Sandra

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Eu voltava para casa tarde da noite e Sandra, voltava para o quartel no mesmo horário que eu. Como morava no centro de São Paulo e ela estava no batalhão que também ficava no centro, a gente sempre pegava os últimos metrôs sentido sé. Vagão vazio, os mesmos rostos todos dias, óbvio que nasceria uma amizade.


A principio, eu não sabia que Sandrinha era uma policial. Isso eu descobri depois de muito tempo perguntando as horas e falando sobre o clima, quando finalmente ela me deu brecha para conversarmos que fui descobrindo sua ocupação. Eu estava desempregado e tinha acabado de ser demitido da empresa onde estava a onze messes, em uma festa de fim de ano onde acionaram acidentalmente o alarme de incêndio a empresa achou suspeita a minha atitude de fugir pelo estacionamento e coincidentemente não ser pego pelas câmeras nos interiores do prédio, portanto, decidiram encerrar ali meu contrato de trabalho e nesse dia, voltando do trabalho, triste e sem a animação de sempre para perguntar as horas e cortejar a moça que usava grandes óculos e sempre lia algum livro no metrô, Sandrinha decidiu me dar uma chance de me tornar seu amigo.


Ela me explicou que trabalhava como policia administrativa, mas que isso não a impedia de andar armada, quase como um recado indireto para que eu não tentasse nada. E eu, expliquei um pouco sobre meus últimos dias, falei que meu colega de trabalho tinha surtado quando a esposa o pegou na cama com outra (eu não disse a ela que também estava lá para não assusta-la) e se demitiu da empresa logo em seguida e que por isso, eu não tinha mesmo na empresa para desabafar muito menos para conversar sobre a minha demissão. Apesar de concursada, jovem e já estabilizada financeiramente, Sandrinha tinha entendido meu ponto de vista e teve empatia com a minha situação.


Achei que não veria mais a Sandrinha e me chateava ter acontecido isso logo quando ela me deu bola, mas no dia seguinte, consegui um bico mesmo que provisório com a minha mãe onde eu entregava o carro dela com mercadorias do outro lado da cidade no final da noite e voltava de metrô no mesmo horário que minha Deusa policial ia descansar.


Continuávamos conversando sobre tudo, de filosofia a ciências, de Signos a ascensão do Cristianismo eu me perguntava como uma garota tão delicada e inteligente era uma policial. Sandra era um exemplo físico de que garotas podem fazer oque quiserem, sempre tiveram esse poder na verdade. Suas histórias sobre seu processo de admissão, as provas de condicionamento físico me encantavam pois para mim, ela era uma frágil nerd por baixo daqueles largos moletons e óculos gigantes que se escondiam em seus cabelos propositalmente amarrados com folga, dando a impressão de que ela não tinha arrumado.


Apesar de ter conseguido sua confiança e me tornado finalmente alguma paquera, apesar das longas conversas no whatsapp entre um trabalho rápido dela e um bico meu, ainda sim, Sandra nem sequer tinha me beijado. Ela se fazia de difícil e isso me desafiava a deseja-la cada vez mais. Até que quase um mês depois de conversarmos todos os dias (e isso começou depois de 11 meses puxando conversa com ela, então imagina a minha luta), Sandra topou um café comigo na avenida Paulista.


O tempo era frio e nublado em São Paulo naquela época mas ainda sim ao sair da estação trianon eu lembrava da noite quente de verão que tinha tido a algum tempo ali mesmo, em alguma das suas ruas paralelas a avenida Paulista. Passamos a tarde toda conversando e rindo, comendo pãezinhos e tomando diversos tipos de café oque era bom porque o frio paulista deixava meus dedos gelados e eu os esquentava segurando o copo quente o tempo todo. Após isso, saimos para caminhar pela avenida, o vento estava forte e bagunçava todo seu cabelo e eu sentia minhas bochechas corando oque deixava a minha barba e meus olhos ainda mais em destaque.

Mil e um encontros que deram erradosOnde histórias criam vida. Descubra agora