Falling into Sun

Someone stole all the air so I can't speak

        "Tudo bem, Liam. Respira fundo. Você pode fazer isso pelo Harry, sabe que pode."

        Liam encarava seu reflexo no espelho, enquanto tentava alisar as pregas inexistentes em sua camisa, e alinhar os fios de cabelo que estavam impecáveis.  Respirou fundo algumas vezes antes de sair do pequeno banheiro de seu apartamento. Não era como se ele tivesse algum tipo de fobia social, mas é que... Harry era seu único amigo em Brighton, já que havia se mudado há pouco tempo, logo após sua graduação em Publicidade Criativa na Leeds College of Art, e ir a um pub encontrar o namorado de Harry e os amigos dele era um pouco intimidador. Sabia que quando estavam juntos, não existia Harry e Louis, apenas Harry&Louis, e isso poderia ser um tanto desconfortável.

        Havia conhecido Harry ainda na adolescência, quando o obrigaram a apresentar o novo colega – que nem era de seu ano – a todos os professores da escola. Aparentemente, Harry decidiu naquele momento que faria parte da vida de Liam sem perguntar se poderia e, de qualquer forma, ele não teria escolha, teria? A verdade é que devia muito do que era ao amigo mais novo. Desde ter conseguido entrar para a faculdade que queria, até ter a coragem de não voltar à casa dos pais em Wolverhampton para se arriscar em Brighton. A parte ruim é que Harry tinha noção de tudo isso e usava as fraquezas de Liam – lealdade e bondade extrema – contra ele quando precisava convencê-lo de algo.

        — Relaxa, Liam! Eu juro que eles são legais, e tenho certeza de que vocês vão se dar bem – Harry falava enquanto seguia Liam pelo apartamento, parando o amigo no meio do caminho, que andava pela extensão do corredor como se aquilo fosse ajudá-lo a pensar melhor ou descobrir se daria tudo certo. – O Louis vai chegar a qualquer momento, você tá pronto? – Liam se virou e caminhou até seu quarto sem ao menos responder Harry, e abriu a porta de seu guarda-roupa fitando a própria imagem.

        — Acho que sim – disse simplesmente, ainda pensando no quanto sua noite poderia dar errado. Liam respirou fundo mais algumas vezes ao ouvir a campainha soar. Louis havia chegado e qualquer chance remota que tinha de voltar atrás em sua decisão, pra ficar em casa e fazer uma maratona de Supernatural com bastante pipoca e Coca-Cola, desceu pelo ralo. – Harry, você pode atend...

        — Liam! – Ouviu alguém, Louis, gritando seu nome. "Ótimo, Louis 'tá animado, minha vida acabou." – Harry me disse que você tá surtando e eu não te criei pra isso! – Liam rolou os olhos, como sempre fazia quando Louis, bem... Existia próximo a ele. Não, Liam nunca odiou Louis. Pelo menos não por muito tempo. Tomlinson sempre foi um verdadeiro tornado na vida de alguém, daqueles que passam quebrando tudo e assustando quem estiver no caminho, mas não é segredo pra ninguém que lá no fundo, mas bem no fundo mesmo, ele é um poço de amor e cuidado. – Você levanta essa bunda gorda... É... Levanta esse projeto de bunda da cama agora, porque eles já estão esperando a gente e eu vou culpar você! – Louis entrou no quarto praticamente derrubando a porta. Puxou Liam pelos braços, logo se colocando atrás do amigo para empurrá-lo para fora do quarto. – Talvez sua bunda esteja gorda mesmo, tá pesado pra caralho!

                                                                                       ***

        O ar úmido e morno típico dos finais de tarde de verão, e a corrente de vento que entrava pelas janelas do carro deixavam tudo mais fácil, inclusive aguentar o casal que a cada semáforo trocava beijos e sussurros que Liam não fazia questão de prestar atenção. Ele não tinha intenção alguma de ouvir o que Louis sussurrava, ou saber o porquê das risadinhas que Harry soltava em resposta. O problema é que seus amigos eram tudo, menos sutis, e não faziam questão de manter o tom de voz baixo. Então quando Louis mencionou Liam no meio de tantas juras de amor e promessas de um boquete no banheiro do pub, o mínimo que Liam poderia fazer era fechar os olhos e tentar apurar sua audição. Não que fosse tão necessário assim.