III

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Theodore foi deixado sozinho na sala que antes pertencia também à sua colega de trabalho. Ele havia recém deixado o necrotério, onde fora confirmado o que ele já esperava: a grande obra de arte fora atribuída ao seu senhor.

As palavras do bilhete martelavam em sua mente e ele sabia que por mais que David Hawthorne não deixasse transparecer, havia captado a mensagem nas entrelinhas.

Ele precisava se livrar de Hawthorne, mas aniquilar outro colega de trabalho estava fora de questão, levantaria suspeitas contra si. Theodore precisava desviar a atenção dele para outra coisa e foi por isso que o rapaz soltou um longo suspiro e emitiu as palavras que decididamente ganharam a atenção do outro agente antes de se retirar da mesa de necropsia.

— Ele estava brincando conosco o tempo todo. Fomos malditos marionetes.

— O que quer dizer com isso, Dasovic? — Hawthorne questionou, arqueando a sobrancelha.

— Que o Estripador de Baltimore quis que pensássemos que havia um copiador para que nossas atenções fossem divididas. Com isso, perdemos Lamartine. Nunca existiu um copiador, era ele o tempo todo.

Hawthorne o encarou por alguns segundos, com uma expressão um tanto confusa enquanto refletia sobre as palavras de Dasovic, tentando entender qual havia sido a lógica que levara o agente àquela conclusão. E quando se deu por vencido, soltou um suspiro e voltou a questionar Theodore.

— E o que lhe fez chegar a isso? Quer dizer, você mesmo levantou as suspeitas de que havia um imitador, o que lhe faz pensar que de fato era o próprio Estripador de Baltimore? — Hawthorne tentou soar de forma curiosa, mas Theodore não gostou nem um pouco de ouvir aquela pergunta. Em sua cabeça, David havia soado desconfiado e, mais do que isso, ele havia questionado seu trabalho. Isso fez com que Dasovic franzisse o cenho e passasse a língua pelos lábios, respondendo de forma venenosamente paciente.

— Não fui eu que levantei as suspeitas, agente Hawthorne. As evidências nos levaram a elas, afinal de contas, nós temos que ouvir o que estas nos dizem e não agir conforme o que achamos que seja a solução, não é mesmo? — por fim, arqueou uma das sobrancelhas, esperando qual seria o contra-argumento de David Hawthorne.

O rapaz então pareceu extremamente desconcertado, suas bochechas adquiriram uma tonalidade avermelhada e ele gaguejou algumas vezes, pigarreando para que sua voz soasse mais clara antes de enfim responder.

— Desculpe, agente Dasovic. Não foi minha intenção questionar seus procedimentos durante a investigação de maneira alguma, eu apenas gostaria que esclarecesse um pouco sua linha de raciocínio, porque não consegui acompanha-la — a voz do rapaz soou extremamente sem jeito e Theodore teve que conter a vontade de gargalhar dele. Hawthorne não precisava de muito para ir de super agente fodão a um mero principiante idiota. E era assim que o rapaz agia naquele exato momento, pegando alguns papéis da mesa de Ted e organizando de forma alinhada, como se ele estivesse ali para aquilo.

Theodore apenas permaneceu encarando o constrangimento de David e saboreou aquilo por alguns poucos segundos enquanto o outro se enrolava nas palavras cada vez mais.

— Hawthorne — ele chamou a atenção do agente e este imediatamente interrompeu sua fala para prestar atenção no que Theodore diria. — Não é necessário que se desculpe ou se justifique. Apenas tome cuidado com suas palavras ou poderá acabar trazendo para si problemas maiores do que você pode enfrentar — e ali estava a ameaça nas entrelinhas, algo que o outro notaria se fosse esperto o bastante. A verdade era que Dasovic havia perdido as contas de quantas vezes já havia questionado mentalmente a admissão de Hawthorne no cargo que exercia. Não era possível que alguém pudesse chegar até ali sendo tão ingênuo e incompetente como o rapaz era.

— Não se repetirá, agente Dasovic — ele ouviu a voz do rapaz ecoar e despertá-lo de seus pensamentos.

— Ótimo — ele respondeu, de volta. — Quanto ao que me levou àquela conclusão, comece analisando o bilhete que nosso Estripador deixou na cena de crime, Hawthorne. Depois na sequência de crimes do suposto copiador. O que separa os crimes do Estripador de Baltimore dos crimes do copiador de início são ínfimos detalhes, que depois se tornam detalhes bobos e quase propositais. Então temos a morte de nossa colega de trabalho, que recebeu uma ligação, no mesmo dia de sua morte, na qual uma ameaça clara foi proferida contra a vida dela. Já não é surpresa que o Estripador gosta de fazer joguinhos e esse foi um muito bem arquitetado por ele. — Theodore deu de ombros e soltou um suspiro cansado antes de concluir seu raciocínio. — Você só precisa analisar e interpretar as evidências da forma correta, Hawthorne, e elas lhe mostrarão as respostas. Agora, se me dá licença, preciso conferir como andam as coisas nas análises de DNA.

Sweet SymphonyOnde histórias criam vida. Descubra agora