Parte 1 - Auxílio à comunidade

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Já era quase 7 da manhã e eu mal tinha dormido, acho que não só eu como todos do meu quarteirão, que eu ainda podia ouvir durante a madrugada.

Todos com medo dos sons da noite.

Porém, ver um lindo nascer do sol te faz ignorar essas coisas.

Enfim, faltava pouco para começar meu serviço, então só me deitei um pouco. Como de costume, sempre usando minha camisa social, porque não aguento isso de abotoar e desabotoar!

Cerca de 20 minutos depois, como esperado, tocou a campainha, mais uma vez eu estava indo ajudar a pobre comunidade.

— Já vou!

Não tinha pressa, então saí do meu pequeno quarto que praticamente só tinha a cama de solteiro e uma escrivaninha, praticamente minha segunda cama, com várias anotações espalhadas por cima e outras coladas de lado.

Passando pela cozinha, aproveitei para pegar meu café que já tinha colocado para fazer. Não acertei o tempo, mas ele não chegou a esfriar, então me conformei e fui atender a porta.

— Oi, senhora. Posso ajudar?

Era uma velinha que me olhava com uma feição alegre, mesmo sendo nítido que era uma moradora de rua. A falta de alguns dentes, sujeiras pelo corpo, e especialmente o cheiro dela deixavam isso bem claro.

Também observei a rua. Era manhã de domingo, então a essa hora não tinha muita gente, e poucos pássaros ali por perto também, só um ou outro sabiá nos fios do poste.

Óia, desculpa incomodar, fia. Nem tá vestida e eu já tô te atormentando. — Ela falava enquanto ajeitava seu vestido, claramente surrado pelo tempo, olhando para mim de cima a baixo, usando camisa social e a parte de baixo de um pijama.

— Imagina, senhora. Olha, até onde eu sei, estou na minha casa, não passei da porta, então não tem problema. Você quer alguma ajuda?

— Eu vou ser bem sincera, porque sou assim, muito honesta, sabe? Aí as pessoas me ajuda sem ficar desconfiando de mim. Eu só queria um pouco de fumo, já tô na fossa mesmo, mas não queria o cigarro da padaria. Num quero dinheiro, nem sei mexer com isso, nunca fui para escola.

A sinceridade me impressionou, só o que me irrita são esses discursos: "Eu sou honesto, blá blá blá...".

— Ok, eu acho que no bar da esquina deve ter fumo, eu pego lá para a senhora. Só espera aí, que vou me vestir, não dá para sair na rua sem o principal, né? — Sorri para ela e encostei a porta.

— Tá bom, moça. E muito obrigada, viu? Deus te abençoe!

— Amém, senhora.

A minha calça jeans estava na bancada da cozinha, vesti ela, dei uma olhada se estava com todos meus pertences e abri a porta novamente.

— A gente vai lá e já resolve isso para a senhora, tá?

— Tá bom, tá bom, num tem pressa. Ai, muito obrigada mesmo, que benção.

Ela estava cerca de meio metro à frente, era o melhor momento. Meu cordão de couro estava no bolso da frente, então peguei e enrolei um pouco em cada mão para dar mais firmeza, com um espaço no meio para o pescoço.

Avancei!

Imediatamente ela entrou em pânico e o que no começo eram apenas sons confusos de engasgo, logo viraram o som de uma coruja rasga-mortalha se debatendo, foi aí que fiz mais força.

Ela tentava tirar o cordão do pescoço enquanto se transformava, os pés estavam virando garras gigantes e suas unhas das mãos crescendo, ficando pontiagudas, até que... Asas?!

Caça aos folclores - O mistério da CuracangaOnde histórias criam vida. Descubra agora