Festa

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Eu estava acabado, meu corpo estava cheio de tinta e minhas mãos vermelhas pelo esforço físico, minhas coxas e pés não aguentavam mais a posição em que estava, quem disse que montar esses cenários era fácil? Já era a terceira árvore que eu pintava e já estava querendo botar fogo em todas. Minha pintura não era das melhores, desde criança sempre odiei ter que colorir os desenhos da escola, alguns poderiam dizer que uma criança pintaria melhor do que eu, eu concordo.

Por outro lado, meu colega de classe, Sai, parecia se dar muito bem com pintura, ele tinha cuidado quando pintara as folhas, e diferente de mim ele parecia muito concentrado em seu trabalho, o bastante para não notar a mancha de tinta catastrófica em sua calça preta.

O chão cinza escuro já estava todo manchado de tinta verde, mesmo que tenhamos usado jornais para evitar esse tipo de coisa, mesmo assim ainda haviam pequenas brechas no chão que no fim causaram um grande estrago.

Aquela "aula" estava tão, tão, tãoooo longa que decidi desacelerar meu trabalho, se eu terminasse naquele momento correria o risco de ficar responsável por mais uma árvore. Resolvi dar uma olhada no smartphone para ver a hora. Já eram duas da tarde! A aula estava acabando! Mas então por que ninguém tinha se organizado pra ir embora?!

Ah...

Suspirei. Já estava de saco cheio, minha sorte era que eu não teria de trabalhar neste dia.

Olhei em volta e me choquei quando vi como aparentemente todos já haviam terminado seus serviços. Que inferno! Teria de me apressar, ou sobraria pra mim. Uma, duas, três pinceladas para cobrir o canto superior de folhas inteiro, isso seria suficiente. Não estava feio, apenas... não do jeito que Madara gostaria.

Me levantei, olhei para baixo e vi Sai terminando de contornar a última folha perfeita da árvore tão caprichosamente colorida. Ele esboçou um sorriso para mim, feliz com seu trabalho, e se levantou ficando ao meu lado.

Minhas pernas doíam, minha bunda doía, tudo doía. Me estiquei e balancei, arqueei as costas e estalei tudo o que conseguia. Sai fez o mesmo, cansado, mexia na nuca como se indica-se dor na região. Ele olhou pra mim, sua cara de sono, com os olhos pesados, e disse com aquela cara de tonto:

— Nunca pensei que pintar uma árvore seria tão difícil.

— Nem eu. — Concordei observando as duas árvores de papelão dispostas no chão. — Se bem que, parece que você se empenhou mais do que eu.

— E desde quando você se empenha em alguma coisa, Naruto? — Sai riu sozinho, achei melhor acompanhá-lo para não se tornar um clima estranho, mas não o fiz, apenas balancei minha cabeça em negação.

— Tem muitas coisas que você não sabe, Sai.

— Como o que, Naruto? — Sai arqueou uma sobrancelha junto com o canto do lábio e balançou à cabeça, e ele riu.

Não respondi, dei uma risada nasalada e me apressei para pegar minhas coisas.

Como o que, Naruto? Como o que?

Eu não era encantador, carismático, não era talentoso, não era alguém muito notado. Eu não tinha muitas coisas que apreciava, não tinha vontade de conhecer pessoas e muito menos de me comunicar com elas, se pudesse ser apenas eu e minha mente, tudo seria perfeito. Eu não era uma pessoa apaixonada, por nada, nenhum artista, nenhum amigo, nenhum estilo de vida, eu não almejava. Eu só me lembro de ter um sonho, mas não era paixão, era apenas uma vontade dormente, que não poderia ser apreciada quando conquistada, mas que causaria uma pequena agonia interna, um incômodo pequeno, que se transformaria em outro grande vazio. Como todo o resto que um dia eu poderia ter gostado.

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⏰ Última atualização: Jan 17, 2021 ⏰

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