Um Mundo Por Trás da Coroa

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Pelas minhas descrições anteriores, creio que podem imaginar o dia 12/07 como um dos melhores de minha vida, até mesmo o melhor, e realmente seria, se não fosse por um acontecimento inesperado que me deixou um tanto aturdido.

Como qualquer pessoa faria, me deitei logo depois de um bom banho, já que minha mente estava consumida por um cansaço indescritível após a coroação.
Entretudo, mesmo completamente esgotado, ainda demorei algum bom tempo para pegar no sono, não pela euforia que corria em minhas veias por ter tornado-me rei, mas sim por um novo sentimento, um sentimento estranho de desconforto que me atingiu como uma avalanche.

Meus olhos pesavam, mas eu não podia dormir, era como se não tivesse permissão para tal ato.
Envolto da nova emoção que já se transformava em enjoô e me deixava tonto, percebi que não tinha mais o controle de meus sentidos, isso porque tentei levantar e um peso anormal segurou meu corpo na cama que agora não parecia nada macia.

Percebendo isso, eu já me encontrava em desespero, até que, tão de repente quanto uma invasão, meus olhos fecharam, e milésimos de segundos antes do meu corpo adormecer, pude escutar uma voz dizer tão baixo que quase me foi inaudível:

-Tiveste diversas chances, mas não as aproveitou. Sendo assim, amaldiçoado será depois de que dormir. Tens de mudar a si mesmo para reverter a própria situação.

Não tive tempo para reagir, pois caí em sono profundo em seguida. Acho que dormi por bastante tempo, porque quando abri meus olhos, o sol já estava sumindo, mas a janela de meu quarto não estava aberta, logo eu não poderia ver o sol...

Foi assim que me dei conta de que me encontrava em território desconhecido, e mais uma vez, o desespero envolveu minha mente.
Me levantei às pressas, procurando por qualquer pista que pudesse me indicar aonde me encontrava, sem sucesso.

No momento que decidi tentar deixar a pequena casa na qual eu estava para explorar o lado de fora, passos se aproximaram, o que me fez recuar pelos primeiros momentos, mas eu era um rei! Precisava ser valente, afinal.

Guiei meus olhos até a única porta do local e os fixei ali, esperando que fosse aberta pela pessoa responsável por tudo aquilo. Estava pronto para atacar, e iria, se um rapaz baixo e de fios azuis; longos, não adentrasse o local e se espantasse com a minha presença.

Normalmente, eu me defenderia, é claro! Ele parece o total culpado, por que eu estaria em sua aparente casa se não fosse por ele? Mesmo assim, me comovi com seu espanto, ele parecia um tanto indefeso, e isso me levou a permanecer ali, em pé, quieto, o encarando com confusão no olhar.
Limpei minha garganta e permaneci ali, com o cenho franzido, olhando o belo rapaz em minha frente.
Sua beleza me chamou atenção, principalmente o tapa-olho na esquerda de seu rosto.

"Aja como um rei, Alistair." Foi o que eu fiquei repetindo em minha cabeça. Precisava pensar em algo, não podia permanecer ali, parado.
Meus olhos correram pelo cômodo que eu me encontrava. Sem pensar duas vezes, me movi rapidamente perto de uma mesa, peguei um candelabro em um movimento brusco. Como as velas estavam acendidas, a posicionei em frente ao meu corpo, apontada para o jovem rapaz em minha frente.

-Quem é você? -Perguntei em som alto e claro, me aproximando dele, segurando o candelabro firmemente em minhas mãos trêmulas. Ele não estava com medo de mim. Na verdade, ele estava rindo. Era uma risada sincera, como se estivesse zombando de mim. Ele definitivamente estava me zombando.
Abaixei um pouco o candelabro em minha mão. Uma decisão horrível que tomei. Quando vi, já estava preso na parede contra o mesmo rapaz de tapa-olho. Com o candelabro em sua mão firme.

-Você é o rei Alistair, certo? -Pude ver seu rosto com clareza por causa do fogo que emergia das velas. Seu rosto a centímetros do meu.
Ele ainda estava sorrindo.
E rindo.
Rindo muito desta vez.
Ele se afastou de mim e colocou o candelabro na mesa novamente. Senti um grande alívio.

-Achei que seria mais corajoso por ser rei, Alistair. -O mesmo ainda me observava atentamente. -Mas até que sua defesa não foi tão péssima assim.

