Contos de Horror...

O Grande

Uma garota estava sozinha dentro de sua casa. Desde o momento em que seus pais saíram pela porta da frente, a garota não havia saído do lugar em que estava naquele momento: sentada nos degraus da enorme escadaria que dava para a porta principal da casa.

Ela estava assustada. O porquê, ela não sabia responder. A mesma apenas se sentia uma formiguinha dentro de uma mansão tão grande quanto aquela. Levando isso em consideração, podemos dizer que ela tem medo da solidão? Não, não era isso. A garota amava ficar sozinha, principalmente em casa. 

Digamos que esse escrito fosse uma produção de cinema! A câmera iria capturar o rosto da menina, só que não focaria nele. Mas sim (através de um ângulo de baixo para cima) em um jovem que estava há alguns degraus acima da garota: a verdadeira razão do seu medo.

- Essa foi a sua segunda chance, criança. E você a desperdiçou! - disse o jovem que estava acima da escada.

A garota não disse uma palavra. Apenas, permaneceu em silêncio.

-Você sabe o que lhe vai acontecer quando o Grande souber da sua hesitação? Ele não vai te libertar e você estará condenada a viver dentro dessa casa para sempre! Assim como eu e todos os outros.

A garota rapidamente olhou para cima da escada e sorriu para o jovem. Em seguida, ela levantou dos degraus e começou a subir as escadas em direção a ele.

- Eu fiz um acordo com o Grande: o assassinato dos meus pais em troca da minha liberdade - diz a garota, exibindo um sorriso malicioso para o garoto à medida que se aproximava dele. - Antes eu havia me perguntado o porquê de ter tantos espíritos de crianças nessa casa. Depois eu entendi: vocês estão todos mortos e precisam de alguém para tomar conta de vós. Vocês precisam de pais. Os meus pais.

- É o maior objetivo do Grande desde que Ele matou a primeira criança há anos atrás. Não cabe a Ele exercer esse papel, porque ele é um ser que não se permite relações com seus servos - disse o jovem, pausadamente. - Somos almas puras, crianças. Perfeitos para servir ao objetivo do Grande e através disso, demonstrarmos nossa devoção a Ele. Mas acontece que... Todos nós não fomos corajosos o suficiente para cumprir essa missão.

- Eu supus isso também - disse a garota, com o sorriso malicioso ainda estampado no rosto. - Mas será que o Grande vai cumprir a parte dele do acordo? Se eu realmente matar os meus pais, para que eles cuidem de suas almas, eu terei a liberdade?

O menino não respondeu imediatamente. Ele estava hesitando. Ele não conhecia as reais intenções do Grande. Não havia como responder com propriedade se Ele cumpriria a sua parte do acordo. Mas de uma coisa o jovem tinha certeza: assim como fez com a garota, para todos os outros Ele disse a mesma coisa: suas almas serão condenadas ao purgatório se não cumprirem com a sua palavra.

Ele estava morto, assim como os outros. Antes estava vivo! Mas agora, não mais. O Grande tirou a sua liberdade. Portanto, ele cumpriu com a sua palavra.

- Sim, ele cumprirá. - respondeu o jovem, cuja expressão estava livre de toda hesitação.

A garota deu um sorriso para ele e se aproximou de seu ouvido e sussurrou as seguintes palavras:

- Acho que podemos fazer alguma coisa pra acabar com essa palhaçada, não acha?

O menino olhou chocado para a menina e perguntou a ela:

- Como assim, você acha que...

No seguinte momento, algo estranho aconteceu.

A boca do jovem começou a se abrir de uma forma que deu a impressão que algo estava querendo sair de dentro dele. E na verdade, estava! O espaço interno da boca estava pegando fogo. E no meio dele, duas mãos com enormes garras brotaram. E elas estavam indo na direção da garota.

Não deu para perceber o segundo que aconteceu. Mas a única coisa que a garota sentiu antes de perceber que a sua garganta havia sido cortada pelas garras daquela criatura, foi um ventinho que entrou pela abertura do lugar onde antes havia pele e não uma fonte de sangue interminável.

O Grande mais uma vez havia cumprido a sua palavra.