez relembrar o passado, coisas que eu adoraria ter esquecido.
Quando eu fiz 18 anos, eu coloquei os silicones para aumentar meus seios, como comecei o tratamento de readequação de gênero, acabei desenvolvendo seios na adolescência mas ainda eram pequenos e eu quis aumentar as minhas mamas, mas ainda não tinha feito a cirurgia que me daria uma genitalia feminina perfeita.

Mas com meu pós operatório no fim, Valéria disse que era hora de pôr as "meninas" para jogo e fomos em uma boate, foi muito divertido mas conheci o Jorge.
Jorge era um cara de balada sertaneja, camisa polo e energético na mão. Ele foi divertido, chegou com uma cantada me pagou uma bebida, mas quando fomos para os finalmentes.....

- MAS QUE PORRA! - Gritou Jorge quando ergueu meu vestido, ele sentiu o meu membro e se afastou com nojo. - Você é um macho!

- E-e-eu sou uma menina. - Gaguejando eu tento me explicar, mas ele cospe em minha cara e depois me dava um tapa.

Jorge me agrediu naquele dia e sai correndo do seu apartamento e liguei para a Valéria, ela queria me levar para a polícia mas eu não quis fazer uma denúncia, minha mãe também me respeitou e quando as marcas roxas sumiram, marquei novas cirurgias.
Tinha uma nova genitalia, além de corrigir o dano do meu nariz pelo soco que levei, daquele dia em diante eu não tive coragem de me aproximar de alguém que não fosse da comunidade lgbt. Eu tinha medo e vergonha do meu passado, de quem eu era.

ᵛᵒᶜᵉ̂ ᵗᵉᵐ ᵘᵐᵃ ᵐᵉⁿˢᵃᵍᵉᵐ ⁿᵒᵛᵃ

Aparece uma notificação no meu celular e logo vejo que era uma mensagem da Valéria, abria para ler e dava uma risada alta.

- Garota você é louca!

Falo em voz alta quando ando até a porta de entrada da casa, Valéria tinha enviado uma foto dela na porta da minha casa e segurando duas caixas de pizza, eu abria a porta vendo ela sorrindo.

- Eu posso ser louca mas você é uma safada. - Damos beijinhos no rosto  e ela entra em casa.

- Porque eu sou uma safada?

- Helloooo??? Você beijou o Bruno!! - Valéria comemora enquanto segue para a porta de correr da piscina.

A sigo até a área da piscina e ela se joga em uma cadeira de praia e eu me sento na outra, ela me passa uma das caixas de pizza e eu sinto o cheiro.

- Amo pizza havaiana! - Era meu sabor favorito, abria a caixa e pego uma fatia, dando uma mordida. A melhor mordida era a primeira e a última.

- Você está se esquivando da minha pergunta. - Valéria insiste e eu olho ela e Ignoro mordendo a pizza novamente. - Vamos lá, Lys. Me fala tudo.

Odeio quando ela me chama pelo meu nome do meio, odiava mesmo porque isso significava que ela não ia desistir e estaba completamente perdida. Suspiro deixando a fatia dentro da caixa junto das outras ainda não tocadas.

- Está bem, eu conto. - Então descrevo de forma rápida sobre nosso envolvimento.  Quando termino eu volto para a minha fatia de pizza.

Valéria, que tinha jogado uma bolsa no chão a pega e abria tirando de lá duas garrafas pequenas de vinho e entrega uma para mim, abria a garrafa com tampa de rosca e dava um gole.

- Intenso. Não sabia que o Bruno era cavalheiro e atrevido ao mesmo tempo. - Ela mordia sua fatia de pizza de bacon. - Vocês vão sair quando?

- Não sei ainda, preciso me preparar. - Admito a ela.

V saca seu celular e tira uma selfie, depois ela se vira para que a câmera pegue nos duas e eu faço sinal de paz com os dedos e ela tira outra foto para o Instagram.

- Deviam sair no final de semana. - Ela diz, eu penso sobre aquilo por um instante.

Final de semana que vem, poderia ser uma boa já que passamos de segunda a sexta ocupados com as aulas, talvez eu possa chamar ele para um café nos intervalos.
Acabo contando essa ideia para a V que concorda e mudamos de assunto, ela põe uma música no seu spotify enquanto curtimos a noite, sentadas nas cadeiras reclináveis, comendo pizza e bebendo vinho com as luzes da piscina iluminando.

A minha melhor amiga logo retira sua blusa, relevando seus seios redondos e depois retira seu short e eu engasgo vendo a cena dela ficando pelada, no caso quase já que estava de calcinha e ela me entrega seu celular.

- Tira uma foto minha.

- Oi?

- Vai, tira uma foto minha. - Ela se senta na cadeira novamente e fazendo uma pose. - Quero ter fotos sexy de seminudes.

- Isso é tão inconveniente. - Comento com uma risada e pegando seu celular para tirar as fotos, após a sessão da rainha modelo, eu lhe devolvo o celular e ela veste a regata branca novamente.

- Obrigada, isso me ajudou muito.

- Alguém em especial?

- Uma garota que achei no tinder, ela é bem gostosa e modelo e quero que ela veja que sou gostosa também.

- Não tem formas melhores disso?

- Não. - Ela diz com toda certeza e eu apenas ria, Valéria era assim mesmo e eu tento não contráriar. - Se tudo der certo vamos estar namorando na próxima segunda.

- Vamos brindar a isso então. - Erguia minha garrafa e ela batia a dela na minha.

-  Confia em mim gata, eu vou namorar essa menina e você vai estar planejando um casamento com o gostoso do Bruno.

- Prefiro planejar minha residência com ele em um hospital particular do que o casamento. - Era cedo de mais para pensar isso.

Sabia que em pouco tempo Valéria iria enjoar daquela garota como ela enjoa de todas e eu definitivamente não vou pensar em casamento enquanto tivemos apenas um beijo. Ainda havia muito a que se conversar.

- Só vai com calma, V. - Peço a ela que já estava tirando outra selfie.

Algodão Doce (+12) Onde histórias criam vida. Descubra agora