-Quem é você? -Perguntei pela segunda vez, ignorando todas aquelas palavras que me atingiram.
Me afastei da parede, tentando me manter o mais confiante possível.

-Ainda está com medo? Não se preocupe, só queria zombar com você no primeiro dia. Vocês reis costumam ser tão entediantes. -Via-o andar pelo cômodo, rindo como se pudesse lembrar de meu rosto um tanto assustado.

-Quero saber quem é você.

-Não acha que é muito insistente, Alistair?

Fiquei em silêncio. Não sabia o que fazer. De qualquer forma, ele estava decidido que não iria me contar nada.

-Se puderes ter o mínimo de paciência, poderei te levar para conhecer a vila. E te explicar tudo no caminho. -Apenas assenti.

[...]

Depois de uma longa caminhada, já me encontrava no escritório do jovem rapaz. Tinha visto toda a vila naqueles minutos de caminhada, andando com passos ligeiros e com minha cabeça transbordando de dúvidas da qual eu tinha.

-O que você quis dizer com "vocês reis costumam ser tão entediantes"? -Falei quando não consegui me aguentar de curiosidade.
Então teve mais reis que vieram antes de mim? Eu não sou o primeiro? Por que nunca fui avisado sobre isso?

-Todos os reis sofrem uma maldição quando sobem ao trono -Ele começou a explicar depois de um longo suspiro. -Eles vem para cá, com um único objetivo. Conseguir mudar aquele seu grande defeito.
"Se o rei for bom o suficiente, ele irá conseguir escapar dessa maldição, e terá livre passe para governar seu reino. Do jeito que quiser." Ele pigarreou por um instante, ajeitando sua camisa suja. "Mas nenhum rei conseguiu escapar. Todos eles morreram. Não acho que você será diferente."

Aquela última frase me incomodou. O que ele quis dizer com "Não acho que você será diferente"? Então eu também não vou sobreviver a isso?
Estava sentindo medo. Pela primeira vez na vida. Aquilo me deixou inquieto. E nervoso.

O escritório do jovem não era tão grande. Mas sem dúvida era mais organizado que minha biblioteca, já que não gosto que outros funcionários mexam lá.
Na minha biblioteca, têm coisas no chão e livros abertos, do qual eu esqueci de guardar. Algumas folhas secas de árvores no chão de quando deixei a janela aberta. E pedaços picados de papel de quando tive um ataque de raiva (isso não acontece muitas vezes. Só quando me tiram do controle.) No caso do escritório que eu me encontrava agora, ele era limpo, duvidava muito que se eu passasse os dedos pelos móveis iria sair alguma sujeira. Livros divididos por tema nas estantes e uma mesa, com alguns papéis alinhados perfeitamente. E, a frente da mesa, existia um mural, cheio de marcações. Definitivamente aquilo era a coisa mais bagunçada do escritório. e Mesmo assim, ganharia do meu.

-Bom, só para começar, aqui você não será tratado como rei. Será como um de nós. E irá trabalhar, nada de diferente.

Acabo rindo. Foi um riso sincero e nada exagerado. Estávamos sentados um de frente ao outro, então pude vê-lo erguer a cabeça, me analisando atentamente. -Eu não vou fazer nada disso.

-Você não tem escolha. Estou aqui para tentar te ajudar. Então... Sim, é o que você está pensando. Vai ter que me obedecer para sair daqui.

-Não vou te obedecer. Eu sou o rei aqui.

-Você está na minha terra, Alistair. -Consegui ouvir uma risada forçada saindo de sua boca. Como se estivesse me xingando por dentro. -De qualquer jeito, você vai morrer se eu não te ajudar. As chances de conseguir tudo sozinho são poucas.

Ele realmente sabe como me assustar. Não vou abaixar o meu orgulho só para me submeter a ele, mas algo no meu íntimo me fez querer ajoelhar e dizer com toda a voz que tinha naquele momento:
-Por favor, me deixe viver. Vou fazer tudo que você mandar! Vou ser bonzinho.
E é óbvio que eu não disse isso. Afastei esse estúpido pensamento da minha cabeça. Continuei o encarando, tentando demonstrar que estava totalmente seguro. Mas sabia que ele estava sentindo o meu desespero. O local cheirava a desespero. E eu queria apenas socá-lo.

Escrito por: SenhoritaHolmes, andyyyr
Corrigido por: andyyyr

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