Sobre Cobras, Champanhes e Valsas

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Hermione encara o papel em suas mãos, sentindo-se estranhamente apática com relação ao seu conteúdo.
Ela observa as letras irregulares com um certo desprezo pela caligrafia desleixada que provavelmente reflete um pouco sobre o autor. Mas as palavras em si, não a impressionam em nada.
       Prostituta... Quem você pensa que é ?... Traidora... Vai ter o que merece...
Ela esperava por algo do tipo, principalmente vindo de alguma fonte anônima por que a maioria das pessoas ainda são apenas covardes, poucas pessoas em Londres se atreveriam a afrontá-la publicamente. O que deixou apenas cartas de ameaça como opção para esse tipo de gente.
Ela dobra cuidadosamente a carta e a leva até à última gaveta, junto com outras duas cartas que alí estão, elas as observa, se perguntando se deveria contar a Draco sobre aquilo, mas no mesmo instante decide contra, sabendo que ele apenas iria culpar a si mesmo e ela não queria colocar esse tipo de peso em suas costas. 
São apenas pessoas estúpidas e tolas, não mereciam sua atenção e certamente não merecem a de Draco.
Ela olha para o relógio no pulso e percebe que está atrasada.
Draco queria que eles chegassem juntos na festa de inauguração da Companhia, mas Hermione tinha uma reunião importante com o ministro e, além disso, Draco era o anfitrião, aquela seria a sua noite. Bem, dele e de seus amigos... Hermione se sente particularmente ansiosa com o pensamento de reencontrar os sonserinos, um leão entrando em um ninho de cobras sem dúvida, mas se eles eram importantes para Draco, ela se esforçaria, só esperava que eles tivessem a mesma cortesia para com ela.
Apressadamente, Hermione guarda suas coisas e aparata para sua não-mais-casa, que no momento se encontra bastante vazia, a maioria já desempacotada e lhe aguardando para depois do casamento no Solar.
Logo, não leva muito tempo para se arrumar, já tendo tudo planejado e de qualquer forma,  ela é uma bruxa, uma bem talentosa diga-se de passagem.
Então, quando tudo está no seu devido lugar, ela se examina rapidamente. Seu cabelo está preso no alto da cabeça com apenas alguns fios emoldurando o rosto, a pele emite um brilho dourado de um produto trouxa bastante cheiroso e o vestido... bem, ela nunca se sentiu tão elegante e atraente.
O carmesim desliza quente e fluido na sua pele, deliciosamente suave e revelando trechos de pele específicos; os braços, o colo, a perna direita e o vale de suas costas. O batom é de um vinho profundo e os olhos estão esfumaçados.
Ela sorri para seu reflexo e a bela mulher lhe devolve o sorriso com um olhar sensual.
É incomum para ela, tal produção, normalmente preferindo looks mais austeros e sóbrios, mas ela já não se sente a mesma há algum tempo, e naquela noite, ela estava determinada a aproveitar.
Hermione segue para a lareira e quando diz a si mesma que está pronta, ativa o flú que está ligado diretamente à lareira do escritório de Draco. Um pequeno privilégio, já que os convidados só podiam aparatar até o portão de entrada, e dalí deveriam ser levados por carruagens mágicas até o hall de entrada.
Draco disse que tudo era um show, um que Pansy se divertiu muito criando.
Assim que seus olhos se acostumam com a escuridão do lugar, ela olha ao redor, explorando o ambiente.
Sem dúvida é ostensivo, com prateleiras altas recheadas de livros e objetos. Os móveis parecem antigos, mas belamente preservados, assim como os quadros espalhados.
Ela para diante de um retrato de Narcisa Malfoy.
Linda e sofisticada, ela parece uma mulher forte. Como se estivesse preparada para tudo, quase arrogante, mas os olhos... são os mesmos de Draco e possuem a mesma característica comovente, uma doce vulnerabilidade.
