Capítulo 2 - Are Not You the Person

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            Não sei se estar tão perto de você é algo bom. Ainda não sei se posso afirmar que estou completamente curada ou se meu coração está livre da dor que você me fez sentir. Já nos machucamos tanto, e eu não tenho a pretensão de continuar com esse jogo de quem tem mais poder sobre quem, acredito que o amor é algo bem diferente disso que vivemos. Eu gostaria de simplesmente me calar e deixar tudo como está, mas não posso, tem algumas coisas que preciso te dizer, porque assim que você sair por aquela porta, estaremos fechando para sempre as cortinas do tempo para a nossa história de (des) amor.

            Primeiro, tenho que admitir que estou surpresa por meu emocional ter dado conta de aguentar todas essas emoções intensas que fizemo-nos sentir. A primeira vez que você foi embora, pensei que não ia resistir, entretanto, descobri que a vida não pararia para eu me recompor, tive que engolir cada lágrima e instante de desespero usando um falso sorriso e sempre dizendo estar tudo bem. Mas não estava nada bem, sempre que chegava à noite, eu colocava em prática o exercício de te esquecer e não percebia que aquilo só me fazia lembrar mais e mais de você. Todas as manhãs eu precisava juntar os pedaços de mim para no fim da tarde os ver esparramados pelo chão, fosse por uma música que lembrava nós, fosse por algo teu que ficou para trás, assim como eu fiquei. Pensei que morreria de saudade, achei até que estava enlouquecendo por sentir teu cheiro mesmo você não estando aqui, e nas raras noites em que conseguia dormir, tinha a certeza que estava no calor dos teus braços. Sabe, é que mundo parecia ter perdido todo o sentido para mim, e foi justamente nessa descida ao fundo do poço que pude enxergar algumas verdades sobre esse sentimento. Um amor que sempre causou mais dor que alegrias, que trouxe mais dúvidas que certezas. Ali, encolhida naquele fundo de poço, eu compreendi que após ter deixado a dor me consumir, estava mais que na hora de levantar e me refazer.

            Segundo, quando eu te aceitei de volta, eu realmente acreditava que poderíamos diferir da versão anterior. Que esse sentimento, agora amadurecido, pudesse nos causar bem. Nem mesmo em nossos piores dias, nos olhei pensando no fim. Mas, a verdade é que as coisas mudam, as pessoas mudam... Eu mudei. Por isso, eu peço desculpas, mas não posso dizer que eu também não consigo viver sem você. Isso não me cabe mais, não nos cabe mais. Embora eu tenha passado um bom tempo acreditando que essa era uma verdade. Enfim, vou te dar um conselho que eu mesma precisei seguir: você não pode querer apenas alguém que te complete, e sim, alguém que te transborde. Alguém, do qual você não precise, mas que seja infinitamente bom ter ao lado e te faça sentir vontade de partilhar a vida. E sabe, ainda que com o coração ferido, descobri que para mim, essa pessoa não é você.

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