Esvaziar meu quarto definitivamente era algo que eu não esperava fazer tão cedo. Faltavam alguns anos até que eu finalmente fosse para a faculdade, ou para longe dos meus pais, colocando em uma perspectiva melhor.
E mesmo assim cá estou eu, empilhando todas as minhas roupas em malas, empacotando todos os meus pertences, embalando com plástico bolha todos os itens frágeis, esvaziando o quarto que um dia foi meu.
Me pergunto o que meus pais farão com ele no segundo que eu colocar o pé para fora de casa. Uma biblioteca? Um escritório, talvez?
Pra ser sincera, eu não podia reclamar. Todas as minhas ações – muito bem calculadas, diga-se de passagem – me trouxeram até esse dia, até esse momento, até essas caixas identificadas por etiquetas escritas sótão ou Colégio Interno St. Grace's
Ou Colégio Inferno St. Grace's, como eu preferia chamar.
Depois de alguns anos causando problemas sem pensar nas consequências e atraindo os olhares das vizinhas fofoqueiras para a minha família, meus pais finalmente cansaram do meu comportamento – autodestrutivo, como eles diriam – e acharam plausível me matricular em um internato.
Causar problemas e me meter em brigas nunca foi a minha intenção. Tudo o que eu desejava era sair da sombra da minha irmã, a brilhante, perfeita e exemplar Siena.
Eu e ela erámos bastante parecidas, fisicamente, pelo menos.
Ambas de cabelos castanhos e longos, porém Siena os prendia em rabos de cavalos altos e firmes, que acrescentavam alguns centímetros à sua testa, enquanto eu gostava dos meus bagunçados, desalinhados e livres.
Gosto de pensar que isso é um reflexo das nossas personalidades.
E apesar de ser sempre comparada à minha irmã, e mais tarde sempre criticada por não ser como ela, eu ainda a amava, só que do meu jeito estranho e quase inexpressivo.
Ser a favorita não era culpa dela. Pais e mães não deveriam ter filhos favoritos. Mas os meus tinham, e querendo ou não, isso foi responsável por criar a frágil e bamba ponte de madeira sobre o abismo entre nós.
No fundo eu entendia a decisão dos meus pais de me mandar pra longe, só desejava que não fosse desse jeito. Não era como se me enviar para uma escola cheia de outros adolescentes provavelmente problemáticos como eu fosse consertar meus erros do passado, ou muito menos reparar minha personalidade.
- Sofie! Tudo pronto? Está quase na hora!
Coincidentemente, minha mãe me chamou bem na hora em que eu havia terminado de encher a última caixa.
E era esse o fim da linha. Um recomeço, talvez?
Meu quarto, antes entupido de desenhos e frases que eu mesma fiz e pôsteres de celebridades, agora era tomado por um branco chato e enjoativo, todos os anos expressando minha personalidade no ambiente agora apagados como se feitos de grafite.
As paredes que estavam danificadas por cola e pregos, já haviam sido retocadas e pintadas mais uma vez.
Era como se eu nunca sequer estivesse ali.
Meus pais me ajudaram a carregar minhas coisas para o carro, cada segundo apertando meu coração mais e mais.
Eu ainda não sabia como eu me sentia, não tinha decidido se eu queria ir embora, se ressentia meus pais por abrirem mão tão facilmente de mim.
Ficar longe deles, porém presa em uma escola com restrições e rígidos protocolos de segurança definitivamente não era o meu conceito ideal de liberdade.
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The Calm After The Storm
RomansaComo punição por seu comportamento rebelde, Sofie Hartmann é enviada contra a própria vontade para o Colégio Interno St. Grace's, uma instituição de ensino com medidas de segurança e regras rígidas. A nova realidade vai surpreender ao fazê-la questi...