Capítulo 7 - "Céus, o que foi isso?"

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            Mayanna é dessas pessoas que entra na tua vida e põe teu mundo de pernas para o ar. Eu bem sei disso. Somos primas e mesmo compartilhando a boa genética da família, por assim dizer, não poderíamos ser mais diferentes. Da nossa geração, ela é a melhor. A que sorri alto, a que expõe as opiniões sem medos e claro, arranja muita confusão com isso. E eu sou a que fica lá, observando e sorrindo. Tendo a certeza de que jamais cometeria metade das loucuras que ela faz. Digo... Acreditava nisso até há alguns minutos.

            A Maya está morando na Espanha há quase oito anos, ela fez um curso por lá e gostou tanto do país que acabou conseguindo um visto permanente, se tornou assistente pessoal de um magnata da tecnologia e só vem ao Brasil uma vez por ano, passa quinze dias, apronta todas e volta para à terra da Tomatina. Ah! A Tomatina é uma festa realizada na cidade de Buñol, em Valência. E Valência é uma província maravilhosa onde a Maya fixou residência.

             Ano retrasado, ela ficou com o noivo da Patrícia, uma prima chata que sempre implicou com a Maya. No ano passado, ela impediu o casamento da própria mãe, levando minha tia até o motel onde o futuro marido estava com uma garota de programa, que, foi ela mesma quem contratou. Parece cruel, mas o tempo mostrou que o Tobias realmente não valia nada. E esse ano... Ah! Esse ano a vítima de suas inconsequências sou eu. Tudo começou... Não sei dizer quando começou. Mas, ontem fui intimada pela própria Maya a comparecer no jantar que a mãe dela estava organizando. Era compreensível, afinal, os quinze dias chegaram ao fim, e aquela foi a forma que minha tia encontrou de se despedir da filha. E lá estava eu, vestida como se tivesse ido para mais uma reunião de trabalho. É muito difícil para mim, abdicar das roupas sociais. Enquanto a Maya ia de um lado para o outro graciosamente dentro de um vestido vermelho e decotado. Sinceramente, fiquei um pouco frustrada, porque até aquele momento, pós jantar, a minha prima ainda não fizera alguma de suas "artes". Sério, esse ano ela estava diferente, até a cor dos cabelos voltou ao tom natural: castanho escuro. É que desde os dezessete anos ela vem experimentando todas as possíveis cores nas madeixas. Enfim, não houve "tretas" da Maya. Claro que foi comentado o fato de a Patrícia não estar presente, mas nem isso fez com que minha prima fizesse algum comentário venenoso. Ela apenas riu alto. Meus pais, tios foram para um lado, e os primos para a varanda. Nossa meta era esvaziar aquelas garrafas de vinho e falar besteiras.

             Estar com a Maya era natural e divertido, trocarmos olhares e saber exatamente o que estávamos pensando também era algo bem natural entre nós. Agora, ficar olhando para o seu decote daquela forma não era nem um pouco natural. Ainda bem que ninguém havia notado. Ríamos de uma das aventuras românticas do Léo, nosso primo, na verdade, eu gargalhava ao ponto de chorar. E então, a Maya ficou séria e me olhou de uma forma tão profunda que engoli o riso. Ela pôs a taça sobre a mesa, levantou e simplesmente saiu. E eu? Sei lá porque, a segui.

             Eu queria culpar o vinho, porém, não havia tomado mais que meia taça. Só sei que estava olhando para a forma como ela rebolava enquanto se dirigia para fora do apartamento. Acionou o elevador, que não demorou a chegar, esperou que eu entrasse primeiro e só então colocou-se ao meu lado e apertou o botão do térreo. A porta se fechou e por alguns segundos, ficamos em silêncio dentro daquela caixa de aço.

            — Você estava me secando?

            — Como é?

            — Olhando a minha bunda. ‒ Disse simplesmente.

            — 'Tá louca?

            — Estava ou não? ‒ Insistiu com um risinho se formando nos lábios.

Conjunturas: The Collection of Tales [Contos Lésbicos]Onde histórias criam vida. Descubra agora