Faz 6 meses desde que fundei outro Quilombo, mais escondido, mais seguro e muito mais forte.
Algumas vezes os Orixás falam comigo, mas eu não os vejo. Me passam instruções, me avisam sobre perigos, mas os nativos também ajudam bastante, conhecem a mata como ninguém mais, em troca, arrumamos comida e prestamos segurança a eles.
Decido caminhar, arranjei boas botas e vestimenta confortável, com um sobretudo que possui um capuz, isso vai me ajudar a não ser vista.
Soube que não muito longe, a umas 2 horas de caminhada há uma fazenda. Talvez lá eu consiga alimento e novos integrantes do Quilombo, perdemos muitas pessoas no ataque, preciso de pessoal.
Enquanto caminho colho ervas e frutas, consigo água num riacho e até alguns peixes. O sol está quente mas de nada me atrapalha, gosto de sentir minha pele quente, gosto de sentir que estou viva!
Seguro a todo momento o cabo da espada, mas tbm estou com um arco e flecha que peguei emprestado com uma das indígenas. Preciso conhecer melhor os poderes que me foram dados antes de começar a usá-los, por enquanto, força bruta me será o bastante.
Percebi que estou próxima a fazenda, e de longe já observo, perto de um monte de árvores, um capitão do mato chicoteado um homem num toco de árvore. Apesar das chicotadas serem fortes, o homem não grita. Vejo que esse homem possui um corpo grande, forte e ainda é alto... Será de grande ajuda.
Me esconde entre as árvores próximas aos dois, estou de frente para eles mas somente o chicoteado percebe minha presença. Olho para ele fixamente, se não soubesse que está sendo ferido eu nem iria perceber, seu rosto não emana dor, somente uma raiva profunda no fundo dos olhos. O capataz grita:
- Isso, seu preto maldito, é pra jamais inflamar revoltas novamente seu podre desgraçado, será chicoteado mais mil vezes até que grite seu imundo!
- Não acho que seu chicote irá balançar mais nenhuma vez - digo, me mostrando- acho que já chegou sua hora de gritar.
- E quem é você sua vadia preta? Não é dessa fazenda, fugiu de qual em maldita?
- Não fugi de lugar nenhum, nasci livre, como esse homem ficara quando você finalmente gritar.
- Sua vadia desgraçada!
Ele larga o chicote, puxa uma pistola e desfere 5, 6, 7 todos contra meu peito. O homem amarrado se espanta ao ver que não cai. Olho para as marcas e nenhuma nem sequer entrou. Enquanto levanto a cabeça esboço um sorriso malicioso. O capataz grita:
- Bruxa! Demônio! Saia de perto de mim, sai de perto de mim!
Antes que ele gritasse mais eu corro e o pego pelo pescoço, o ergo no ar e digo:
- Infelizmente não vou ouvir seus gritos, vai acabar chamando atenção, deve morrer calado.
E então quebro seu pescoço.
Viro para o homem amarrado e começo a cortar as cordas, coloco meu sobretudo sobre suas costas e digo:
- Quantos capatazes?
- São nove, mais o senhor da casa e dois filhos homens.
- Crianças, mulher?
- Não, só eles.
- Precisamos sair daqui o mais depressa possível, não irá conseguir lutar nesse estado, prometo que quando melhorar, voltaremos aqui e liberaremos os outros.
- O que você é? - diz ele com a voz falha - Como fez isso?
- Eu... Eu não sei ao certo._______________________________________
Quando chegamos ao Quilombo eu pedi ajuda a Aziza, minha curandeira desde pequena. Ela examinou e cuidou dos ferimentos daquele homem, decidi que iria ver tudo para aprender a fazer quando ela não estiver por perto. Apesar dos ferimentos ele estava bem de saúde e logo iria se recuperar. Quando terminou, Aziza me chamou para fora da oca e perguntou:
- Onde encontrou esse rapaz minha filha?
- Numa fazenda aqui perto.
- Isso foi perigoso, ele deve ser um escravo muito útil, vão procurar por ele.
- Antes disso eu irei libertar todos os outros, prometi a ele enquanto vínhamos para cá.
- Isso é arriscado, vai chamar atenção.
- Eu sei, mas precisamos de pessoas o suficiente para fazer a viagem até Salvador, lá iremos conseguir nos manter e pegar o que for preciso da cidade.
- Tem certeza disso, Aya?
- Absoluta, lá estão os mandantes da morte de meu pai._______________________________________
Quando o homem acordou eu estava colocando água em um jarro para ele. Quando o vi desperto, disse:
- Você é bem forte.
- Disse quem quebrou o pescoço de um homem com uma única mão.
- Haha - rio entre respiros - Eu não sou uma pessoa muito... Comum.
- Percebi. Me diga, por que me ajudou?
- Preciso de pessoas, se não percebeu, está num Quilombo, meu Quilombo, ouviu falar de Zumbi e de Palmares?
- O paraíso? Ouvi.
- O paraíso caiu a 6 meses.
- Ouvi disso também.
- Eu sou filha dele, e quero fazer um paraíso eterno, que jamais caia. Para isso que salvei você, você é forte.
- E precisa dos outros da fazenda?
- De todos. Irá me ajudar?
- Disse que é a líder desse Quilombo?
- Sim, sou, me chamo Aya.
- Se é assim, estou sob seus comandos, Aya.
- E então - me viro e esboço um sorriso - qual é seu nome meu guerreiro?
- Bomani minha líder, me chamo Bomani.
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De Outra Vida
Random#Marvel #Killmonger #PanteraNegra #Romance #Orixás Ao ser chamada por T'Challa para salvar a vida de N'Jadaka (Erick Killmonger), Aya, uma guerreira abençoada dos orixás relembra de sua primeira vida. Após a morte cruel dos seus pais, Dandara e Zum...