1. Fique comigo, Neji

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Rock Lee estava tendo um daqueles sonhos em que se mantém ao menos parte da consciência, sabia que não era a realidade. Geralmente o sonhador tem mais controle nesses tipos de sono, porém percebeu que estava perdendo e ficou preocupado.

Era a guerra ninja e ele estava no meio junto com seus companheiros da vila da folha, e de outras vilas, para salvar o seu mundo.

Estava cansado, sujo, tinha que recuperar as energias, desviar daqueles ataques, quando notou... Neji.

Neji não se desviou, pelo contrário, ele se pôs na frente de Hinata e Naruto... por ali caiu.

Oh, não...

As pernas de Rock Lee ficaram fracas, trêmulas, seu corpo inteiro.

Pavor ao ver Neji tão fraco, um ninja tão espetacular quanto ele daquela maneira, nos braços de Naruto, cuspindo o próprio sangue.

Mesmo com o medo do que estava a presenciar, por instinto, correu até lá, para estar ao lado dele, talvez por não acreditar no que estava vendo.

— Neji...

Sua pele e suas pupilas claras perdiam ainda mais a cor, o brilho, como aquilo poderia ser possível? Não fazia sentido, ele não poderia ter feito um escudo para se defender? Neji Hyuuga sempre esteve pronto para as situações mais desesperadoras.

Eles tinham um combinado de se enfrentarem no futuro, não tinham? Planos para o futuro. Neji tinha tanto ainda para resolver com a família. Essa seria a "solução"? Por quê? Não, não podia.

A vista embaçava, a garganta secava, espessa. As narinas ardiam junto aos olhos. Chorou.

Chorou a soluçar, chorou copiosamente. Não importava estar no meio do campo de batalha, ou o que o assassino tinha a dizer. Berrou aos quatro ventos o nome dele.

Doía.

Como doía.

Seu companheiro de time, amigo, eterno rival, estava em seus braços. Não importava o quanto o sacudisse, ele não mais responderia.

Se não estava a gritar, estava a murmurar:

— Fique comigo, Neji... volta... Neji... Neji...

Os olhos dele estavam parados, sua pele se esfriando, só podia abraçar o corpo que não passava mais de uma casca. Ele não estava mais lá, e não adiantava mais implorar para que ele voltasse.

A voz de Tenten, muito abatida, lhe parecia distante e abafada, um ruído ao longe chamando por seu nome, preocupada, sem saber o que fazer ou dizer. Lee não conseguia se focar, porque só se lembrava que não mais ouviria Neji falar, lhe dar broncas, provocar, pedir que prestasse atenção, se preocupar consigo.

O rosto pressionado contra o peito dele, não sentia se mover, não ouvia mais os batimentos. Chorou nele todo, desejando que ele despertasse, e como sempre, o afastasse, emburrado.

Estamos no meio de uma guerra, o que pensa que está fazendo, Lee? — Podia imaginar o que ele diria, enquanto tentava lhe afastar pelos ombros, sem aplicar muita força, a face clara se avermelhando.

Mas se o coração dele parou de bater, como o sangue correria mais intenso em seu rosto irritado, envergonhado?

Como seu rosto ficaria irritado, se os nervos respondiam ao cérebro, que parou?


Após Rock Lee ouvir as palavras de Gai-sensei, engoliu tudo. Toda dor e frustração, para se recompor, ainda precisava lutar. Lutar pela honra do ninja prodígio que jazia em seus braços.

Com a mão ficou firme fechou os olhos de Neji para sempre. Os olhos perolados, não mais possuíam sua luz.

Daquela forma parecia que ele só estava descansado e que logo despertaria...

Esperança tola que só lhe causava mais dor, ao ponto de esmagar seu peito.

Não era justo.

Não era justo!


Acordou.

Lee acordou.

Tive um pesadeloOnde histórias criam vida. Descubra agora