O retrato quase parece trouxa, exceto por uma leve movimentação no seu queixo e um piscar de olhos ocasional.
- "Tia Cissa não gostava de quadros falantes, por isso colocou tão pouco de sí neles."
Hermione gira rapidamente, apenas para encontrar Theodore Nott sentado em uma poltrona parecendo como se já estivesse alí por algum tempo, um copo de bebida na mão.
- "Você quase me matou de susto, Nott. Na próxima vez vou estuporá-lo" Diz enquanto abaixa a varinha que tinha puxado em sua direção.
Ele sorri enquanto ergue as mãos como se fosse um pedido de desculpas. – "Prefiro Theo... se não se incomodar, vai descobrir que muitos de nós não gostamos de ser associados aos nossos sobrenomes." Fala, enquanto toma um gole de sua bebida. "Gostou da sala? Era de Lúcius... uma pessoa de quem imagino que você não goste muito."
Hermione dá de ombros. – "Gosto do filho dele, suspeito que gostaria da esposa dele e gosto da sala dele... vê, não gostar dele não me impede de apreciar as coisas boas."
- "E eu gosto do firewhisky dele." Completa Theo.
- "Obviamente."
Theo rir. – "Não me julgue até provar. Seu futuro sogro tinha um gosto impecável para bebidas. E charutos."
- "Que pena que não falaram isso no julgamento dele, o teria salvo de Azkaban."
Theo sorri enquanto se ergue. – "Espertinha...Vamos, vou levá-la até Draco. Ele não parecia acreditar que você viria."
Hermione bufa enquanto o segue para fora da sala. - "Draco precisa começar a acreditar em mim."
- "É nele mesmo que ele não acreditar, Princesa."
Aquilo lhe aperta o coração, mas antes que ela possa dizer qualquer coisa, eles já estão diante de um enorme e alto salão ornamentado primorosamente, cheio de bruxos e bruxas bem-vestidos.
O clima é claro e aberto, há uma banda ao fundo tocando músicas suaves e pequenos elfos vestidos de forma chique espalhados enquanto servem bebidas e aperitivos. Há grupos de conversas espalhados, algumas pessoas Hermione reconhece como membros da sociedade londrina, mas outros são claramente estrangeiros, possíveis investidores e é em um desses grupos que Hermione avista os cabelos loiros que tanto tentou não procurar.
Ela pode ver seu perfil e quão arrumado ele está. Desde criança, Draco sempre se vestiu de forma elegante e aquilo sempre assentou perfeitamente bem nele, ele nunca pareceu desajeitado ou forçado, mas confortável e seguro. 
Aquilo não mudou. 
Suas vestes negras acentuam seu físico esbelto, todo pernas compridas e ombros largos. Há uma confiança sedutora em sua postura e quando uma mecha de cabelo desliza por sua testa; aquilo lhe hipnotiza, roubando seu fôlego por algum motivo.
Ele é lindo.
Ridicularmente lindo.
- "Bem... sim e vocês terão crianças ridicularmente lindas."
Aquilo lhe faz rir. Ela tira os olhos de Draco, que parece ainda bastante entretido em alguma conversa e se vira para Theo.
- "E inteligentes, não se esqueça."
- "E irritantes, sem dúvida.."
- "Hey, não diga isso!"
- "Estou sendo apenas sincero, pensei que apreciaria isso em mim." Responde, parecendo tão inocente quanto uma diabrete.
- "Vou estuporá-lo, Theo. E então vou apreciar."
Theo abre a boca para responder quando Hermione sente uma mão longa e quente deslizar por sua cintura.
- "Espero que Theo não esteja implicando com você." Draco diz, sua respiração soprando em sua orelha. 
Hermione controla um arrepio. – "Ele estava implicando com nossos futuros filhos." Diz lançando um olhar mortal para Theo que parece divertido demais para o gosto dela.
- "Bem, ele com certeza não será padrinho de nenhum deles." 
