Aquele fim de semana foi longo.
Terrivelmente longo.
Dois dias pareceram dois anos.
Para piorar eu não sabia onde colocara o meu relógio de bolso. Vasculhei por toda a parte, refiz os passos do escritório até em casa, e não fazia ideia onde havia deixado a única relíquia que me restava do meu saudoso pai. A minha capacidade de perder algo tão estimado me deixou ainda mais mal humorado.
Na segunda-feira de manhã, Carlos me entregou os trabalhos que deveriam ser realizados ao longo da semana. Pela pilha imensa, eu teria trabalho suficiente para tirar a moça do restaurante da minha cabeça.
Moça do restaurante .
Só então percebi que eu não sabia seu nome. Tudo o que eu sabia era que ela tinha lindos olhos desafiadores e inquietos. Não havia um nome, não havia como chamá-la a não ser por Dona dos Olhos Cor de Céu.
A manhã passou rápido, e após inventar uma desculpa para não almoçar com Carlos, corri até a Cantina Santini. Ao chegar ao portão senti meu peito acelerar. Estava ansioso e não conseguia parar de sorrir.
Assim que entrei, encontrei a mesa vaga, a mesma que ocupei na sexta-feira anterior. Esperei desassossegado que a porta da cozinha se abrisse e um lindo anjo me agraciasse com sua beleza. Algum tempo se passou e lá estava ela, linda como da última vez que a vi: os cabelos estavam presos em desalinho, deixando fios caídos sobre seu rosto. Quando seus olhos se encontraram com os meus, achei que o mundo se esquecera-se de girar. Vi-me atraído por aqueles olhos à medida que ela se aproximava.
— Você! — seu tom era mais de desapontamento do que de surpresa. Ela nem fez questão de me dirigir seu olhar, apenas retirou o seu caderninho e o lápis do bolso do avental e começou a rabiscar algo sem me encarar. — O quê vai querer? O prato de hoje é cotolleta alla milanese e antes que pergunte, sugira que opte por este mesmo.
Apesar de ficar encantado com o sotaque italiano ao mencionar o nome do prato, continuei a fitá-la, e não pude acreditar. Sua frieza foi maior do que da última vez. Como poderia uma jovem tão bela ser tão carrancuda? Ela nem ao menos se dignou a me olhar enquanto conversava, como se me ver sentado ali fosse algo repugnante demais.
Fiz o pedido e, antes mesmo de terminar de falar, ela girou-se sobre os calcanhares e caminhou apressada de volta à cozinha. Fiquei ali com o vazio, tentando pensar em uma forma de conquistá-la.
Talvez se eu mandasse flores....Não! Eu não sabia onde ela morava e nem seu nome para escrever um bilhete. Quem sabe uma carta? Melhor não, era cedo demais. Eu nunca fui muito criativo e minha cabeça estava dolorida por tentar achar uma forma de conquistar aqueles lindos olhos azuis.Ela deixou o meu prato sobre a mesa, sem se dar o luxo de me encarar, e voltou para a cozinha. Fiquei irritado com sua atitude. Por que eu era tratado de uma forma tão fria? Vi o modo como atender os demais clientes, ela agia de forma educada e simpática. Seu desprezo era exclusivo a mim.
Contrariado, mal toquei na comida. Eu estava insistindo em algo que não teria futuro. Ela não tinha os mesmos interesses e eu não podia forçá-la a corresponder aos meus sentimentos. Deixei o dinheiro sobre a mesa e caminhei até a saída. Estava tão frustrado...Se, ao menos, ela me desse um sinal que eu tivesse alguma chance....
— Ei, você! Espere!
Eu mal podia acreditar em meus ouvidos. Era mesmo aquela voz angelical atrás de mim?
Virei-me, receoso de estar sendo enganado pela minha imaginação, mas lá estava ela; linda, encostada junto à porta, com os olhos cravados em mim.
— Você esqueceu seu troco — sua voz era firme e sustentou o olhar enquanto caminhei até ela.
— É a gorjeta — disse seco diante de sua frieza.
Seus olhos possuíam um brilho estranho e ela desviou-os por alguns instantes, voltando a me olhar em seguida:
— Obrigada, mas não preciso. — Estendeu a mão com algumas notas dobradas.
Parecia ofendida e só então entendi que talvez eu tivesse sido um pouco grosseiro. Não me lembro ao certo, mas acredito que deixei dinheiro suficiente para uma ou mais refeições. Ela era honesta e eu a ofendi sem querer. Eu precisava corrigir a besteira que fazera.
— Talvez eu pudesse lhe comprar algumas flores. Você gosta de flores?
— Eu tenho que trabalhar. Tenha uma boa tarde. — De forma séria e ríspida, ela me deu as costas. Eu era horrível no jogo da conquista. Céus, eu precisava de ajuda!
— Ei, espere! — chamei-a, enquanto a vi me encarando zangada, de braços cruzados. A calmaria em seus olhos deu lugar a um céu anunciando a tempestade. — Eu a ofendi? Desculpe-me. Tenho um pouco de dificuldade para me expressar, e acabo me enrolando. As coisas em minha cabeça soam bem, mas quando falo não saem como o planejado. — Eu tentei sorrir, uma forma desajeitada de esconder meu nervosismo.
Por que, de repente, ficou difícil falar com uma garota? O medo de dizer alguma coisa que a chateasse me tomou, fiquei calado por alguns instantes tentando formular algo sensato.
A coragem nos torna maduros.
Respirei fundo, enquanto observava o modo como sua feição se suavizava, ela não estava tão furiosa quanto antes, até parecia se divertir com a minha falta de tato.
— Qual é a sua graça? — Aproximei-me um pouco mais, vendo que ela abaixara a guarda.
— E por que isso importa?
— Ora, acho que seria conveniente saber o nome da atendente mais bela deste restaurante da cidade. — Ela deu um meio sorriso e abaixou a cabeça. — Sem contar que precisarei chamá-la pelo nome, já que virei almoçar aqui daqui em diante.
Seus olhos repousaram sobre mim, ela parecia um pouco indecisa. Continuei a fitá-la, esperando pela resposta, e ela sorriu timidamente.
— Meu nome é Giovanna.
— Foi um prazer conhecê-la, Giovanna — fiz uma breve reverência me despedindo —, mas agora tenho que ir.
— Você não disse o seu nome. — Ela parecia curiosa, o que para mim foi um excelente sinal.
— Amanhã eu te direi. — Afastei-me indo em direção ao portão.
Eu até gostaria de perder mais alguns minutos conversando, mas percebi que ganharia o coração de Giovanna aos poucos. O pequeno avanço me fez sorrir feito uma criança que acabara de ganhar um doce.
Giovanna sorriu para mim e me disse seu nome!
Finalmente o anjo dos meus sonhos tinha um nome!
♡♡♡
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Aqueles Olhos Azuis
Conto"Definitivamente ela era a mulher mais bela em todo o mundo. De repente, todas as outras se tornaram invisíveis e eu tive a certeza que nunca soube o que era amar até conhecer tão encantadores olhos azuis. A mulher em minha frente me fez compre...