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SINAIS DE ALERTA

Era como se tudo naquela sala berrasse para mim dizendo que ali não era o meu lugar. As escadas se desfazendo, aquele alvoroço de clientes gritando números e nomes, e o ar, uma mescla de suor, sangue e mofo. Passei espremida pela multidão, logo atrás de minhas amigas.
Fora Fatin que a meteu naquela enrascada, óbvio. Ela estava saindo com Ava Thompson, uma das meninas que lutaria naquela noite. E insistiu veementemente que a loira deveria acompanhá-las.
- Fique por perto! Vai ficar pior assim que começar. - gritou Dot, acima da gritaria que preenchia a pequena sala atarracada.
A outra amiga de Shelby já havia presenciado aquele banho de sangue. Assim que ingressara para o curso de administração, com certa frequência a amiga comparecia às lutas secretas que aconteciam em diferentes porões da Universidade a convide de suas colegas de classe. Cada evento era realizado em um local diferente, que permanecia secreto até exatamente uma hora antes da luta. A loira segurou a mão de Fatin, sentindo-se um pouco mais segura.
O som agudo de um megafone cortou o ar repleto de fumaça, sendo acompanhado logo em seguida por comemorações na multidão. Comecei a procurar de onde vinha aquela rajada sonora. Uma mulher estava em pé sobre uma cadeira de madeira, com um rolo de dinheiro em uma das mãos e o megafone na outra. Sua postura de superioridade deixou Shelby imediatamente enjoada.
- Sejam bem vindos ao banho de sangue! Se estão em busca de uma aula de psicologia....estão na merda do lugar errado, meus amigas! Mas se buscam o Despertar de Eva, aqui é a meca! Meu nome é Gretchen Klein.
- Ela é minha professora de psicanálise. - gritou Leah, não parecendo supresa.
- Isso não é tipo ilegal? - perguntou Shelby,
o choque presente em cada sílaba que saira de sua boca.
A amiga só deu de ombros, demonstrando desinteresse e voltou sua atenção para o epicentro da agitação.
- Sou eu que faço as regras e convoco as lutas. As apostas terminam assim que os oponentes estiverem no chão. Nada de encostar nos lutadores, nem ajudar, nem mudar a aposta no meio da luta, muito menos invadir o ringue. Se quebrarem essas regras, vocês serão esmagados, espantados e jogados para fora sem nenhum dinheiro! E isso vale para vocês também, meninas!
Shelby Goodkind havia prometido para Dot Campbell  ficar aberta a novas experiências logo que as garotas saíram do seu estado, - o ensolarado Texas - quase como fugitivas. Mas, naquele lugar imundo, enquanto sentia a necessidade urgente de agarrar o braço magro de Fatin Jadmani com ambas as mãos, Shelby reconsiderava sua prontidão em acatar a maldita promessa. Dot nunca a colocaria em perigo, mas estar em um porão com mais ou menos cinquenta universitários bêbados, sedentos por sangue e dinheiro......Bem, ela não estava exatamente confiante quantas ás chances de saírem dali ilesas.
- Nesta noite, temos uma nova desafiante! A lutadora de luta livre, Ava Thompson! - continuou a mestre de cerimônias.
Seguiram-se aplausos e gritos eufóricos da torcida. Fatin berrou tão alto que com certeza ficaria sem voz no dia seguinte. A multidão se partiu como um mar vermelho quando Ava entrou na sala. A garota com cabelos vermelhos e tatuagens por todo corpo passou ao lado das garotas, piscando com um sorriso sedutor para Fatin. Ela deu uns pulinhos no círculo que se formou no centro da multidão e girou o pescoço de um lado para o outro; o rosto sério e compenetrado indicavam que a ruiva não estava ali para perder.
- Nossa próxima lutadora dispensa apresentações, mas, como eu morro de medo dela, vou apresentar ela mesmo assim! Tremam nas bases, rapazes, e preparem seus corações meninas, porque ela com certeza vai quebrá-los! Com vocês, Toni Shalifoe!
Houve uma explosão de sons quando Toni apareceu do outro lado da sala, relaxada e confiante. Seus cabelos castanhos estavam presos em duas tranças embutidas e ela usava uma bermuda mesclada cinza com um top preto simples. Foi caminhando a passos largos até o centro do círculo, como se estivesse se apresentando para mais um dia de trabalho. Com os músculos firmes e discretos esticados sob a pele lisa, cumprimentou Ava, estendendo os punhos cerrados nos nós dos dedos da oponente. Toni se inclinou para frente e sussurrou algo no ouvido de Ava, que trincou a mandíbula imediatamente. As duas se encaravam. A expressão de Ava era assassina; Toni tinha um sorriso debochado, parecia achar um pouco de graça em tudo aquilo.