Theo sorri. – "Continue mentindo para si mesmo. Sua noiva já me adora, de qualquer forma." Então ele se vai, parando apenas para reabastecer o copo de firewhisky antes de sumir entre as pessoas.
- "Isso é verdade?"
Hermione suspira. – "Infelizmente."
No mesmo instante, Draco gira Hermione, sem tirar a mão de sua cintura em nenhum momento, apenas acrescentando outra.
Seus olhos brilham.
- "Olá."
Hermione não consegue evitar que seus olhos caiam para seus lábios doces, antes de voltar a fitá-lo.
- "Oi." Murmura, adorando seu sorriso, como se fosse algo feito apenas para ela.
- "Você demorou, achei que tivesse que ir buscá-la."
Hermione sorri. – "Estava me arrumando para você, lembro que me pediu isso..."
]Ele aperta sua cintura, enquanto se afasta um pouquinho para examiná-la, a olha dos pés a cabeça, várias vezes, sem hesitar.
- "Acho que lhe avisei que sou ciumento? Vou começar uma briga no primeiro velho tarado que encostar a mão em você."
Aquilo lhe faz rir. – "Isso quer dizer que você gostou?"
- "Muitíssimo, me diga, que tecido é esse? Parece tão quente e suave." Fala enquanto pega um pedaço do tecido próximo à lasca de sua perna.
- "É seda da Tasmânia, reflete a textura e a temperatura da pessoa que a usa." Diz, observando seus dedos pálidos acariciando o tecido.
- "Sim?" ele pergunta, antes de soltar o tecido e dessa vez acariciar sua coxa exposta. 
Hermione é tomada por arrepios, sentindo o calor de seu toque suave.
- "Sim." Draco murmura, afirmando para si mesmo.
Ela olha para ele novamente e não pode deixar de se perguntar se ele tocaria seus lábios nos dela de novo. Como tinha feito no Solar dos Bosques, ou como tinha feito no dia seguinte, enquanto lhe dava boa noite depois de ajudá-la a organizar algumas coisas para a mudança, ou como tinha feito ontem, quando eles estavam tomando um sorvete depois do almoço e Draco disse que sua boca estava suja, mas antes que ela tivesse a chance de limpar, ele já estava se aproximando, os lábios tocando e sugando o cantinho de sua boca como se ela fosse o próprio sorvete até se afastar e esfregar o nariz no dela, a fazendo perder a respiração completamente, como em todas as outras vezes e nenhuma das outras vezes.
Mas sempre foi rápido demais e suave demais e pouco demais, ele a tocava como se fosse proibido. Um pequeno erro que ele se permitiria por que não poderia causar muitos problemas e então ele parava antes de se tornar um problema real, um grande problema, uma enorme confusão. E apesar de adorar esses momentos, aquilo só deixava Hermione com vontade de mais.
Ela queria que durasse mais e que fosse mais forte e que fosse mais íntimo e ela queria os erros pequenos e os grandes problemas e a enorme confusão.
Ela queria que ele abrisse sua boca e a beijasse de verdade. Ela queria morder seus lábios macios e chupar sua língua e engolir sua respiração. Ela queria...
- "Salazar, pare de me olhar assim, Hermione...". Draco geme, mais uma vez apertando sua cintura, os olhos brilhando como prata derretida e desespero.
Aquilo lhe trás de volta à realidade e ela se sente corando enquanto desvia o olhar.
Ele provavelmente deve ter lido seus pensamentos sujos estampados em seu rosto e percebido a louca pervertida que ela era. Não que fosse culpa dela, Hermione tinha plena certeza que a culpa era toda dele.
- "Preciso de uma bebida." Murmura. 
No mesmo momento, uma taça de champanhe flutua de uma bandeja próxima até sua mão.
Ela bebe o líquido gelado completamente, deixando que borbulhe magicamente na sua boca, estale em sua garganta e que apague o fogo no fundo de sua barriga.
O gosto é indescritível. 
Olha para a taça vazia, levemente surpresa.
- "Isso é delicioso, Draco. Nunca bebi algo assim."
