7 | Como se tornar um vilão [Parte 1]

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Arthur, algum momento de janeiro de 2013.

Estamos sempre à procura de sermos admirados pelos outros à nossa volta como se fôssemos um exemplo a ser seguido. Exemplo de uma vida divertida, de uma rotina invejável. Exemplo de perfeição. Não é atoa que nossas redes sociais estão extrapolando na superficialidade do que é ser humano.

Eu tentei, por muito tempo, me igualar à vida dos meus amigos e passar uma ideia de que eu poderia ser invejado pelos outros no estilo "caramba, queria ser como ele", só que, já há algum tempo, percebi que minha vida se tornou uma bola de neve rolando do topo do Monte Everest ao precipício mais fundo possível. Não sei se culpo a vida, o destino, Deus? ou se me culpo por permitir tanta merda rolando.

Estou aqui para compartilhar minha história sem o intuito de mostrar que eu seja perfeito como aqueles jovens protagonistas de romances gays, bem como não sou apenas o cara que traiu o Bernardo, me tornando um vilão sem propósito algum. Afinal, se quisesse trair o B com N pessoas, eu poderia simplesmente ter terminado com ele.

Para que não pareça desculpas esfarrapadas, segue um pouco da minha vida para que percebam o outro lado da moeda. Começo voltando há acontecimentos que moldaram quem eu e Bernardo somos hoje.

[Dez meses atrás - Fevereiro de 2012]

— Bê. Sobre ontem, será que a gente poderia discutir sobre? Eu mal consegui dormir a noite anterior pensando no que poderia rolar entre nossa amizade. Tô muito confuso sobre o que vai acontecer desde o nosso último encontro. Depois da aula, pode ser? /Arthur.

Meu peito estava constantemente acelerado como se a minha vida fosse um filme dramático e eu estivesse prestes a perder um amigo ou um amor. Digo, perder um amigo e amor antes mesmo desse amor ter se concretizado.

Ter quinze anos e poder demonstrar seu sentimento a alguém é a coisa mais pura que eu consigo imaginar depois que deixamos de ser crianças. Bernardo era meu amigo desde que nascemos. Nossos pais estudaram juntos na adolescência e foi através da amizade deles que vivemos juntos por todo o tempo até a nossa adolescência.

Me identificava com Bernardo de uma maneira incompreensível. Lembro da minha avó paterna dizer que éramos namoradinhos, aos seis anos de idade. Aquilo me matava de vergonha, embora eu nem soubesse que era namorar alguém. Mas eu gostava de ouvir aquilo. Memória que nunca saiu da minha cabeça.

No fundo, quando íamos brincar de pega-pega, polícia-ladrão, cobra-cega etc, sempre que um descobria o outro, nos abraçávamos forte. Se tínhamos oito, nove anos, aqueles abraços demonstravam pureza, afeto, confiança que eu sei que quase não se encontra por aí entre dois garotos.

Porém, a gente cresce. No século XXI, com acesso à tecnologia, à informação, sentia os olhares atraídos de Bernardo por mim, já aos doze anos, sabia que ia além de uma simples amizade de infância. E vice-versa, claro. Porque já tínhamos uma confiança um no outro de deixarmos apenas entre nós aqueles pequenos gestos implícitos de carinho, de paixão um pelo outro.

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⏰ Última atualização: Jan 19, 2021 ⏰

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