4 - A prova definitiva

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Estava bem claro para mim que a Gláucia morria de medo que eu estivesse certa, mas, como ela não tinha para onde fugir, aceitou a minha proposta.

— É melhor você não tentar sabotar essa operação para me passar a perna — disse.

— Te peço o mesmo! Agora, se me der licença.

Lucian e eu organizamos os papéis no escritório ao lado da recepção. Como íamos demorar, recebemos a chave e ficamos organizando as coisas lá por um tempo.

— Kauane, se você sabia que podíamos fazer isso com as certidões impressas, por que queria pesquisar no computador?

— Eu menti.

— O quê? — A cara dele era impagável.

— É, minto na cara de pau sem esboçar reação, aprendi isso com você. Ficava dizendo que ia me obedecer e aí fazia tudo diferente, e eu ainda tinha que te salvar no final.

Ele riu. Talvez não estivesse achando que eu prestava atenção nas suas atitudes, mas que tipo de professora eu seria se não notasse? E com certeza ele já teria morrido.

— Tá certo, então. Mas, o que vamos fazer? Os papéis vão todos queimar.

— Eu sei que vão, só que meu objetivo é esse, deixar a Gláucia segura de que está tudo certo, até que eu consiga uma prova definitiva. E não vai demorar, você vai ver.

— Não vai me contar mesmo qual é o plano por trás disso?

— Considere como um dever de casa tentar descobrir.

De repente, a expressão no rosto dele ficou séria.

— Kauane, dá uma olhada nisso. — Ele estava segurando a certidão de nascimento da Gláucia. — Achei as certidões da família dela, fiquei procurando porque achei que essa sua ideia era real então queria deixar os documentos da família dela no topo das pilhas. São sete irmãos ao todo, e ela é a caçula.

Peguei a certidão de nascimento para poder analisar mais de perto.

— A desgraçada só estava fingindo?

— É bem provável, mas agora finalmente temos uma prova para apresentar contra ela.

— Não vai servir como prova se houverem mais pessoas nessas pilhas imensas que se encaixem no mesmo perfil. Ela nos acusaria de perseguição e dificultaria ainda mais as coisas. Vamos ver se você está sabendo bem, qual é a forma de evitar que a criança se torne a Curacanga?

— Os pais precisam fazer com que a sexta criança apadrinhe a sétima.

— Exatamente. Não vai ser fácil pesquisar sobre a família dela sem levantar suspeita, mas vamos tentar. Por enquanto, eu gostaria de deixar algumas anotações nas certidões antes de levarem para a fazenda.

— Para quê?

— Você vai ver.

Passamos a noite na SMB preparando tudo. Antes do Seu Gonçalves sair, pedi que me fizesse um favor e trouxesse uma câmera da melhor qualidade. Uma das moedas de ouro que recebi era mais que suficiente e ainda sobraria o bastante para comprar o silêncio dele. O velho tinha bons contatos para conseguir todo tipo de equipamentos e armas.

Acabamos virando a noite preparando tudo. No dia seguinte, quando já havíamos empacotado tudo, deixamos na caminhonete que iria para a fazenda e fui falar com a Gláucia novamente.

— Então, comandante, para garantir que você não vai trocar as folhas, deixei anotações com tinta em algumas e quero que o encarregado mande uma foto para mim delas espalhadas no gramado da fazenda com essa câmera aqui.

— Sérgio, você ouviu nossa excelentíssima General. Ou devo dizer, Tutora? E querendo mandar em você ainda por cima. Ser expulsa da capital e rebaixada a esse nível deve ser doloroso até hoje, não é Kauane?

— Sérgio, só faz o que eu disse, por favor. — Não estava com paciência para entrar nas nossas ofensas matinais de novo. — E quando voltar, me devolve a câmera, é nova.

Ele concordou e seguiu ajeitando a caminhonete. Depois que saiu e todos voltaram aos seus postos, fui conversar com o Lucian.

— Pode tentar buscar alguma coisa da família dela hoje?

— Sim, vou tentar ser o mais discreto possível. Aliás, falei com a Clarice, ela pediu desculpas e disse que não encontrou nada de mais lá, realmente foi como você disse.

— Não tem problema, isso não me incomoda, é algo que eu já esperava. Outra coisa, você tem um apê no alto de um condomínio, certo?

— Minha mãe mora lá, eu fico com o meu pai. Quer tentar observar o incêndio de lá de cima? Mesmo com aquela sua câmera, não conseguiria pegar nada, maldições não são visíveis para as lentes.

— Eu sei que não, mas dessa vez é o fogo que vai me dar a resposta. Já conseguiu descobrir o que vou fazer?

— Vou deixar você me surpreender.

— Sei, preguiçoso...

— É mais fácil assim. Bom, acho que minha mãe foi passar o fim de semana na praia e ainda não voltou, mas tenho uma cópia da chave da casa. Só não faça bagunça.

— Você sabe que eu sou da paz.

— É, tá bom.

Chegou a noite do ataque, deixei as luzes do apartamento apagadas para poder ver tudo com clareza lá da varanda.

O fogo começou pequeno e levou um tempo para se propagar, realmente não parecia algo feito por uma criatura que tivesse a habilidade de controlá-lo como desejasse.

Quando as chamas ficaram mais fortes e era possível ver a fuligem subindo, imediatamente deixei a câmera no modo de disparo automático e tirei quantas fotos foram possíveis naquele intervalo de tempo.

Depois, comecei a freneticamente olhar uma por uma, na esperança de que eu encontrasse o que queria. Algumas horas depois, ela apareceu, a prova de que a criatura existia finalmente estava em minhas mãos.

Caça aos folclores - O mistério da CuracangaOnde histórias criam vida. Descubra agora