21 de junho de 2019
O sol ainda não havia aparecido no céu do planalto central, uma Hilux preta bastante suja de barro cortava a BR-010 no máximo de velocidade permitida pela lei, indo em direção à cidade de Alto Paraíso de Goiás, o veículo transportava apenas duas pessoas e muito equipamento de pesquisa.
— Mas vá com calma, por favor, tu é botânico, não tirador de racha. — Falou Kauê Machado, aquele sentado no banco do passageiro. 25 anos, afro americano tipicamente brasileiro, tinha olhos da mesma cor de sua pele, o cabelo preto estava devidamente cortado e penteado para o lado esquerdo. Agrônomo recém formado, era conhecido como o revolucionário dentro do curso por odiar monocultura mais do que tudo no mundo, sempre presente em todos os protestos possíveis, pois nos últimos anos se dedicou a ser um ativista radical contra o uso de agrotóxicos enquanto sua fonte de renda era vinda das frutas e verduras orgânicas que ele vendia nas feiras pelo Distrito Federal e seu Entorno.
— Certo senhor carona, pensando aqui, eu seria um ótimo piloto de fuga, né? — Respondeu Júlio Feuille, aquele que dirigia. 25 anos, caucasiano devidamente nascido em Lyon, França, de cabelo e olhos pretos que mostravam simplicidade. Pós graduado em Botânica e tal viagem era para a pesquisa de seu mestrado sobre plantas nativas do cerrado, desde pequeno demonstrava ser mais inteligente que os demais ao seu redor, como resultado, aos 15 já havia terminado o ensino médio. Não precisava trabalhar até então, sua família sempre lhe dava conforto, embora pudesse ostentar dinheiro em festas, ele apenas sabia pensar em como as flores florescem.
— Óbvio que sim, a polícia nunca pararia um homem branco europeu. — Brincou Kauê rindo e reclamando de uma problemática social.
— Sabia que você fica, tipo, muito lindo quando milita? — Falou Júlio despreocupadamente enquanto contemplava a beleza que ele via no namorado.
— Que golpe baixo... Me elogiando quando tô problematizando. — Respondeu após ficar envergonhado.
— Apenas falei a verdade... — Afirmou rindo, sendo um típico idiota que fazia graça para quem ama.
— Dirige, burguês safado, dirige! — Ordenou desconversando, em seguida passou a mão carinhosamente no rosto do seu companheiro.
A manhã se consolidou, haviam apenas árvores e arbustos secos por uma longa imensidão, onde a única existência de civilização era a estrada que percorreram, eles contemplaram tamanha paz natural e tiveram a certeza de que chegaram ao local que deveriam pesquisar. Devidamente preparados com roupas e equipamentos próprios para este cenário, foram para o meio do mato e nele permaneceram por três horas que passaram rapidamente, ao realizarem uma pausa, Kauê se apoiou em uma mangabeira para tomar água e Júlio sentado entre o capim falou após conferir as noticias em seu celular:
— Ei Ká, olha! A liga da justiça está nos trending topics. — Organização de heróis autoproclamados responsáveis pela proteção mundial.
— Justiça? — Risos. — Tá com sinal aqui? Ah, o que fizeram dessa vez?
— Parece que terão uma espécie de satélite de vigilância no espaço para proteger todo o planeta. — Resumiu.
— Todo o planeta ou apenas a parte norte e ocidental dele? — Tomou mais um gole de água.
— É, tem o discurso e tem as ações.
— Sabe, eu realmente achei que tudo mudaria com esses poderosos agindo, mas no fim, ficou a mesma zona de sempre, não, na verdade piorou. — Criticou.
— Entendi que, sem soluções, temos os mesmos problemas e agora com bandidos utilizando armas que disparam raios no lugar de balas. — Falou entristecido.
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NASCIDOS DA NATUREZA
Fiksi PenggemarA luta por um Brasil justo levou a vida de muitos, onde atuar como herói nesta terra é considerado um ato insano, mas Kauê e Maria ainda enxergam uma última luz de esperança, gratificados pela magia natural, a fonte primordial de tudo, decidiram agi...