Draco ainda parece estar superando o quase ataque de Hermione, os olhos ainda quentes e suas mãos ainda nela. – "É da adega de meu pai. Mas sim, você tem razão, é delicioso."
Então passa o polegar pelo canto de seus lábios, enxugando a umidade remanescente.
- "Se você quer saber..." ele diz baixinho, como se estivesse contando um segredo a ela. "Eu também quero, mais do que qualquer outra coisa no mundo."
Hermione observa sua expressão intensa, pensando mais uma vez em como ele é lindo e mais surpreendentemente em como ele é dela. Aquilo em particular lhe dar uma sensação de júbilo.
- "Mais do que fazer com que o Departamento de Comércio do Ministério se arrependa por não ter aceitado suas poções?"
Ele beija a pontinha de seu nariz. - "Muito mais."
Hermione sorri.
- "Theo tem razão, vocês são nauseantes juntos."
- "Pansy!" 
Eles se viram para encontrar Pansy e Daphne paradas diante deles.
Daphne segue até Hermione e a abraça apertado. – "Que bom que está aqui, está se divertindo?"
- "Sim, está tudo esplêndido! O champanhe é incrível."
- "Ora, obrigada." Diz Pansy enquanto se aproxima. "Nada mal para uma cobra, certo?" fala em um tom provocativo.
Hermione encara a bela sonserina de cabelos negros, pensando que talvez aquele seja seu maior desafio da noite. Com todos os outros, ela nunca teve um histórico ruim, apenas nenhum contato, mas com Pansy Parkinson... bem, não era assim.
- "Parabén, Pansy. É uma grande festa."
- "A princesa grifinória me elogiando? Deve ser meu dia de sorte." Continua sarcasticamente.  
- "Pansy...." Draco tenta se meter, mas Hermione o interrompe.
- "É um elogio sincero, Pansy, por isso engula isso." Diz, sem desviar o olhar. "E se quer saber, toda essa rivalidade escolar é infantil demais para mim. Imagino que seja para você também."
- "É cansativo, mas eu não consigo acreditar que tenha superado tão facilmente nossa "rivalidade escolar" como chamou."
Hermione sorrir. – "Estou na Mansão Malfoy, em uma festa dada por sonserinos, sendo um deles meu noivo. Você acha mesmo que eu não superei?"
Pansy estreita os olhos, a analisando por algum tempo. Revira os olhos.
- "Você continua uma sabe-tudo, não é mesmo? São muitos exemplos em uma só frase, sabia? Suponho que agora tenho que acreditar em você."
- "Ora, obrigada." Hermione a imita. "Adorei seus sapatos, por sinal."
Pansy pressiona os lábios como se estivesse prendendo um sorriso, antes de suspirar. – "Bem, se estamos sendo sinceras... seu vestido foi uma boa escolha, não achei que fosse tão ousada."
Hermione lança um rápido olhar para Draco. – "Normalmente eu não sou, mas achei que hoje deveria tentar."
Pansy sorrir maliciosamente. – "Então não queremos que pare." Fala, seguindo até Hermione e cruzando um de seus braços com o dela, puxando-a para longe de Draco. "Veja, há um grupo de investidores que estou tentando convencer e você é a pessoa perfeita para me ajudar nisso, ainda mais em um vestido como esse..."
- "Pansy! O que pensa que está..."
- "Não se preocupe Draco... prometo que vou cuidar dela como se fosse minha irmã."
Então arrasta Hermione para longe, que lança um olhar confuso por cima do ombro. Draco parecendo irritado e Daphne feliz, são as últimas coisas que vê.
- "Estava falando sério sobre aquilo, ou é só para ganhar a confiança de Draco?".
Hermione se volta para Pansy, que ainda parece determinada a levá-la para algum lugar.
- "Eu falei sério, adorei os sapatos. Quero roubá-lo de seus pés."
Mais um vez a sonserina pressiona os lábios. – "Bem, eu também falei sério. Se você for boa para Draco vou cuidar de você como uma irmã."
Aquilo lhe surpreende.
Hermione observa Pansy e sua expressão entediada que não transparece nada, mas sente em seu toque apertado sua força. Ela parecia estar sendo inegavelmente sincera.
