Sentei em frente ao computador e busquei: SUNKOU. Apareceram diversos sites, sobre jogos, coisas japonesas e etc. Mas nada relacionado ao que eu queria. Resolvi abrir meu celular e buscar pelo Twitter, a maior rede para achar esse tipo de coisa. Deslizei os dedos pela tela, Erik cruzando e descruzando os braços, nervoso e ansioso. Suspirei, ele dizia querer desvendar tudo mas ficava ali parado esperando eu resolver e achar as coisas.
Enquanto reclamava sobre seu comportamento internamente, notei pelo canto do olho uma postagem de cerca de dois meses atrás que dizia: ''Para a eternidade e sempre, Edgar Allan Poe em nossos corações.''
Franzi o cenho, quem comentara fora aquele clube de leitura da faculdade que eu participara apenas por uma semana. Lembro de um garoto que sempre falava sobre Poe no clube, como era o nome dele mesmo? Olhei as curtidas daquela publicação.
Vi vários nomes de alguns membros do clube que eu conhecera e outros que nunca havia visto na vida. Continuei lendo até que me deparei com três nomes que brilharam para mim como holofotes: Cora Finak, Karolline Massao e.... SUNKOU.
Arregalei os olhos, aquilo era um codinome, só podia ser. Cliquei no nome e acessei a conta do indivíduo. Haviam várias postagens sobre citações de Poe mas o mais importante era as postagens nos dias 18 de maio e 25 de julho. No de 18, ''Hino a Pã'' estava citada, e no dia 25... arfei. ''Annabel Lee'' havia sido postado há menos de duas horas.
Procurei que nem louca alguma informação a mais sobre o tal SUNKOU. Até que encontrei uma foto do dia 17 de junho. Era a foto de um museu. Um museu que fizera uma exposição de Edgar Allan Poe aqui em Kensy. Levantei-me, quase derrubando a cadeira no processo.
— Vamos, Erik. Acho que sei como descobrir o nome dele.
Ele sorriu orgulhoso e apontou para a porta da sala de informática, dizendo:
— Damas primeiro.
Bufei e corri para fora daquele lugar. Não tínhamos tempo. Se aquele assassino estava atrás de mim, então não podíamos perder tempo. Era questão de minutos.
Pegamos um táxi e fomos até o Bairro Genneviv. De lá, fomos a pé para o Museu Nacional de Kensy. Eram apenas oito horas, não deviam ter fechado. Assim que chegamos na portaria, percebemos que o lugar ainda estava movimentado. Erik pediu para ir ao banheiro e eu tive de ir pedir a lista de presença para o gerente. Tive que inventar uma desculpa esfarrapada sobre presente de aniversário de namoro. Mas logo fui atendida.
Demorou uns cinco minutos e eu ficava olhando para todos os lados. Achando que alguém iria chegar por trás e me matar. Mas apenas respirei fundo e esperei até que o gerente me trouxesse a lista. Peguei depressa e abri logo no dia 17 de junho. O gerente ficou ao meu lado, encarando-me esquisito. Que ótimo, entra na fila.
Haviam cerca de dez nomes. Bati uma foto e devolvi o caderno ao gerente. Ele pegou emburrado e eu parti em busca de meu parceiro, que pelo jeito estava com uma tremenda dor de barriga pela demora. Mas no fim encontrei-o em um banco do lado de fora do museu, os pés batendo de forma rítmica no chão.
— E então? — perguntou ele.
Apontei para o celular e ele assentiu. Atraquei-me a procurar por cada nome da lista. Busquei no Instagram, Facebook, Twitter e nenhum parecia ter algo a ver com o perfil de nosso assassino. Até que pesquisei o último nome da lista: Finneas Skool. Encontrei o perfil no Facebook, e não precisei de mais nada. A foto de perfil era ele em frente à exposição de Poe e... um cachecol vermelho.
Um tsunami de emoções, entre elas pavor e horror, caiu sobre mim. Meu olhar fixo no cachecol.
— O que foi? — Erik falou preocupado.
— Foi ele. Tem que ser. Ele estava no ônibus hoje mais cedo, quando encontrei o livro. E na semana que participei de um clube de leitura da faculdade, tinha um garoto que falava direto sobre Poe. Eu não me lembrava direito do rosto ou do nome, mas agora eu tenho certeza, Erik. Foi o Finneas, ele é o assassino.
Por algum motivo, Erik suspirou aliviado. Encarei-o estupefata.
— Por que suspirou de alívio? Eu estou sendo perseguida por esse maníaco!
Ele arregalou os olhos e balançou a cabeça em negação.
— Desculpe, momento errado. Ainda temos que levar isso à polícia. E apenas aí, você estará segura.
Assenti e me levantei. Mas logo parei de caminhar.
— Eu... tive uma ideia, maluca talvez, mas acho que vai servir de uma forma bem melhor que todas essas nossas suspeitas e papéis. Vamos escancarar para a polícia a identidade do cara.
— Do que você está...?
Erik balançou a cabeça novamente, mas dessa vez não fora de negação. Fora de completa perplexidade.
— Não... De jeito nenhum, Cora. Você não vai servir de isca para esse psicopata. Está me ouvindo direito? Não vai.
Suspirei.
— Não temos escolha. Você mesmo disse que a polícia daqui é inútil. É capaz de eles acharem que isso tudo é uma grande piada e aí sim eu irei morrer. Precisamos pegá-lo com a mão na massa. Mas vou precisar de você para isso.
Ele estendia as mãos para meus braços e minha cabeça. Como se quisesse me esmagar, me bater ou fazer qualquer coisa para que eu desistisse daquele plano insano. Porém em nenhum momento ele me tocou.
— Droga, Cora! Achei que estávamos tentando te proteger! E não te entregar de bandeja para o tal de Finneas! Não me faça participar disso, Karol morreu quando ignorou o perigo. E eu sei que não temos o espírito dela aqui e agora para nos dizer o que fazer, afinal, os espíritos não podem falar sobre suas mortes. Mas eu sei que ela jamais deixaria você fazer o que planeja!
Erik passou as mãos pelo cabelo, nervoso. Aproximei-me e tentei tocar em seus ombros mas ele se esquivou, o medo brilhando em seus olhos. Recuei, a culpa em meu ser me esmagando.
— Eu sei, eu sei, mas ela não pode me impedir e nem você. Porém eu... eu preciso de você. Por favor, Erik. Eu posso até ter feito tudo isso sozinha, mas você foi meu guia. Preciso que agora troquemos de papéis, preciso que confie em mim. Me deixe guiar nossa investigação e acabar com isso.
Ele encarou o chão e me encarou, seu olhar ficou viajando entre tudo ao nosso redor e eu. Até que ele fixou em meus olhos e assentiu.
— Qual é o plano? — e dessa vez, eu sorri.
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Mortos Não Falam (conto)
Mystery / ThrillerA vida pode tomar rumos drásticos quando menos esperado. Para Cora, esses rumos não vieram de forma positiva. Porque quando ela se vê no meio de uma investigação, à procura de um novo assassino em série, ela percebe que às vezes não damos o devido v...