As adversárias deram uns passos para trás, e Gretchen fez um som que dava início à luta. Ava assumiu uma postura defensiva e Toni partiu para o ataque. Fiquei na ponta dos pés quando perdi a linha de visão, apoiando-me em quem quer que fosse para conseguir enxergar melhor o que estava acontecendo.
- Vamos chegar mais perto. - gritou Fatin, tendo a mesma dificuldade da loira de visualizar a luta.
A garota puxou Shelby junto a si, antes que Dot Campbell pudesse dizer que aquilo era uma péssima ideia. E realmente aquele parecia o combo perfeito para o desastre.
Cotovelos golpeavam as laterais do corpo das amigas, fazendo com que elas ricocheteassem de um lado para o outro, como uma bolinha de pinball. Shelby Goodkind já conseguia ver o topo da cabeça de Toni e Ava quando Fatin continuou abrindo caminho na base do empurrão. Um zilhão de sinais de alerta piscavam na cabeça da loira enquanto via Fatin empurrar homens com o dobro do seu tamanho.
Quando enfim conseguiram chegar lá na frente, Ava tinha agarrado Toni com seus braços musculosos e tentava jogá-la no chão. Quando ela se inclinou para fazer esse movimento, Toni deu uma joelhada no rosto de Ava. Antes que ela pudesse se recuperar, Toni a atacou - repetidas vezes, os punhos cerrados socavam o rosto ensanguentado de Ava.
Fatin fez uma expressão de dor, olhando para a cena com uma careta.
- É uma pena estragar esse rostinho lindo. - gritou, desviando rapidamente o olhar para a loira.
Cinco dedos se afundaram no braço de Fatin, fazendo a morena virar a cabeça com um olhar ameaçador.
- Porra! Vocês não me escutam? - gritou Dot, o rosto banhado de preocupação.
- Eu não conseguia ver nada lá atrás. - explicou.
E então as garotas se viraram bem a tempo de ver Ava tentar acertar Toni com um soco poderoso, ao que esta se virou. Ela revidou a tentativa, esmagando com o cotovelo o nariz da adversária. Gotas de sangue borrifaram no rosto de Shelby e se espalharam pela blusa branca que usava. Ava caiu no chão de cimento com um som oco, e, por um breve momento, a sala ficou totalmente em silêncio.
Gretchen jogou um quadrado de pano vermelho sobre o corpo caído de Ava, e a multidão explodiu. O dinheiro mudou de mãos novamente, e as expressões se dividiam entre orgulho e frustração.
Shelby foi empurrada com todo aquele movimento de gente indo e vindo. Dot gritou seu nome de algum lugar lá atrás, mas a loira estava hipnotizada pela trilha vermelha que ia do peito até sua cintura.
A garota foi empurrada novamente, mas mãos fortes e calejadas a seguraram pelo braço antes que ela caísse.
- Ei! Cuidado com ela! - Toni franziu a testa, enxotando qualquer um que chegasse perto da loira.
A expressão séria se derreteu em um sorriso provocador quando ela viu sua blusa.
- Desculpe por isso, princesa. Tenho certeza que sua empregada ficará feliz em limpar essa mancha. - debochou.
O sorriso de lado e sua pose de superioridade fizeram Shelby desejar socar o rosto bonito de Toni Shalifoe. Mas tendo visto do que ela era capaz no ringue, não se arriscaria a começar uma coisa que com certeza não conseguiria terminar. Embora Toni fosse alguns centímetros menor que a loira, sua postura altiva a faziam parecer maior.
Gretchen deu uns tapinhas na nuca de Toni.
- Vamos lá, esquentadinha. Tem uma galera esperando por você.
Os olhos dela não desviaram dos verdes de Shelby. Observando com humor a loira trincar o maxilar em desgosto.
Toni foi engolfada pelos fãs, desaparecendo da mesma maneira como tinha aparecido.
- No que você estava pensando, sua imbecil? - Leah surgiu em meio a multidão, discutindo com Fatin.
- Vim aqui para ver uma luta, não foi? - respondeu, sorrindo de lado.
Dot puxou Shelby pelo braço, analisando a loira a procura de qualquer dano. Ela suspirou quando percebeu que a amiga estava fisicamente ilesa.
- Sim, - continuou Leah, os olhos vidrados na morena. - mas você não precisa pular dentro do círculo para isso. E ainda arrastar Shelby junto!
A loira riu, se aproximando da culpada por sua blusa favorita estar manchada. Ela abraçou Fatin, que sorriu para a amiga e limpou seu rosto ainda sujo com o sangue de Ava.
- Você é um pé no saco, Fatin, mas eu amo você mesmo assim!