- "Eu gostaria disso." Hermione murmura baixinho, pensando em quantos mais sonserinos poderiam roubar seu coração.
                                                                                                               ***
Pansy não estava mentindo, ela realmente queria a ajuda de Hermione para conquistar um grupo de investidores e usou de sua fama descaradamente, mas se Hermione fosse honesta, era bastante divertido até.
As companhias eram agradáveis, as conversas estimulantes e o champanhe sempre deliciosamente gelado. E Pansy era espirituosa, de uma forma bem sínica que lhe fazia rir.
Fato; depois de 51 minutos, Hermione percebeu que queria Pansy em sua nova vida. Junto com Luna e Draco e Daphne e até mesmo Theo.
No quinto champanhe Pansy finalmente estava puxando Hermione para uma ala mais calma, onde poucos se encontravam. Encontrou todos próximos de uma lareira.
Theo estava sentando de maneira desleixada em uma poltrona, Daphne sentada no colo de Blásio e Draco em pé, bebendo algo.
- "Vocês tinham que ver a expressão daqueles franceses quando viram Hermione Granger em pessoa, praticamente me deram suas contas nos bancos." Pansy fala enquanto se senta em um dos sofás.
Hermione vai para perto de Draco, que no mesmo instante envolve sua cintura para perto. – "Pelo tanto que você me usou, Pansy, estou achando que deveria me pagar."
- "Acredite, você se acostuma." Diz Theo. "Da última vez, Pansy me prostituiu para uma senhora só para que ela lhe vendesse seu castelo na Dinamarca."
- "Achei que tivesse gostado." Comenta Draco.
- "Não foi o pior sexo que já tive."
- "Você é incorrigível, Theo." Daphne diz em seu tom repreensivo, estão abre um sorriso quando olha para Hermione. "Você se lembra de Blásio? Estava falando de você para ele."
Hermione olha para o belo e elegante negro, que diferentemente de todos, possui uma expressão estoica, quase inabalável, mas que pela maneira como segura Daphne tão perto, ela imagina que ele não deva ser tão insensível quanto pareça.
- "É um prazer reencontrá-lo, Blásio." Diz educadamente.
Ele responde com um aceno cortês e um sorriso polido. – "Igualmente."
Depois disso, Theo mergulha em uma conversa sobre taxas flutuantes com Blásio, enquanto Daphne conta algo para Pansy sobre sua irmã mais nova.
- "No que está pensando?"
Hermione encontra o olhar de Draco.
Ela sorri levemente enquanto se aperta um pouquinho mais em seu peito. – "Que eles me surpreenderam, apenas isso."
- "Não diga isso a Theo, ele fica insuportavelmente convencido."
Hermione rir. – "Posso dizer isso a você ? O quão surpreendida estou?"
- "Você pode dizer isso enquanto dança comigo."
- "Também está planejando me usar como Pansy?" provoca.
O sorriso que Draco abre é puro pecado. – "Não, como Pansy não."
E assim, sem dizer nada a ninguém, Draco a leva de volta para o salão, onde poucos casais estão dançando.
No instante que eles se posicionam,  Hermione pode sentir o olhar de todos sobre eles e ela imagina o que eles veem. Duas pessoas que se odiavam e agora são obrigadas a ficar juntas, dois amigos que estão tentando fazer toda essa loucura funcionar, ou um homem e uma mulher que surpreendentemente se sentem atraídos um pelo outro. Tudo mentira e verdade ao mesmo tempo.
Ela se pergunta se eles podem ver isso, a atração. Por que Hermione tem certeza que aquilo está crepitando no ar ao redor deles, como faíscas em cada toque, olhar ou palavra.
Quando eles começam uma valsa leve, Draco segurando sua cintura e Hermione seus ombros, ambos se inclinam para junto um do outro, olhando um nos olhos do outro, completamente em sintonia.
- "Obrigada por estar aqui."Draco fala baixinho. "Não sei se notou, mas eu gosto muito ter você por perto."
