peek a boo | wenrene & hyunsoul

until the moon hovers over the toys

Quando o relógio bateu a primeira balada da meia noite, algo de estranho ocorreu no antigo Instituto Católico abandonado há milhares de anos.

A construção se encontrava em ruínas em um dos montes mais temidos pelas pessoas. Desde a desativação do local, ninguém ousou aproximar-se dali, não ao menos aqueles que sabiam das lendas e contos sobre o lugar.

Com o passar do tempo, o pequeno vilarejo próximo tornou-se um povoado e anos após uma pequena cidade. Hoje, muito conhecida pelos festivais de Halloween que ocorriam por toda a cidade. No entanto, principalmente pelos desaparecimentos que ocorriam nessa mesma época.

Para muitos aquilo não passava de um mito idiota e uma coincidência incrível, para outros era apenas quando os verdadeiros vilões podiam matar sem serem reconhecidos e, para alguns, os desaparecimentos justamente naquela noite eram um ato de rebeldia juvenil. A realidade era que ninguém ousava ir muito a fundo nas tragédias que rondavam aquela cidadezinha, até porque o que mudariam se encontrassem a causa de tudo?

A noite estava apenas se iniciando e Joohyun já sentia como se suas forças estivessem sendo recarregadas. Desde que seu lar tornou-se sua pior prisão, sentia como se seu poder estivesse diminuindo a cada ano. Wendy por outro lado sentia que sua raiva e desprezo faziam seu poder crescer mais a cada ano. Ambas eram tão opostas, porém partilhavam das mesmas sensações.

Haviam muitas lendas a respeito daquelas duas, mas apenas uma era verdadeira e ficava sob responsabilidade das presas em acertarem a correta. Tudo não passava de um jogo de pique-pega. Elas arrastavam alguém até ali e eles tinham um tempo determinado para contar a história verdadeira, se errarem, bem, vocês sabem o que acontecia.

Ninguém nunca soube responder corretamente, felizmente para aquelas duas que sempre tinham uma ótima refeição após longos meses em um coma induzido.

O antigo salão principal do Instituto encontrava-se completamente destruído e empoeirado, o odor de morte se sobrepondo a qualquer outro possível e a lareira funcionando como se fosse a única coisa não afetada com o decorrer dos anos e nem com a grande perseguição que ocorrera ali.

Wendy olhou ansiosamente para a brasa queimando lentamente e tornando o lugar mais aconchegante do que o usual; Irene caminhava pelo Instituto como se procurasse por algo interessante a se fazer. Mesmo que já fosse dia trinta, ainda era necessário esperar até as pessoas saírem fantasiadas.

Olhar aquele lugar que durante anos fôra um lar para aquelas duas causava repulsa em ambas. Saber que estavam condenadas a passarem a eternidade ali lhes causava repulsa.

— Como é possível prender duas pobres almas em um lugar tão fedorento e frio?

O tom cínico usado pela Son pôde ser ouvido pelo local todo. Irene que saia de um dos quartos riu baixo.

— Deve ser a falta de sensibilidade dos humanos, eles nunca souberam o que é gentileza de verdade.

O barulho irritante e quase estridente dos saltos batendo contra o piso de madeira pura soava cada vez mais alto para alegria de Seungwan. Para os jovens que caçavam naquela noite, aquele som era o último que gostariam de ouvir, pena que não havia escapatória.

A verdade sobre aquelas duas era que, por serem seres imortais e possuírem poderes completamente desconhecidos pelos humanos, levavam uma vida irresponsável e feroz, deixando um rastro de sangue por onde passavam.

Wendy era uma bruxa muito poderosa nascida em Salém. Após a morte de sua mãe na adolescência, fôra enviada para um convento onde viveu uma vida de formalidades e mentiras. Precisou aprender sozinha a controlar sua magia e a viver escondida entre os humanos, no entanto, fôra traída pela pessoa que mais amou na vida. Já Irene havia nascido a tanto tempo que ao menos se recordava de muita coisa. Nascida na Romênia, a mulher viveu grande parte de sua existência por ali, que por muitos séculos fora considerada uma pessoa importante para o povo que residia. Diferente da Son, que fora traída, Joohyun cansou-se da realeza, o tédio dominou-a de uma forma sem igual.

Vagou durante alguns anos até salvar Wendy de ser queimada viva, levando-as a criarem uma ligação poderosa e sem igual.

O desejo por sangue surgiu após uma caçada longa e perigosa com alguns nobres. Até então apenas se falava de magia obscura entre as bruxas, essas que nunca utilizaram de tal poder, mas naquela noite após serem ingratamente acusadas de cometerem tais atos, Joohyun iniciou um ritual, nunca antes visto ou estudado por Seungwan. Algo ocorreu naquela noite e ninguém até hoje sabe explicar o que foi e nem mesmo Wendy é capaz de responder.

Desde então, ambas criaram um laço um tanto quanto forte e duradouro, passando até mesmo a sentir o poder da outra. Foi assim que se iniciou as caçadas.

Atualmente, por estarem presas ao Instituto apenas podiam caçar por ali, torcendo para que os jovens curiosos e excitados viessem à sua procura. Não tinham medo de em algum momento eles pararem de vir, pois sabiam que era praticamente impossível tal coisa acontecer; jovens são sempre tão imprudentes e prontos para arriscar suas pobres vidas.

— A casa está como todos os anos.

— Suja e fedorenta?

Irene lançou um olhar desdenhoso para a Son e sorriu de canto logo em seguida.

— Aterrorizante e fascinante aos olhos mundanos.

Wendy caminhou calmamente até a mais velha e deixou um singelo beijo em seus lábios, sorrindo logo após o ato.

Não estava surpresa do local estar da mesma forma de sempre, por algum motivo nenhuma alma viva ousava entrar ali em outras situações além do Halloween, parecia até que se tornava invisível aos olhos humanos nos outros dias do ano.

— Se for para fazer, por favor, faça direito! — Exigiu a Bae enquanto puxava a mais nova para seus braços e beijava-a duramente.

Era uma coisa comum entre elas. Anos convivendo juntas, evitando outras bruxas e até mesmo seres humanos. Não eram do tipo de pessoas com a mente prendida em um conceito tão banal quanto a heteronormatividade, onde apenas podiam se relacionar com homens. Elas sentiam desejo, a luxúria quase sempre gritando por suas correntes sanguíneas, desejando o toque de outra pessoa. Se elas podiam aliviar aquele desejo da outra, por que não o fariam?

O beijo não durou muito, logo Irene já estava explorando o pescoço imaculado da outra mulher, deixando seus instintos e seus desejos falarem mais alto. As mãos percorriam o corpo alheio com adoração, dedilhando por cima da roupa escura e justa que a Son usava. Aproveitaram o momento de espera para saciar aquela louca vontade, redescobrindo o corpo alheio diversas vezes, levando a outra ao ápice quantas vezes forem necessárias até enfim sentirem-se um pouco saciadas.

O sol nascia preguiçosamente de lado, Wendy ainda deixava beijos molhados pelas costas nua de Irene que brincava com a ponta do lençol abaixo de si. Era uma visão poderosa e excitante, mas que duraria pouco, pois aquele dia era o de caça.

O restante do dia passou-se rapidamente. Para a alegria daquelas duas, faltava pouco mais para o relógio bater sete e meia da noite e enfim as crianças saírem de casa atrás de doces ou travessuras e, obviamente, os mais velhos em busca de aventuras.