Capítulo Único - Caustic

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  Exatos cinco segundos; sem desvios e sem exagero algum. Um tempo tão preciso, que soou irreal quando o estrondo luminoso cegou os olhos esperançosos de Kirishima e um som alto anulou quaisquer outro que pudesse existir.
  Quando fora lançado para longe, distanciado de seu próprio destino, ele sabia que o som da voz de Bakugou era a única que gostaria de escutar. Ao menos pela última vez.

  Costumavam dizer, na época em que a pouca idade estimulava a inocência, que a dor mais profunda, e o vazio mais intenso que um ser humano pode sentir; é a morte. O momento em que as sensações voam para longe, espairecendo rapidamente no ar; e que o brilho dos olhos se apaga no mesmo ritmo em que o coração sessa suas batidas.
  Acompanhar o próprio corpo perder a vitalidade e todos os sonhos afundarem no esquecimento era, definitivamente, o que Kirishima imaginava ser o maior desprazer de um ser humano.

   Porém, naquele dia; o que depôs marcas tão violentas em seu peito, que os poucos segundos memoráveis permanecem cobertos por névoa; pudera entender que a maior dor que um coração apaixonado pode sentir: é a de presenciar o último suspiro da pessoa por quem você daria a própria vida.

  A tempestade taciturna que ocupava os céus e desfalecia no horizonte cinzento, através da janela, ricocheteou sua alma com força, assim que as primeiras gotas de chuva desenharam o vidro com traços abstratos. Seus olhos pareciam perdidos, tomados por um desconforto que beirava a incerteza; ou talvez premonição.

  Havia algo de errado com os céus naquele escuro fim de tarde.

  O breve lampejo de um raio aclarou a cidade por instantes, antecedendo o estrondo magnânimo do trovão que a preencheu com seu eco, e tremulou o coração de Kirishima em uma sintonia agradável.

  Agradável, pois o lembrara daqueles olhos cáusticos.

   Rúbidos como as chamas de uma explosão; destrutivos; que pareciam carregar a fúria de um anjo dentro de si. Os olhos ardentes, que sempre o encararam de maneira incisiva e cortante, corroendo qualquer certeza que pudesse ainda ali existir.

Bakugou; o que possuía em suas iris uma mistura cáustica de de fúria, força e fulgência.

  Sim, a grandiosidade sempre estivera estampada naquela personalidade intensa. E Eijirou sabia que, antes mesmo dele, Bakugou conseguiria alcançar a meta de se tornar o maior herói de todos.

  Ao menos se ainda pudesse resplandecer na cidade, como um dia fizera.

  Outro raio desprendeu-se entre as nuvens, porém, a tempestade mal permitia que a população adormecida ouvisse seu estrondo abafado. Apenas Kirishima, no mesmo instante em que o lampejo aclarou novamente os céus, sentiu o desfalecer de uma lágrima mansa escorrer sobre o rosto, na exata velocidade em que o som ecoou em seus ouvidos.

  Exatamente como fora naquele dia.

  O dia em que pudera conhecer a dor sufocante da impotência, e a marca cruel da destruição perante seus olhos marejados; assim como estavam diante da tempestade gélida daquela noite.

  Talvez esse fosse o real significado de "ser um herói". Lutar bravamente em nome da justiça, sendo capaz de morrer por ela. Quem sabe, o temor não pudesse existir em antros como fora aquele.
E, talvez, Bakugou já soubesse disso quando decidira ser o melhor.

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  Altos eram os gritos do povo. Seus corações palpitavam na esperança breve de que a morte não desse as caras ali; e de que algum símbolo da paz despontasse entre as fagulhas daquela fumaça densa. 
    Outrora, a confiança ainda emanava dos olhos desesperado; pois, após o estrondo que cegara à todos instantaneamente, um silêncio ensurdecedor percorreu cada centímetro da cidade.

Caustic - Katsuki Bakugou Onde histórias criam vida. Descubra agora