Hermione suspira. – "Eu também Draco, e eu acho que sua mãe estaria tão orgulhosa de você agora."
-"E meu pai estaria me desprezando mais do que nunca."
Ela ergue os dedos até tocar sua mandíbula. – "Seu pai nunca foi nem metade do homem que você se tornou. Não precisa da aprovação dele."
Draco dá um sorriso triste. – "Por que sempre queremos aquilo que não podemos ter?"
E Hermione tem a impressão que ele não fala apenas da aprovação de seu terrível pai. Se aproxima mais ainda dele, envolvendo os dois braços ao redor de seu pescoço e deitando a cabeça em seu peito, a ponta do nariz tocando sua jugular e é ridículo a maneira como eles se encaixam.
- "Eu não acredito nisso, sempre achei que temos que lutar pelo o que queremos. E aquilo que for para ser seu, será. É inevitável." 
Draco lhe aperta e Hermione pode senti-lo soltando um beijo no topo de sua cabeça. – "Você sempre me enche de esperanças. Vai me tornar um tolo."
- "Vou torná-lo um tolo feliz." 
E assim eles passam o resto da noite, entre giros e voltas, bebidas borbulhantes e risadas divertidas. Draco nunca mantendo Hermione longe demais, sempre à distância de um braço e sempre a tocando e a olhando como se ela fosse a coisa mais interessante e brilhante de toda a festa. E os convidados que viam aquilo, tanta devoção explícita, tanto carinho e intimidade, não entendiam como poderia ser real. Não sendo quem eles eram, mas eles não se importavam e fizeram questão de mostrar que não se importavam de fato.
Porém, à medida que a noite foi se esvaindo, assim como os convidados, as coisas vão se acalmando até que restem apenas Hermione, Draco e seus amigos.
No momento, todos se encontram na cozinha da Mansão, comendo lanches enquanto discutem sobre a festa.
É interessante como aquilo é normal, em como todos se conhecem bem e mesmo com Hermione, aquilo não os impedem de terem boas conversas, ela sempre sendo incluída e principalmente; aceita.
- "Então, o grande dia está chegando." É Theo quem comenta. "Estão preparados?"
Todos olham com curiosidade para Hermione e Draco.
Ela encontra o olhar de Draco e ele também parece curioso.
- "Sim, estamos."Ela afirma, dando uma piscadela para ele.
Draco curva a cabeça e rir.
- "Mas e quanto a vocês? Não somos os únicos aqui que vamos passar por isso."
- "Como sabe, Princesa, fui reprovado nos testes. Aparentemente não sou bom o bastante para procriar." diz Theo, não parecendo chateado de modo algum. "O casal de ouro aqui é Blásio e Daphne."
- "Bem..." começa Daphne. "Blásio e eu não tínhamos conversado sobre casamento ainda, o que certamente mudou nossos planos..."
- "Mas iria acontecer de qualquer forma." Blásio completa.
E Hermione quase consegue ver o exato momento em que Daphne se derrete no ombro de Blásio.
- "Teria sido divertido ver você se contorcendo na frente dos meus pais." Ela o provoca.
- "Eu não me contorço, Dafs."
- "Eles não são perfeitos?"
Pansy sussurra para Hermione.
Ela rir. - "E quanto a você Pansy? Neville é uma ótima combinação..."
Pansy bufa. - "Não seja ridícula, Granger."
Hermione para, surpresa com seu tom cortante. Olha ao redor e percebe que todos os outros estão repentinamente calados.
- "Eu não..."
- "Quer saber, eu já sei onde essa conversa vai dar, então isso é o meu boa noite."
E no mesmo instante Pansy se ergue, indo embora sem olhar nenhuma vez para trás, linda e irritada.
O silêncio constrangedor permanece, mesmo após à sua partida.
- "O que..." Hermione começa.
- "Não se preocupe com isso, Querida." Daphne a interrompe.
- "Mas... ela o odeia? Neville? É disso que se trata?"
- "Pansy não odeia Neville, Princesa, é isso o que mais a irrita." Theo fala, ainda parecendo entediado e levemente bêbado.
Hermione permanece confusa, então olha para Draco a procura de respostas.
Ele dá de ombros. - "Pansy e Neville possuem um relacionamento complicado desde que tudo começou, mas eles com certeza não se odeiam."
Hermione não diz nada, chocada com as implicações.
Pansy e Neville... juntos, sem dúvida era uma informação interessante, com certeza algo que ela gostaria de discutir depois, mas ela poderia imaginar, pelo modo que Pansy agiu, que não é algo que ela gosta de falar sobre.
- "Vamos?" Draco pergunta de repente, se erguendo e oferecendo a mão para Hermione.
Ela também se ergue dando um sorriso cansado a todos. - "Foi muito divertido, até mesmo com você, Theo."
- "Sempre um prazer, Princesa."
Hermione dá um abraço rápido em Daphne, antes de deixar Draco arrastá-la pelos corredores da Mansão.
Eles caminham em silêncio, Draco perdido em pensamentos enquanto Hermione observa os quadros expostos ao longo das paredes, apreciando as artes que encontra a si mesma admirando.
É algo ao qual ela tem que se acostumado, assim como disse a Theo, de separar o bom do ruim, está pensando nisso quando sente Draco apertar sua mão e acelerar os passos, e a princípio ela não entende mas já é tarde demais por que quando eles passam pelas portas duplas que se encontram fechadas, Hermione para, congelada e envolta em lembranças demais.
Ela olha para as portas vermelhas por um longo tempo, tentando entender a mistura de sentimentos antes de olhar para Draco, que se mantém de cabeça erguida, olhando para frente de mandíbula travada e ombros tensos.
- "É onde..."
- "Sim." Ele diz, duro.
- "Podemos..."
- "Não." Ele responde, mortalmente parado, ainda sem olhá-la.. "Peça me para ver qualquer outro cômodo deste lugar, menos aqui."
- "Mas Draco..." Ela tenta.
- "Eu estou falando sério, Hermione. Não." Diz, finalmente virando o rosto para encontrá-la. "Eu só não explodi esta sala abaixo por que está protegida demais pela Mansão."
Eles ficam parados ali, olhando um ao outro, ambos tentando entender seus pensamentos. Não é algo que eles já tenha discutido antes, o tempo que Hermione passou na Mansão, por isso a incerteza de como abordar o assunto.
Hermione então ergue o braço com determinação, passa a mão sobre a pele lisa do antebraço, removendo a ilusão que quase constantemente está lá. As vezes quase a fazendo esquecer que há algo a ser encondido, mas nunca de fato.
Draco observa tudo aquilo mortalmente quieto, tão inexpressivo quanto uma escultura e ela não gosta disso, de não poder lê-lo.
Reunindo sua coragem, Hermione se aproxima e mostra a ele a terrível, terrível cicatriz que continua tão feia, quanto no dia em que a ganhou.
Ele olha e olha para aquelas palavras e há uma tempestade de palavras não ditas que Hermione não consegue ler e ela daria tudo para entender, mas então lentamente e com todo o cuidado, Draco ergue a mão e toca na cicatriz que sua tia fez, quase com medo de lhe causar mais dor.
Ela permite que ele olhe e toque aquilo pelo o tempo que ele quiser, até que com igual cuidado, Hermione atrai o braço de Draco até si e começa a desfazer o punho de sua camisa preta, puxando e revelando uma pele alva e imaculada. Então repete o movimento que fez em si mesma, até que seu feitiço sai e mostre a marca negra.
Aquilo arranca um suspiro pequeno de Hermione.
Ela tinha se perguntado sobre a marca, sabendo de sua permanência mesmo após o fim de Voldemort, mas ver aquilo, torna tudo mais real. Toda a guerra e o passado e como ainda há muito entre eles, tanto passado que eles tem ignorado por que o presente é perfeito e o futuro promete ser melhor ainda, mas ainda está lá.
O passado. 

Hermione quase sem perceber, toca naquele símbolo de terror, confirmando que aquilo não significa mais nada, não há poder ou magia, apenas lembranças ruins.

- "Você quis essa marca tanto quanto eu quis a minha, Draco." fala, tocando seus dedos e buscando passar que está tudo bem, nada daquilo importa, não se preocupe...

- "Não é a mesma coisa e você sabe disso." Ele diz, puxando seus braço para longe. "Você ganhou essa cicatriz horrível por que estava lutando pelo o que era certo, eu ganhei essa marca por ser um covarde."

- "Draco, eu já superei isso. Você devia fazer o mesmo."

- "Você realmente fez? Tem certeza? É por isso que precisa usar magia para esconder de todos isso?" continua, apontando para o braço dela;

Aquilo deixar Hermione confusa. - "Está dizendo que acha que eu deveria mostrar a todos?"

- "Não Granger! Estou dizendo que você não deveria ter isso em primeiro lugar!" Ele explode e Hermione se encolhe, por que desde que o tinha reencontrado, ele nunca tinha falado com ela assim e ela não sabe como reagir.

- "O que quer de mim? Eu não entendo, Draco."

Dessa vez Draco suspira, e não fala por um longo tempo, fitando as paredes de sua Mansão como se estivessem lhe contando algo.

- "Só não me peça para entrar no lugar onde minha Tia torturou você e onde fui condenado a erros que não posso mudar."

Hermione encara os doces e tristes olhos de Draco.

- "Tudo bem."

- "Tudo bem." ele repete, embora não pareça nada bem.

E quando volta a guiá-la pela Mansão, não é o mesmo Draco. Parece frio e distante e o silêncio é desconfortável como nunca foi antes, tornado cada passo pesado, até que finalmente eles chegam no escritório onde toda aquela noite incrível começou.

- "Não vou poder vê-la amanhã." ele solta, formal demais. "Tenho uma viagem de negócios para a Espanha e só devo voltar em três dias. Aproveite esse tempo para realizar qualquer mudança no Solar que desejar e se acomodar como quiser."

Hermione sente um aperto estranho no peito, pelo modo tão casual que ele fala, mas apenas acena. - "Ok."

Então ela vai até a lareira, pegando um punhado de flú e já se preparando para ir embora por que tudo o que ela quer é tirar aquele vestido ridículo e deitar em sua cama, onde pode se permitir ser vulnerável e talvez conseguir respirar direito por que seu peito dói e dói.

Mas antes de ir, para.

- "Draco?" chama, a voz fina.

Ele gira, finalmente a olhando nos olhos e naquele segundo ela pode ver que ele também está com dor, também está querendo ficar sozinho e vulnerável.

- "Vou sentir sua falta." admite baixinho, e ela pode ver ele abrindo a boca para dizer alguma coisa, qualquer coisa mas não espera para ouvir sua resposta.

Se vai.

Se vai perguntando a si mesma qual foi o exato momento daquela noite em que tudo deu tão errado.

Se você não desistirOnde histórias criam vida. Descubra agora